Prédicas e Meditações



ID: 2931

Jonas 3.1-10 e 4.10-11

Prédica

18/05/2014

Igreja e Cidade

Missão na cidade: o que nós vimos, entendemos ou ignoramos?

Jonas 3.1-10 e 4.10-11

O profeta Jonas pregou a uma grande cidade de sua época. Esta cidade contava com mais de 120.000 pessoas que viviam em pecado, sem discernimento e desagradando a Deus. Jonas viveu na época do rei Jeroboão II, Rei de Israel. Em seu tempo também viveram no reino de Israel os profetas Oséias, Amós e Joel em outros lugares e cidades. Deus fez grandes coisas através de Jonas ao reino de Israel. Mas, também exigiu que ele fosse à distante cidade de Nínive, capital do Império Assírio, contra sua vontade, anunciar aos seus habitantes que depois de 40 dias a cidade seria destruída devido à sua maldade. Como outros profetas, Jonas relutou em aceitar esta missão. Sentiu-se só e humilhado com a mudança de planos e chegou a lamentar a salvação da cidade que ele havia profetizado.

O Deus que cremos e depositamos nossa vida é um Deus fiel e justo e a sua fidelidade dura para sempre. Ele não se cansa de buscar formas de levar os seus ao arrependimento, de chama-los à conversão e a mudança de vida. Ele usa seus profetas e servos para revelar seu amor ao mundo, mas também seu juízo e sua reprovação. Deus vê Jonas e o chama. Jonas foge da presença do Senhor. Ele se refugia em um barco e uma grande tempestade sobrevém. Então ele confessa o Senhor e a impossibilidade de se esconder Dele. Aceita o sacrifício de morrer pelos outros. Mas, Deus não aceita. Não é a morte que Deus quer. Deus manda um grande ventre para acolher o grande sofredor. Deus cuida as feridas, mágoas e tristezas de Jonas. Dá o tempo que ele precisa, mas não desiste dele.

Assim também Deus agiu com Jonas ele continua agindo hoje. Ele continua nos provendo um “grande ventre” para nos recuperarmos de nossas tristezas, lutos e frustrações. Ele nos fez humanos e muito frágeis. Necessitados de cuidados e de tempo para recompor-nos das mazelas da vida. Tempo pra chorar nossas mágoas e curar nossas feridas. Assim como os ferimentos físicos têm seu tempo e cuidado para sarar, muitas vezes, deixando uma cicatriz, assim também nossas feridas emocionais têm seu tempo e deixam suas marcas. Marcas que podem nos ensinar a sermos mais humildes e mais humanos, mais compreensivos e empáticos com o sofrimento do próximo.

Enfim, Jonas aceita a missão e vai pregar na cidade de Nínive, demonstrando ser um bom pregador, pois todos creem em suas palavras, se arrependem. Nínive se converte do seu mau caminho e as profecias não se cumprem. Imaginemos quão desolador não deve ter sido para Jonas. Se por lado ele comprova quão grande é o amor de Deus, por outro lado, sua pregação perde força e poder. Ele perde sua credibilidade. Desta vez ele “quer se deixar morrer”. Ele clama pela morte. Mas, Deus não aceita, por que Deus não quer a morte de Jonas, mas seu carisma e serviço. Jonas não fracassou, foi vitorioso, por que a vitória pertence a Deus e não aos nossos projetos.

Deus declara seu amor à cidade de Nínive. E a declaração de amor de Deus por Nínive é grande, é linda, é cheia de ternura e de cuidado. “Tornou o Senhor: tens compaixão de uma planta que não custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que numa noite cresce e na outra pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais?” É de um Deus que se arrepende do mal – de um Deus humano. É um Deus mãe que se derrete por seus filhos e filhas. É um Deus amoroso, clemente, misericordioso, bondoso e tardio em ira-se (4.2.) – sentimental. O Deus que ama todas as cidades e seus cidadãos de tantos textos bíblicos que podemos explorar. Mas, ele não ama apenas Nínive e as cidades bíblicas, ele ama São Paulo, Amsterdã, Berlin, Nova Déli, Montevidéu, Rio de Janeiro... e todas as demais assoladas pela dor e a exploração. Ele ama e se revela no caos diário onde irmãos temem irmão e precisam sobreviver. Ele se faz presente no empurra empurra da urbanidade.

