Prédicas e Meditações



ID: 2931

Dinheiro e Evangelho

É justo transformar uma dívida de cem potes de azeite em cinquenta?

22/09/2019

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Prezi Lucas 16
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NVI Lucas 16.1-13 -- 1 Jesus disse aos seus discípulos: “O administrador de um homem rico foi acusado de estar desperdiçando os seus bens. 2 Então ele o chamou e lhe perguntou: ‘Que é isso que estou ouvindo a seu respeito? Preste contas da sua administração, porque você não pode continuar sendo o administrador’. 3 “O administrador disse a si mesmo: ‘Meu senhor está me despedindo. Que farei? Para cavar não tenho força, e tenho vergonha de mendigar... 4 Já sei o que vou fazer para que, quando perder o meu emprego aqui, as pessoas me recebam em suas casas’. 5 “Então chamou cada um dos devedores do seu senhor. Perguntou ao primeiro: ‘Quanto você deve ao meu senhor?’ 6 ‘Cem potes de azeite’, respondeu ele. “O administrador lhe disse: ‘Tome a sua conta, sente-se depressa e escreva cinquenta’. 7 “A seguir ele perguntou ao segundo: ‘E você, quanto deve?’ ‘Cem tonéis de trigo’, respondeu ele. “Ele lhe disse: ‘Tome a sua conta e escreva oitenta’. 8 “O senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu astutamente. Pois os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz. 9 Por isso, eu lhes digo: Usem a riqueza deste mundo ímpio para ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas. 10 “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito. 11 Assim, se vocês não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem lhes confiará as verdadeiras riquezas? 12 E se vocês não forem dignos de confiança em relação ao que é dos outros, quem lhes dará o que é de vocês? 13 “Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará outro, ou se dedicará a um e desprezará outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”.

Dinheiro e Evangelho !

Dentro do contexto da corrupção deslavada que vivemos – embora alguns falem da sensaçào de que está diminuindo – confesso que foi e está sendo um dos textos bíblicos mais difíceis de decifrar e trazer como um apelo por mudanças e justiça. Some-se a isso o “agravante” de que é palavra de Jesus, mesmo que a parábola seja material exclusivo de Lucas, com exceção do versículo 13 || paralelo em Mt 6.24.

Outro fator que comprova esta dificuldade são os títulos dados a esta parábola em diferentes versões bíblicas:
A parábola do administrador infiel.
Parábola do administrador.
O administrador prudente.
A parábola do administrador astuto.
Faça amigos com a sua riqueza.

(Isto nos dá uma prova de que não devemos simplesmente seguir títulos. Eles não são texto bíblicos.)
Eu mesmo dei o meu título: Dinheiro e justiça social. E trabalho com a suspeita de que Jesus até poderia estar motivando a corrupção, a desonestidade ou a incompetência. É esta a conclusão que se chega numa primeira leitura rápida do texto.

O dinheiro requer bom uso
Jesus está contando parábolas. Algumas são dirigidas aos fariseus e outras aos discípulos, embora ambos quase sempre andassem lado a lado. No capítulo anterior fala do Filho pródigo (o grupo de estudo bíblico estudou este tema nesta manhã) que de pródigo mesmo teve apenas a capacidade fazer uma gastança de dinheiro. Pródigo foi o bondoso pai em recebê-lo de volta.

Pode haver, sim, um bom uso da riqueza. Jesus ilustrou o mau e o bom uso da riqueza com a parábola do administrador astuto, aquele que falsificou as promissórias, baixando seus valores, para fazer amigos de última hora que poderiam lhe acolher caso perdesse o emprego. Foi uma manobra astuta uma vez que grandes somas de dinheiro estão aqui em jogo. (O produto de 140 oliveiras ou a colheita de 42 hectares está aqui envolvido.)

A virtude dos astutos
Louvar um espertalhão? O latifundiário pode fazer o câmbio, passando a elogiar seu funcionário, mas e o arrependimento do administrador fraudulento?

O ensino aqui é para os discípulos, mas os fariseus vestiram a carapuça (v.14). Zombaram. A palavra significa literalmente: “viravam seu focinho para cima” em sinal de desprezo aos ensinamentos de Jesus. Quanto ao administrador, com muita habilidade e astúcia, negocia com os devedores a sua própria sobrevivência. Rouba? Mostrou sua avareza? Não, aparentemente deixa de cobrar a sua parte a que tem direito – os juros – e embolsa para seu patrão apenas o dinheiro devido. Ou seja, entrega os anéis para não perder os dedos. Foi precavido. Como é fácil e rápido sermos moralistas condenando.

A fidelidade e a confiança
Dito isto, entramos na segunda parte deste ensino: aquilo que nos faz decidir entre caminhos propostos. O patrão, como já vimos, elogia seu administrador (pode até ser que tenha recuperado seu emprego!). Reconhece que agiu com inteligência, sabendo se defender em situações desfavoráveis.

Foi fiel a seus princípios. A questão da fidelidade será sempre uma questão de foro íntimo: ninguém melhor que eu mesmo, você mesma, para atestar se é uma pessoa fiel ou não. Por isso a boa aplicação de suas riquezas partirá dos valores com os quais você e eu, intimamente, aplicamos como orientadores de vida. Se Jesus diz “não podeis servir a Deus e às riquezas”, a sua fidelidade a este ou aquele já terá feito sua escolha.

