Hoje lembrei-me de uma situação diferente que vivemos há muitos anos. Morávamos ao lado da igreja e tínhamos um grande gramado à frente de nossa casa: o jardim da comunidade. Em certo momento apareceram novos moradores no pátio. Um casal de quero-queros. Logo tivemos o nascimento de dois filhotes. Era interessante observá-los crescer e também analisar como seus pais trabalhavam em equipe para cuidar deles. Nos primeiros dias da vida deles muita chuva caiu. Pensei que não iriam sobreviver, mas vi que para isso estavam preparados. Os pais estavam sempre prontos para aquecê-los e protegê-los embaixo de suas asas. E assim foram crescendo. Passaram por dias quentes e noites frias. Tudo certo.
Mas em certa manhã passaram por uma prova para a qual não foram preparados pela natureza: O corte da grama do pátio da igreja. E, para quem não conhece filhotes de quero-quero, sua defesa é abaixar-se e esperar o perigo passar. Nesse caso o perigo passaria por cima deles e os mataria. Tive que tomar uma decisão e intervir tirando os filhotes do local onde estavam no início da manhã, pois seria onde o corte começaria.
Levei os filhotes na mão até o outro lado da grama, onde estariam seguros. Os pais não entenderam logo o que aconteceu, estavam atacando a máquina de cortar grama. Quando voaram para longe pela primeira vez, talvez entendendo a morte dos pequenos, viram seus filhotes do outro lado do gramado. Pronto, família reunida de novo. Depois precisei esperar e ver o que ia acontecer quando o corte fosse feito no outro lado do gramado. Precisei intervir mais uma vez, mas tudo acabou bem no fim.
Esta é uma breve história de como podemos nos importar com criaturas pequenas e frágeis. Não faria tanta diferença a morte ou não dessas pequenas criaturas. Quem sabe até faça parte da natureza, mas algum sentimento faz com que nos importemos com elas aqui em casa. Que sentimento é esse? O entendimento de que nossa relação com o Pai é muito parecida com o relato acima. Nós somos pequenas criaturas, cuja morte ou vida poderiam simplesmente fazer parte do equilíbrio da natureza criada por Deus. Mas de alguma forma, e não é por que merecemos, Deus se ocupa de nós, nos protege e guarda.
Assim como constantemente olhávamos os pequeninos filhotes de nossa casa, Deus está constantemente voltando o seu olhar para a nossa vida, nos livrando de desastres eminentes. Mas principalmente, Deus nos livra do maior de todos os perigos. Deus nos livra do mal. Cristo já nos ensinou no Pai Nosso a pedir por isso: Livra-nos do mal. O mal é um inimigo para o qual não temos defesas, um inimigo que não compreendemos. Quando achamos que estamos mais seguros podemos estar a um passo de sermos aprisionados pelo mal. Não sabemos nos proteger contra essa ameaça.
Então Deus entra em cena e toma as rédeas da situação. Ele nos tira do lugar de perigo, mesmo a contragosto nosso. Deus sabe o que é mais seguro e enxerga os perigos pelos quais passamos. Ele está olhando por nós para guardar a nossa vida, guardá-la do mal. Lembramos também que nada fazemos para merecer essa proteção. Deus nos protege não por que somos dignos, mas por compaixão, por misericórdia. Aos olhos de Deus somos pequenos, frágeis e tolos. Não há como pagar tal proteção. Não há como devolver todo cuidado que Deus tem para conosco, mas Deus nos deu um pouco mais de entendimento do que deu aos animais. Esse entendimento faz compreender que só estamos vivos e livres do mal por que Deus está cuidando de nós.
Amém.
P. Jeferson Rusch
IECLB – Feliz/RS