Cegos!
O cap. 9 de João nos relata um episódio interessante: Jesus e os discípulos vêem um cego de nascença. Os discípulos perguntam sobre a causa da sua cegueira, que naquele tempo era relacionada ao pecado. Após responder aos discípulos, Jesus cura o cego. Esta cura causa um verdadeiro alvoroço. Alguns questionam a identidade do ex cego, achando que não é o mesmo homem. Outros especulam sobre quem operou a cura. Os fariseus querem explicações, e aí até os pais do ex cego entram no rolo. O rapaz curado reconhece Jesus como um profeta e se diz seu seguidor, o que causa uma repulsa maior ainda nos fariseus, que então, o expulsam da sinagoga. Por fim, novamente Jesus tem um reencontro com o homem curado e também com os fariseus.
Embora seja um texto bastante longo, estes versos todos giram em torno do ver e o não ver. Ele nos fala não só de um tipo, mas de dois tipos de cegueira. Fala daquele que não pode enxergar (fisicamente) e fala daqueles que não querem enxergar (espiritualmente). E para aproveitarmos esta história bíblica para a nossa vida, eu proponho que o observemos através de três pontos: ser visto, ver e não ver.
Ser visto: Enquanto os discípulos viram um mendigo amaldiçoado por Deus por causa do pecado (esta era a explicação da época para determinadas doenças e deficiências), Jesus vê um homem, um ser humano e se importou com ele. Jesus vê naquele homem um alvo da ação divina. Alguém que precisava ser curado, é verdade, mas mais do que isso, alguém através do qual o poder de Deus se manifestasse. Enquanto os discípulos queriam apenas julgar, teorizar, Jesus vê a pessoa e parte para a ação.
Isto nos ensina algo muito importante. Nós, assim como os discípulos e as demais pessoas, muitas vezes nos deparamos com pessoas em situações difíceis. E a nossa atitude é por vezes igual a dos discípulos: julgar e teorizar. Julgamos como coitados, como alguém por quem eu sinta pena. Mas muitas vezes, ficamos no discurso. Jesus ensina que se deve agir. Ele veio para isso. E o cego não era um coitado, e sim uma pessoa em quem Deus iria manifestar o seu poder. Jesus é movido pelo amor, pela compaixão, e não pelo sentimento de pena ou pela vontade de fazer uma caridade.
Agir como cristão não é meramente fazer gestos de caridade. Isso qualquer um faz. Agir como cristãos é ver as pessoas, ver suas necessidades e amá-las. E é bom saber que assim como o cego foi visto por Jesus, também nós o somos. Deus também vê as nossas necessidades.
Ver: Jesus passou a lama nos olhos e deus ordem ao cego de que fosse se lavar. Jesus agiu, ordenou e o cego obedeceu. E as coisas não são diferentes hoje. Também em nossa vida Deus age. Ele faz a sua parte. Mas ele também nos dá uma ordem. E aí está a questão. Nós não gostamos de obedecer as suas ordens. Nos recusamos tantas vezes de fazer o que Deus nos manda. E aí reclamamos, murmuramos e achamos que Deus não se interessa por nós. Achamos que a fé não faz muito sentido, porque afinal de contas, nada na minha vida muda.
Se o cego não tivesse ido lavar-se no tanque, ele não teria sido curado. Permaneceria na escuridão. Mas ele obedeceu. E você, tem obedecido as ordens de Deus para a tua vida? Elas estão contidas na bíblia, basta seguí-las. Por vezes a nossa vida permanece na escuridão porque não nos dispomos a corresponder ao mandamento de Deus.
Não ver: A cura do cego trouxe cegueira para outros. Não a cegueira física, mas a cegueira espiritual, especialmente para os fariseus. Eles que se julgavam tão eruditos, tão entendidos das leis divinas, não puderam crer naquele milagre.
As coisas não mudaram muito daquele tempo pra cá. Deus hoje continua agindo. Por todo lado o poder de Deus é manifestado. Mas muitos se negam a ver. Querem explicações. Querem enquadrar o mundo na sua pequena razão. Há um ditado que diz que o pior tipo de cegueira é a daquele que não quer ver.
Não acusemos apenas os fariseus, os outros. Por vezes também somos cegos ou não queremos enxergar. Deixamos de agradecer e glorificar a Deus pelas coisas maravilhosas que faz. Atribuímos muita coisa ao acaso ao destino ou a nossa própria capacidade.
Que nós possamos abrir os nossos olhos e reconhecer a ação de Deus no mundo e em nossa vida. “Felizes as pessoas que têm o coração puro, pois elas verão a Deus.” (Mt 5.8)
Amém.
