Vivemos, como cristandade, o início da Quaresma. Tempo em que rememoramos o que o Filho de Deus fez por nós em sua vida, paixão, morte e ressurreição. Nos próximos quarenta dias somos exortados a renunciar aos desejos pessoais, a olhar para vida de Cristo e aprender dele a praticar o amor que é eterno.
Amor! Palavra propagada aos quatro ventos. Vendida como a receita da felicidade pessoal, familiar e comunitária. Integra os mandamentos e os ensinamentos de todas as religiões, seitas e filosofias de vida. Usada para definir atração sexual e o desejo ardente entre casais. Verbalizada para expressar afeição, especialmente entre pais e filhos e também o sentimento entre avós, netos e bisnetos. Pichada, pintada, escrita, falada, praticada, testemunhada, enfim, o amor, pelos seus multiusos, parece ser a essência da vida humana.
Se assim é, por que tanta dor? Seres humanos aprisionados, torturando e matando. Vemos cenas de humilhação, desrespeito e injustiça. Ouvimos gritos de dor, indignação e revolta. Sentimos fome de pão e sede de justiça no Brasil e no mundo. O planeta geme, ora imerso em fogo, ora em água. Frente ao contexto descrito, uma pergunta não quer calar: Qual é o problema para tanta discrepância entre o que propagamos e o que vivemos?
A resposta está em Cristo. O seu amor pela humanidade e a criação não é sentimento, mas comportamento. Sentimento e comportamento, nestas palavras está a chave para descobrir se o nosso amor é eterno ou não. O sentimento é expresso por palavras. O comportamento, por sua vez é ação, relação. O amor não é só palavra, mas é convívio. Significa doar-se um ao outro. Jesus doou-se integralmente por nós. Não só pensou em nossa salvação, mas salvou-nos, de fato, na cruz.
Diante desta definição de amor, revela-se o porquê de tanta dor. O amor moderno se resume, basicamente em sentimento sem comprometimento. A Quaresma é um bom começo para a reconciliação. É tempo de renegar o amor sentimental, interesseiro, manipulador e descomprometido. Penitenciar-se diante Deus, do próximo e da criação é um bom começo para a reconciliação. Voltar-se a Deus e ao próximo. A Deus como o Criador de tudo e todos e, ao próximo, como irmão e irmã.
O amor de Cristo por nós deve ser a essência da pessoa, da família, da comunidade, da Igreja e da sociedade. Os sentimentos são passageiros. O comportamento, por sua vez, é resultante da experiência com Jesus e mostra que Ele é o nosso Senhor.
Eis que o nosso Senhor Jesus Cristo diz no Evangelho de João 13. 34; “Eu lhes dou este novo mandamento: amem uns aos outros. Assim como Eu os amei, amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus discípulos”.
Que assim possamos amar, pois esta forma de amar produz frutos eternos.
Mauri Magedanz – Pastor Sinodal do Sínodo da Amazônia