Eu creio que o Deus que se revelou, através de Jonas, à Nínive e continua revelando-se ainda hoje às nossas cidades:

Revela-se nas tragédias da chuva que cai sem pedir licença, enchendo bueiros, destruindo os lares, ceifando vidas e minando a esperança; revela-se na vida abreviada de mulheres violentadas por seus patrões, amados ou transeuntes desconhecidos; nas crianças abandonadas por aqueles que nem sabem o que é pertença e amor. Por órfãos que produzem órfãos, dor e abandono.

Revela-se nas vidas recuperadas de formas incontáveis, porque nem tudo é desespero; se revela na loucura da rua que permite transitar o mendigo, o turista e o abastado na mesma via, às vezes em paz, outras nem tanto. Por que todos querem viver...Alguns mais perdidos...Outros menos achados...Todos com sonhos e pesadelos. Todos com medos e desesperos. Todos donos de um coração cheio de amor para dar e para receber. Todos clamando por vida, por protagonismo, por dignidade, por Deus. Todos procurando uma ajuda social, um anjo da guarda e um milagre.
Todos esperando o ventre de um peixe para se esconder e se proteger. Para se recuperar e sarar as feridas. Quantas vezes precisei e pude contar com “um ventre” acolhedor que permitiu que eu chorasse, que eu me recolhesse para lamentar sobre meus fracassos e minha impotência. Quantas vezes recebi das mãos de Deus o tempo que precisei para curar minhas feridas e fazer as pazes com Ele. Eu recebi esse tempo e desfrutei dele. Não mais do que de repente estava em pé, servindo com amor, novamente. Esse é o Deus que eu anuncio à cidade: O Deus que me amou e compreendeu e que continua amando e compreendendo a cada um. Um Deus grande em misericórdia.

Todos esperamos a revelação do Deus que ama a cidade e seu povo. E somente Ele poderá fazer o milagre do amor brotar aqui e acolá até contagiar e iluminar os becos escuros. Eu creio que esse milagre é possível. Por que Deus ama a cidade e não a abandona. Ele sabe que ela é pecadora: Ela produz o pecado da violência contra mulheres e crianças sem precedentes. O pecado da solidão e da perdição. Ela produz o pecado do egoísmo, do medo da partilha espontânea forçada no roubo despudorado dos pobres. Ela, com sua correria insana, não permite o desfrutar da pouca sombra sob as poucas árvores da selva de pedras, do aglomerado de gentes e de sonhos.

Mas, Ele manda seus profetas profetizarem, sob o risco de caírem em desgraça, devido ao amor fiel de Deus. Por que Deus não quer a morte e nem a ruína da cidade. Deus ama cidade e quer ela convertida e transformada em um espaço de satisfação, de oportunidades, de encontros, de trocas e de solidariedade, do anúncio do Evangelho e da certeza de que vida pode viver em comunhão. Deus amou a tal ponto as cidades que deu seu filho Jesus Cristo para redimi-las e salvá-las. Jesus, em seu ministério, não apenas andou nas aldeias e cidades, mas amou as aldeias e as cidades. Quando a cidade e a aglomeração de pessoas lhe exauriam as forças, ele se recolhia para recobrá-las e voltava a caminhar e a revelar o seu amor.

Nós somos seus profetas. Profetas que não podem ignorar sua vocação, sua missão e sua Igreja na cidade. Somos chamados a anunciar a universalidade do amor de Deus experimentado pelos habitantes de Nínive que Jonas não conseguia entender. A IECLB, com o tema do ano de 2014 e ao escolher tantas palavras com tão profundo significado, reafirma seu compromisso e seu amor com a cidade. Ela também nos dá dicas de que a paz pode florescer na cidade, inclusive preferencialmente, por que ela vive em guerra e por isso o olhar de Deus pousa amorosamente sobre a cidade. Deus continua amando a cidade e continua querendo revelar seu amor fiel e universal através de VIDAS EM COMUNHÃO que necessitam de: civilidade – paz - democracia - cuidado – liberdade – diversidade - presença – diaconia – ecumenismo - Fé – vínculo – harmonia – gratidão - respeito – esperança – diálogo e partilha.

Amar e orar pela cidade, assim como o profeta Isaías nos exorta: Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor, por que na sua paz tereis paz. Jeremias 29.7 Amém!

Vera Maria Immich
Teóloga e Pastora na Pastoral e Comunidade da Consolação – CELC-UP – Curitiba – Pr.
Psicóloga CRP 08/15605
 


Autor(a): Vera Maria Immich
Âmbito: IECLB
Área: Campanhas / Nível: Tema do Ano
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Antigo / Livro: Jonas
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 28320

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