Um provérbio iugoslavo reza: “Diga a verdade e saia correndo”. Sim, dizer a verdade nua e crua é algo bastante perigoso. Inúmeros religiosos, políticos e cidadãos comuns por ousarem denunciar situações de injustiça contra ‘maiorais’ tornaram-se mártires. Palavras de denúncia versus Palavras de poderosos. Vozes foram caladas porque certas verdades são difíceis de serem digeridas – porque palavras desmascaram. Vozes são caladas porque as palavras tem poder. Cecília Meireles escreve sobre a potência fluída das palavras caracterizando-as como “vento” no seu belíssimo poema “Romanceiro da Inconfidência” quando diz:
Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai palavras,
sois o vento, ides no vento,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!
Palavras são brisa. Palavras são refrigério. Palavras são vendavais. Palavras criam. Palavras destroem. Palavras caracterizam. Palavras diminuem. Palavras ofendem. Palavras constroem personalidades. Palavras iludem. Palavras perdoam. Palavras geram intrigas. Palavras prendem. Palavras libertam. Palavras agregam. Palavras afastam. Palavras acalentam. Palavras expõem. Palavras dialogam. Palavras monologam. Pessoas vão à igrejas para ouvir da Palavra. Em todas as suas formas, faladas ou escritas, as ditas palavras tem muito poder.
Se de fato, soubéssemos do poder que nossas palavras têm, creio que viveríamos dois dilemas básicos na vida. O primeiro, seria viver em silêncio total e completo, porque se não sei usar uma “arma”, vou ficar longe dela. O segundo seria pensar e refletir muito (mas muito!) antes de abrir a boca. Não sabemos do poder das palavras têm ou preferimos esquecer disso para usá-las à reveria. Porque palavras tem sido desperdiçadas com inutilidades e futilidades que lembro-me de Søren Kierkegaard que dizia: “Se eu fosse ateu diria: Que Deus irônico! Criou o dom da palavra só para se divertir, vendo as pessoas se atrapalharem com ela”.
Deus criou o mundo pela sua palavra. Deus se revela mediante sua Palavra. É dela que nos nutrimos nos cultos, nos encontros e nos estudos bíblicos. A Palavra de Deus é viva, ela se faz corpo: E o Logos se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade (João 1.14). Jesus é a mais genuína Palavra de Deus. É essa Palavra-Humano-Divino que deve orientar o nosso falar e testemunhar.
Palavras são pedra de tropeço. Palavras são pontes. Palavras são parciais. Palavras são oportunidades. As palavras só têm sentido se nos ajudam a construir um mundo melhor. Portanto, se sua palavra edifica e é verdade, proclame-a em bom e alto som, mas não corra. Há que se ter coragem para arcar com as consequências do poder das palavras evocadas.