Eu não sou perfeito. Tenho minhas manias. Confesso que estranho algumas situações e tenho barreiras com certas pessoas. Todavia, preciso levar em conta de que, ano a ano, estou conseguindo vencer alguns preconceitos. Devagar, mas sempre adiante. Jesus é meu mestre. Graças a Deus! Aliás, quanto mais estudo os evangelhos, mais percebo o quanto ainda preciso mudar e crescer. Jesus acolhia a todos indistintamente. Ele conversava, esclarecendo com dedicação e paciência os seus colaboradores. Mas, também dialogava, cara a cara, com aqueles que eram seus “inimigos” declarados, os quais desejavam sua morte. Ele sentava para trocar ideias com doutores e também contava história às crianças. Atendia aos saudáveis e aos doentes, não importando se era gente inteligente ou demente. O perfeito e o deficiente tinham o mesmo espaço diante dele. O idoso e o jovem, o rico e pobre, o cheio de fé e o de pouca fé, o homem e a mulher. A discriminação e o preconceito sempre existiram e sempre estarão presentes, sendo um desafio constante superá-lo.
Observando os contatos que Jesus teve na sua época, percebemos que não é diferente na igreja atual. Mesmo sob a bandeira de Cristo, carregamos muitos preconceitos. Fora da igreja não é diferente, seja nos contatos com quem nos cerca em casa, seja no trabalho ou na rua. Na escola até criaram uma expressão: Bullings! Será que precisamos vencer barreiras e crescer mais? Será que os nossos olhos e coração precisam se abrir mais? Aonde falta o amor? É evidente que o Evangelho não cria barreiras, mas constrói pontes. Eu observo Jesus perdoando os soldados que lhe agrediam. Eu aprendo com Jesus quando, à beira da morte, dá atenção aos criminosos na cruz. São lições de humildade, perdão e amor. Observar como Jesus agiu deveria ser algo constante na vida cristã. Jamais estamos prontos, mas sempre crescendo. É uma caminhada.
Então, ouçam o que diz o evangelista: “Em casa, Jesus interrogou aos discípulos: O que vocês estavam conversando no caminho? Eles ficaram quietos, pois estavam discutindo entre si sobre quem era o mais importante. Assentando-se, Jesus chamou os doze e disse: Se alguém quiser ser o primeiro, será o último e servo de todos. Em seguida, pegou uma criança nos braços. Continuou: Qualquer que receber uma criança tal como está em meu nome a mim me recebe. Qualquer que a mim me receber recebe também ao que me enviou (Marcos 9.33-37).
A mesma conversa de Jesus com seus discípulos é citada pelos evangelistas Mateus e Lucas com alguns detalhes diferentes. Jesus percebe um certo desentendimento entre os seus seguidores. Em casa, questiona-os. Lucas deixa claro que Jesus conhecia o pensamento deles. Creio que também percebe quando nos falta a paz ou estamos em crise. Só ele é capaz de mudar o nosso coração, fazendo-nos agir de modo diferente. Mateus cita que eles colocaram diante de Cristo a questão de quem seria o maior ou melhor dentre eles. Quem manda em quem? Quem obedece a quem? Aliás, querer mandar é um desejo bem humano, o qual praticamente todos têm. Ou não? Querer ser melhor e se gabar é outra realidade comum. Ou não? São atitudes que mostram tanto nossa busca por afirmação, quanto a nossa infantilidade. Para complicar, logo em seguida, Jesus nos desafia à maturidade, insistido que sejamos “como” uma criança, não pelas atitudes infantis. Antes, uma entrega apaixonada.
Porém, antes de citar a “criança”, Jesus esclarece que, para ser o maioral no Reino, é preciso servir. É uma regra que vai na contramão de todo desejo humano. Queremos ser servidos. Jesus nos desafia ao serviço. Ele mesmo encarna o exemplo de servo. Ele estava junto na criação do mundo, bem como estará no julgamento final de tudo e de todos. Todavia, submete-se, assumindo a natureza humana, sendo desprezado e sofrendo morte cruel em benefício dos outros. Ele não procurou a sua glória. Antes, procurou servir ao Pai. Para esclarecer que tipo de serviço Deus deseja aos seus amados, Jesus coloca em seu colo uma criança.
Não era costume um homem – muito menos um Mestre - conversar com uma mulher. Jesus tomou tal atitude inúmeras vezes sem vergonha e sem preconceito. Tratando-as de igual para igual. Menos provável ainda era uma aproximação e diálogo com uma criança. Então, para radicalizar a sua lição, ele abraça a criança, puxando-a para o meio da conversa. Mateus cita que Jesus pediu aos discípulos que se “convertessem”. Ou seja, é necessária uma mudança radical. Ser acolhido por Deus é experimentar o gosto da salvação e, ao mesmo tempo, colocar-se à disposição para acolher e ajudar aos menos favorecido. Noutras palavras, não basta abandonar os preconceitos, é preciso favorecer aos que são rejeitados.
Servir em amor é o desafio do Evangelho. Jesus não perde sua radicalidade. Ele desafia aos seguidores para uma mudança de mente e de coração. Ser acolhido. Ser acolhedor. Da mesma forma que sou amado pelo Pai, amar ao outro. Em especial, dedicar atenção àqueles que estão à margem da sociedade. Em suma, a prática do Evangelho é capaz de mudar toda a sociedade. Mas, começa dentro do nosso coração, tornando-se perceptível nas palavras e atitudes. O primeiro campo na prática do serviço é a própra comunidade na fé. Aqui, onde Deus me colocou, posso exercitar o amor de Deus. O Evangelho me atinge e muda a minha vida. Amém!
Linda é a Vida! Cartola compôs em 1974 a bela canção “Corra e Olhe o Céu”...