Prédicas e Meditações



ID: 2931

Jesus, nossa segurança - Hebreus 4.12-16

A eficácia da palavra de Deus, A segurança da revelação de Deus e A misericórdia de Deus.

10/10/2021


Hebreus 4.12-16

12 Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração.

13 Nada, em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus. Tudo está descoberto e exposto diante dos olhos daquele a quem havemos de prestar contas.

14 Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos com toda a firmeza à fé que professamos,

15 pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado.

16 Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade.


Jesus, nossa segurança
Já tive o privilégio de pregar algumas vezes sobre este texto que acabamos de ler. Mas sempre os cortes dos versículos separavam os ensinos aqui descritos. Sim, porque a carta aos Hebreus mistura prédica e exortação. É a primeira vez, pelo que me lembro, que temos somadas as ideias da autoridade da palavra de Deus e a graça que nos é revelada pelo sumo sacerdote Jesus. Estou curioso para ver no que esta junção vai nos oferecer.

 

A eficácia da palavra de Deus,

A segurança da revelação de Deus e

A misericórdia de Deus.


1. A eficácia da palavra de Deus.
Os dois primeiros atributos da palavra de Deus dão uma perspectiva clara sobre a razão de sua existência: viva e eficaz. Viva porque é dinâmica, não para no tempo. No grego é usada a palavra enérgeia que nem precisamos traduzir. Este conceito é essencial para o povo cristão porque descreve a ligação entre o AT e o NT. O Deus que age no primeiro testamento é o mesmo que age no segundo, isso porque em ambos age o Espírito Santo. Por ser viva, a palavra causa o efeito pretendido desde o início. É eficaz. A fonte deste energia construtiva é o próprio Jesus Cristo, “o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas” (Fp 3.21).


Referindo-se novamente ao texto sagrado da carta aos Hebreus, o autor diz que a palavra de Deus é afiada — a compara à espada — a ponto de separar alma de espírito. Você consegue imaginar isso? Paulo já escrevia da espada da Palavra que faz parte da armadura da pessoa cristã, não é mesmo? Também o profeta Isaías, no AT, provavelmente referindo-se ao Messias, diz “Ele [Deus] fez de minha boca uma espada afiada…” (Is 49.2a).


A eficácia da palavra viva está justamente em adentrar-se em todas as demandas da humanidade, trazendo a orientação de Deus para todas as áreas da vida. A palavra de Deus tem a autoridade de exigir o nosso posicionamento tanto no mundo material quanto imaterial. Poderíamos escrever um longo tratado sobre estes conceitos de alma e espírito que a palavra de Deus diz dividir, tanto quanto juntas e medulas além dos pensamentos e os projetos que são fundidos no segredo do nosso coração. Nada escapa do conhecimento de Deus. A criação aqui referida, segundo o original, significa a totalidade daquilo que Deus fez bem como as particularidades na vida de cada criação. Ou seja, o macro e o micro são do conhecimento de Deus e estão debaixo da ação viva e eficaz de Sua Palavra. Por isso, observa, de tudo deveremos prestar contas a Deus. Nada escapa do seu olhar e juízo.


2. A segurança da revelação de Deus
Tudo o que sabemos a respeito de Deus é fruto do que nos foi revelado pelas Escrituras, respectivamente, pelo Espírito Santo. Tudo o que sabemos do Jesus histórico nos é revelado pelos Evangelhos e pelos apóstolos (claro, podemos também considerar as descobertas aqueológicas!). Mas, quem é Jesus? O Jesus Redentor, Salvador, Senhor, quem é?


O autor desta carta compara Jesus a um sacerdote. O “grande sumo sacerdote”. A figura do sacerdote surge no Êxodo. Como já vimos na pregação sobre o texto de Números, há duas semanas, Moisés recebeu no Sinai orientações de Deus para a condução e estruturação social de um povo que havia sido escravo por 400 anos. O povo de difícil condução precisava o perdão de seus pecados e um reordenamento de conduta. Para isto o sacerdote providenciava complexas celebrações de sacrifícios de animais sobre o altar. Sem sacrifício de sangue não havia sacerdote bem como sem sacerdote não haveria sacrifícios. Desta forma o sacerdote era o elo de ligação entre Deus e o povo. O sacerdote não está acima, mas ao lado do povo e tampouco era um juíz.


