Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12.1-2)
Vivemos numa época de muitas inconformidades, estas não se limitam apenas a situação política da qual enfrenta nosso país e toda a corrupção, com novas descobertas quase que a cada dia. Há pessoas insatisfeitas com o seu patrão, com seu emprego, com sua condição financeira, sua saúde e, poderíamos dizer, até com sua religião.
A expressão “não vos conformeis”, parece reforçar ainda mais nossas revoltas e inconformidades. Com isso, acabamos cada vez mais nos tornando pessoas inconformadas. Qualquer coisa que nos desagrade, por menor que seja, passa a ser motivo para uma inconformidade.
Mas o texto de Paulo não nos induz a uma inconformidade de cruzar os braços e achar que nada mais precisamos fazer. Quando o apóstolo expressa: transformai-vos pela renovação da vossa mente, ele fala de duas ações. A transformação e a renovação da mente, ou seja, mudança, reforma...
A capacidade para isso não está em nós mesmos, mas na Palavra e na comunhão com Deus. Somente quando ouvimos e experimentamos a presença de Deus em nossa vida conseguimos orientação e forças para as transformações e renovações que se fazem necessárias. Neste sentido, a expressão não vos conformeis está ligada diretamente com a renovação da vossa mente.
Daqui a um ano estaremos celebrando os 500 anos da Reforma Luterana. Para muitas pessoas, Martim Lutero foi aquele que não se conformou com seu século, ou seja, com as coisas erradas de seu tempo. Mas antes de se dispor a “comprar a briga por uma Reforma na Igreja”, ele passou por uma transformação e renovação de sua mente. Quem conhece sua história pode concluir isso.
Foi lançado no ultimo Concílio Geral, o tema da IECLB para 2017, ano do jubileu: Alegres jubilai! Igreja sempre em Reforma: Agora são outros 500. Este tema nos faz olhar para todas as bênçãos de Deus pelas quais, como Igreja, temos experimentado e vivenciado até agora. Mas também busca nos conscientizar de que não estamos prontos, não somos perfeitos. Como já dizia Lutero em sua época “a Igreja precisa estar em constante reforma”.
Por tanto, neste ano que caminhamos rumo à celebração dos 500 anos da Reforma, somos chamados a nos perguntar: Como fomos como Igreja no passado? Que Igreja somos hoje? Que Igreja queremos ser? Estas perguntas são norteadoras e, de certa forma, aparecem no Planejamento Estratégico Missionário da IECLB.
Então precisamos refletir em como serão os “outros quinhentos”? Quais são os nossos desafios? Como podemos nos contextualizar sem perder nossa identidade bíblico-confessional? O tempo não para! O mundo rapidamente se evolui! Como nós estamos acompanhando tudo isso?
Sempre defendi que os Temas e Lemas do ano não deveriam apenas ser trabalhados no ano a que se propõe. Estes deveriam ser para nós, lançamentos de ações que passam a fazer parte de uma nova história, de uma nova forma de refletir e agir das comunidades em meio à sociedade onde estão inseridos e a sua realidade. Assim, nos “outros quinhentos” estes temas deveriam sempre de novo estar presente de forma viva em nossas comunidades, mas, sobretudo, em nossa mente e coração.
Que possamos juntos escrever “outros quinhentos”, mas com a convicção sobre quem somos e no que cremos, sem perder nossa identidade e o legado que nossa história nos traz, mas também, nos contextualizando e estando dispostos a “quebrar muros, paredes, a trocar portas e janelas” e toda a mudança que uma reforma exige, assim como fez a Reforma promovida por Lutero e que nos deixa marcas visíveis até hoje, contribuindo assim para um cristianismo mais fiel às Escrituras e não a conceitos, filosofias, costumes, ideologias e tradições humanas.
Não nos conformemos com este século, com este momento em que vivemos com todas as suas muitas e diferentes mazelas, mas antes, nos deixemos transformar a partir da pura Palavra de Deus e pelo agir transformador do Espírito Santo. Que a constante reforma inicie sempre em nós, para que depois, a partir de nós seja realizada. Amém.