Ser fiel, no sentido que Jesus usa aqui a palavra (uma vez que está relacionada à Mamon, palavra de origem aramaica – idioma de Jesus – deduz-se que aqui a fidelidade está relacionada exclusivamente ao uso de dinheiro e bens), é o procedimento de pessoas que se mostram fiéis na transação de negócios, na execução de comandos, ou no desempenho de obrigações oficiais. Ou seja, pessoas que agem de acordo com suas convicções mais íntimas e enraizadas. Se uma vida está cheia de mentiras e enganos, não terá nenhum problema em agir assim no mundo dos negócios. Se, no entanto, tem uma vida cheia de temor ao Senhor, farão seus negócios baseados nos valores da justiça divina.

O muito e o pouco
Nos próximos capítulos do Ev. de Lucas encontraremos várias parábolas de Jesus onde o tema dinheiro retorna, entre elas a parábola das dez minas (cap 19). Lá é dito: Muito bem, servo bom; porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades. Embora possa não parecer à primeira vista, a fidelidade e o cumprimento da justiça nas pequenas coisas, nos pequenos valores, sim, nos centavos, evoca a bênção de Deus colocando estas pessoas sobre muitos bens. No versículo 16 este mesmo tema está presente: quem é fiel no pouco é fiel no muito; quem é injusto no pouco é injusto no muito. A fidelidade se mostra, portanto, no dia-a-dia, nas coisas corriqueiras e até banais. De forma provocativa permitam perguntar: “Se não somos capazes de ser fieis na aplicação da riqueza de origem injusta, quem nos confiará a verdadeira riqueza, a vida?” (Zwetsch, PL 37, 279)

Nesta administração entre o muito e o pouco, o administrador praticamente transferiu sua solidariedade do rico senhor para os que deviam em produtos – dentro de uma realidade camponesa – ainda que a motivação fosse egoísta embora inteligente e necessária.

A possibilidade dos dois senhores
A. Schlatter (teólogo luterano – 16.8.1852 a 19.5.1938), na minha opinião, tem razão: Precisamos fazer nosso exercício de fidelidade com nossa herança, com nossos bens, porque eles nos mostram que tudo o que temos é dádiva. Como tal, precisamos exercitar nossa confiança naquele que nos dá todas as coisas. Portanto “não podeis servir a Deus e às riquezas” significa colocar nossa confiança ou em Deus ou nas riquezas. É nas pequenas coisas que isto se tornará determinante.

Dois Senhores? Juridicamente um escravo poderia ter dois senhores. De direito, sim, mas de fato, não. Novamente olhando para o ponto da fidelidade (veja acima), é no foro íntimo que as coisas se decidirão: ou você amará a um dos senhores e odiará o outro, ou, terá mais atenção para com um e menos atenção para com outro. Por isso Jesus é categórico quando se refere à administração de bens e riquezas: “não podeis servir a Deus e às riquezas”.
O que está por detrás desta expressão “não podeis servir a dois senhores” não é necessariamente o ódio ou a paixão entre um e outro. A coisa é mais sutil. A palavra diz que ninguém pode sentar em dois lugares ao mesmo tempo.

A justiça transparente
No íntimo, o que determina a cadeira na qual estamos sentados, é o nosso coração. As pessoas podem enganar seus iguais, mas nunca a Deus. Nossa confiança em Deus e nossa dependência de Deus – ou nossa não confiança e nossa não dependência – se confirmará nos atos de nosso coração. Quanto dinheiro se gasta com laser e quanto se gasta em promover o Evangelho? Quanto se investe de criatividade e empenho para a missão da igreja e quanto se investe em achar meios de ficar mais rico?

“A ânsia pela riqueza é como a água do mar: quanto mais se bebe dela, mais sede se tem”. (Arthur Schopenhauer).

O dinheiro e as ações estratégicas
O bom uso da riqueza, portanto, acontece quando somos justos e fiéis para com aquele que nos dá todos os bens e todas as riquezas: Deus. Jesus, o Salvador, nos chama para um procedimento justo e santo em todas as áreas da vida. Também na área do nosso bolso. Confiar em Jesus, aceitar a salvação, é converter também para Ele nossos bens. É sentar em uma só cadeira! É servir a Deus através de nossas riquezas.

“Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará outro, ou se dedicará a um e desprezará outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”.

Prezada Comunidade,

mesmo havendo dificuldade de entendimento do ensino desta parábola de Jesus, fica claro que devemos partir de um princípio de fidelidade à justiça de Deus, ao amor ao próximo e à consciência do ensinamento cristão que recebemos desde nossos antepassados. Como já dissemos, se alguém vive cheio de mentiras e enganos, não terá nenhum problema em agir de igual forma na administração dos seus bens e nos bens dos outros. Se, no entanto, tem uma vida de temor ao Senhor, fará seus negócios e toda a sua administração baseados nos valores da justiça divina.

Amém!

(Veja texto final em ilustração que acompanha a pregação.)


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 13
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 53447

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