Como lema da semana que hoje se inicia nos é sugerido pelo livro das Senhas Diárias o texto de João 3.14-15: Assim como Moisés, no deserto, levantou a serpente numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna”. Aquilo que é lembrado por Jesus em seu diálogo com Nicodemos faz parte da história do povo de Israel em sua peregrinação pelo deserto (cf. Nm 21.4-9), de um tempo difícil de impaciência, desobediência e sofrimentos. No deserto, diante da morte, a cura não estaria em acreditar em miragens, em soluções fáceis ou nas próprias forças! Importava focar o olhar na salvação providenciada pelo próprio Deus. A imagem da peregrinação pelo deserto não se torna à toa em metáfora para a caminhada da vida cristã. A trajetória do povo de Deus continua sendo ainda hoje uma caminhada pelo “deserto” e nele somos rodeados por tentações, e por vezes nos iludimos com miragens. Da caminhada faz parte o suor e o medo, existe ódio, briga e impaciência! No deserto, porém, Deus providencia a salvação. Ele chama a olhar na direção certa! Não adianta ter fé na fé, nem fé em coisas erradas! Precisamos “olhar para o lugar certo”. Parece que a visão do Nicodemos, da história na qual se encontra o verso bíblico das Senhas, embora ele mesmo fosse mestre em Israel, estava desfocada, embaçada. Nas credenciais de Jesus nenhum jantar no Palácio de Herodes, no seu currículo nenhuma viagem à Roma, capital do Império! No centro, o amor ao mundo (cf. Jo 3.16) demonstrado na cruz! Como crer que ali estaria o Messias? A loucura do Evangelho é justamente essa! Na cruz está o Filho de Deus e o caminho ao céu passa por essa cruz, inevitavelmente! Essa é uma palavra para o tempo da Quaresma! Importa olhar para o crucificado, na direção certa, para a salvação e cura providenciadas pelo próprio Deus e não por homens! No deserto não haveria outro homem capaz de salvar - nem mesmo Moisés! Olhar para a serpente de bronze no deserto salvaria da morte pelo veneno das serpentes. Olhar para o Jesus crucificado, o Filho Unigênito feito pecado por nós (cf. 2Co 5,21), salva da morte eterna como salário do pecado!

P. Dr. Vitor Hugo Schell
é Professor de Teologia
na Faculdade Luterana de Teologia - FLT
em São Bento do Sul - Santa Catarina, onde reside
Sínodo Norte Catarinense