Prédicas e Meditações



ID: 2931

Fim do mundo ou o fim de um ciclo de vida?

18/11/2018

Marcos 13.1-8
Prezada Comunidade,
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No séc. XIV (no ano de 1.300), a peste negra devastou a Europa. Estima-se que 200 milhões de pessoas morreram. Hoje sabemos a doença é transmitida pelas pulgas dos ratos que vinham nos navios que faziam o comércio com o Oriente. A Europa daquele tempo era um lugar com precaríssimas condições de higiene. Hoje sabemos que essas doenças podem ser evitadas com saneamento básico, com água limpa e esgoto tratados. Naquele tempo, não se sabia nada disso e diante de tantas mortes surgiu o boato (fake news) que a peste era um castigo de Deus por causa das mulheres parteiras e curandeiras que foram chamadas de feiticeiras. E assim começou a caça às bruxas.

Em 12.01.2010, um terremoto arrasou Porto Príncipe, a capital do Haiti, o país mais pobre das Américas. Mais de 250 mil mortos. Muitos corpos não puderam ser resgatados debaixo dos destroços. As igrejas fundamentalistas dos Estados Unidos e América Latina disseram que o terremoto devastador foi um castigo de Deus por causa da idolatria do povo haitiano, que ainda cultivam muitas religiões africanas, em especial o vodu.

Quando falamos sobre catástrofes, muitas pessoas dizem que estamos chegando ao fim do mundo. Muitas vezes essas pessoas lembram os textos do livro de Daniel e do Apocalipse, ao lado desse texto bíblico de Marcos 13 para dizer que o que está acontecendo já é parte dos sinais do fim dos tempos e que resta pouco tempo para esse mundo se acabar. Logo Deus virá para a terra, para destruir tudo. As estrelas vão cair do céu, sol e lua irão escurecer.
Mas, Jesus nunca falou do fim do mundo desse jeito. Para Jesus mais importante do que anunciar o fim do mundo como catástrofe era falar do efeito libertador da presença de Deus. A presença de Deus vai castigar a maldade e transformar todas as coisas para melhor.

Portanto, o fim do mundo na Bíblia significa o fim de um tipo de mundo. O mundo de injustiças, de mentiras, em que pessoas da mesma família, onde um irmão denuncia o outro, onde pessoas da mesma igreja e do mesmo país começam a odiar uns aos outros por suas convicções políticas, esse mundo que perdeu os valores como solidariedade, como justiça, como amizade, como alegria, como compaixão, esse mundo sim Deus vai destruir. Não ficará um apedra em cima da outra. Esse mundo será destruído por Deus. A maldade humana, que muitas vezes se julga vitoriosa e vencedora, será destruída por Deus. O dia do juízo final será um dia de desespero para a maioria das pessoas, mas será um dia de bênção para os que permaneceram fiéis a Deus. Com isso cada um de nós deve auto-avaliar-se. No dia do juízo meu mundo, os valores que cultivei em minha vida, vão receber a aprovação de Deus ou sua condenação?

Nos anos em que convivi com os povos indígenas no Equador, eu aprendi que eles têm uma concepção muito parecida aos ensinamentos de Jesus sobre essas questões relacionadas ao fim. Para os povos indígenas dos Andes, a vida é constituída de ciclos. Um ciclo se fecha e o outro se abre. A grande sabedoria da vida está em compreender as falhas do ciclo anterior e não repetir esses equívocos no próximo ciclo. Um novo ciclo traz a possibilidade de deixar para trás as coisas ruins e recomeçar um novo ciclo com uma melhor experiência de vida. Portanto, um novo ciclo é a possibilidade de fazer mudanças, de começar uma vida melhor. E isso faz com que a vida seja possível e que tenha continuidade.

Mas essa mudança de vida não acontece automaticamente. A oportunidade de melhorar está aí, mas cada pessoa precisa decidir se quer mudar de vida ou não. Por isso, é preciso auto-avaliar a nossa vida à luz da Palavra de Deus. Depois é preciso arrependimento e disposição para mudar. Tem gente que carrega as coisas ruins de sua vida todo o tempo. Não é capaz de deixar nada para trás. Arrasta as mágoas como quem arrastra uma pesada pedra. Quem não se adapta, quem não consegue mudar, quem não consegue deixar nada para trás, esse morre mais rápido.

Portanto, a sabedoria dos povos indigenas tem muito a ver com a mensagem de Jesus. O fim de um ciclo, o fim de uma fase da vida é a possibilidade de avaliar nossa conduta até aqui, aprender com os acertos e com os erros do passado, arrepender-se e entrar num novo ciclo – sem repetir os equivocos do ciclo anterior.

Os Evangelhos nos falam de Jesus que vem ao encontro do ser humano para transformar a vida das pessoas. Jesus não veio para assustar ninguém com catástrofes sobre o fim do mundo. Ele veio para falar e mostrar que Deus é amor, é misericórdia, é perdão, é possibilidade de recomeços, de uma vida melhor a cada dia. O fim de nosso mundo não precisa ser a morte ou a destruição de tudo. O fim pode ser apenas o fim de um ciclo e o começo de um novo ciclo de vida.

Portanto, as Palavras do Evangelho de hoje nos alertam sobre necessidade de fazer mudanças em nossas vidas. É verdade que fazer mudanças, normalmente nos enchem de angústia e de medo diante do novo. Tem gente que viveu muitos anos sempre saudável, e de repente descobre que tem uma doença que precisa de tratamento e isso vai mudar a sua vida daqui para frente. Tem gente que tinha uma vida financeira e laboral estável, e de repente perde o emprego e precisa reorganizar seus hábitos de consumo. Tem gente que viveu uma vida amorosa complicada, mas agora que acabou não sabe como seguir adiante sozinho.

Mudanças fazem parte da vida de todos nós. A vida está em constante mudança. Mas não podemos mudar para pior. Por isso, mudar não significa acompanhar a onda do momento. Mas significa apoiar-se nos valores do Evangelho que são a solidariedade, a justiça, a amizade, a alegria, a compaixão, o perdão. Mudar para incluir esses valores em nossa vida. Crer em Deus, significa confiar que Deus dirige nossos passos e nos apresenta sempre a possibilidade de mudar para melhor.

A mensagem de Jesus diante das mudanças necessárias para a continuidade da vida quer dar-nos a segurança que o nosso tempo (chronos) e tudo o que fazemos dentro dele está condicionado, inserido dentro de um tempo maior e soberano que é o tempo de Deus (kairós). Como pessoas cristãs precisamos reconhecer que este tempo de Deus já se iniciou quando Jesus veio ao mundo e tocou a terra. Portanto, deixemos nos orientar pela vontade de Deus, busquemos a orientação de Deus através da oração e assumamos o projeto e os ensinamentos de Jesus como o nosso projeto de vida. 
Mudanças são necessárias. Se corrigimos nossos equívocos do ciclo anterior e se assumirmos o projeto e os ensinamentos de Jesus – Essa é a vontade de Deus para cada um de nós.

Diz o apóstolo Paulo em 2Cor 6.2:
Escutem! Este é o tempo em que Deus mostra a sua bondade! Hoje é o dia de ser salvo.
Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 50007
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