O conturbado relacionamento entre o Criador e suas criaturas continuava. E aqui está a motivação do ensino do autor desta carta: mostrar o “grande sumo sacerdote”, eleito, capacitado e investido por Deus, na obra perfeita — Jesus Cristo. Jesus Cristo é chamado, desde sua concepção, eleito e capacitado por Deus para ser o elo de ligação entre Deus e Sua criação.


O “grande sumo sacerdote”, que podemos, pela fé, chamar de nosso, não indica apenas para uma ligação. “Ele pessoalmente sobe, atravessa o limite entre céu e terra, para estar pessoalmente intercedendo por nós junto ao Pai (Hb 4.14)” (Rieck, Rolf. Sopro do Espírito, p.169, 1993, E.Encontrão).
Jesus, continua o autor, entende nossas fraquezas. Nisto está nossa segurança. E mais: não sucumbiu às fraquezas e tentações, não pecou, antes manteve-se firme.


Escreveu o P. Walter Dörr:
“Reflita comigo: e se Jesus não tivesse resistido a Satanás? (1) Ele se teria tornado o ‘rei-do-pão’ (Jo 6.15), o político festejado, o homem da cesta básica [ou do auxílio emergencial] (…) (2) Em vez de morrer na cruz, Jesus teria dominado “todos os reinos” (Lc 4.6), mas contra a vontade de Deus! Seria pior que Nabucodonosor, Nero, Napoleão, Hitler, Stalin, ditadores crueis. (3) Ele teria usado todo poder sobrenatural para a auto-exaltação, para ser adorado e obter cada vez mais fama, seria o próprio anticristo”. (Dörr, Walter in: Orando em Família, 1999, p.50, E.Encontrão.)


Por ter permanecido fiel ao seu mandato e fiel ao Pai, temos segurança de que nosso pecado está perdoado e, portanto, estamos livres para viver e agir como filhas e filhos de Deus.


3. A misericórdia de Deus.
Se o começo de uma vida pautada pela boa condução de todas as coisas está na observância da palavra de Deus, desta palavra viva e eficaz que faz distinção até entre as coisas mais ocultas e incompreensíveis; se o meio desta compreensão é a segurança que todos podemos ter em Cristo Jesus, o nosso “grande sumo sacerdote”, então nada mais lógico que nos deixarmos descansar na graça misericordiosa de Deus.


Exatamente este fato deve nos encher de alegria e gratidão. Por isso podemos chegar com confiança ao trono da graça, o trono de Deus. Tudo graças ao GRANDE SUMO SACERDOTE. (…) O que torna Jesus especial é que, em sua humanidade, soube recorrer ao único capaz de lhe dar vida após sua morte sacrificial. (…) Isto particulariza toda ação sacrificial de Jesus Cristo: o fez em total obediência ao Pai, sem um único momento de deslize ou desobediência. Em tudo aprendeu a obediência, inclusive no sofrimento”. (Rieck, ib idem, p.170-1)


Implicações


Há quase 40 anos venho pregando quase todos os domingos em nossa IECLB. Neste tempo todo as mesmas questões continuam se repetindo: fome, violência, corrupção, injustiça. É quase um mantra que se repete ininterruptamente. Há ganhos e perdas na qualidade de vida de nossa sociedade e há ganhos e perdas na caminhada de fé de pessoas batizadas em nossa Igreja. Bem poucas pessoas batizadas se tornam ativas na comunidade de fé porque, muitas vezes, levam para casa apenas a mensagem da graça porque não lhes é ensinada a lei, que anda colada à graça.


Queridas e queridos, não tem jeitinho: Jesus “quer que agora nós lhe prestemos obediência. Isso porque Jesus não é um sumo sacerdote limitado (…) requer nossa obediência, tornando-se assim o autor de nossa salvação eterna. A salvação não é apenas cósmica, mas também social e individual” (Rieck, ib idem, p.171).


É urgentemente necessário que, em nosso âmbito de ação familiar, social, política e existencial os sinais claros da Palavra sejam colocados, por ser viva e eficaz. Que a segurança do perdão, de reconciliação e da transformação sejam creditados à ação salvífica de Cristo Jesus. É também urgente que a misericórdia de Deus seja vivida, uma vez que misericórdia é o ato de se identificar com as dores e necessidades da outra pessoa. Recebemos misericórida de Deus para entregarmos misericórida ao nosso próximo.


Senhor, entrego minha vida a ti e ajuda-me a ser!
Amém!
 

Endereço da pregação: https://www.youtube.com/watch?v=i6oyMd0yfPo


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Hebreus / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 12 / Versículo Final: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 64724

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