Inicio a reflexão com uma palavra bíblica do Evangelho de Mateus 9.36, onde lemos: Ao ver as multidões Jesus sentiu grande compaixão pelas pessoas, pois estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor.
O que significa ter compaixão? O dicionário explica que compaixão é piedade, misericórdia, dó, pesar. Compaixão, no entanto, é muito mais que o sentimento de pena de alguém, pois quem tem pena o sente de cima para baixo. Ao sentir pena, nos consideramos melhores e mais fortes do que o outro naquele dado momento. Compaixão, por outro lado, requer empatia com a dor alheia. E empatia significa termos a capacidade de conseguirmos nos colocar no lugar do outro, ou seja, compreender seu problema, a sua dor, como se fosse conosco. O olhar da compaixão pode ser perfeitamente exercitado em nosso dia a dia e nos garante, em longo prazo, uma profunda mudança de pensamento, uma profunda mudança na forma de enxergarmos as outras pessoas.
No entanto, o individualismo a que grande parte da humanidade se entrega tem dificultado o desenvolvimento da compaixão. O que se vê é uma capa de indiferença que vestimos para nos proteger das dores alheias, nos tornando assim insensíveis ao sofrimento do próximo. Fugimos da compaixão, deixamos de nos interessar verdadeiramente pelo outro e seguimos com atitudes que apenas atendam aos nossos desejos e necessidades. Tudo isso acontece nos próprios lares, nas empresas, nas escolas, nas ruas, a ponto de nos tornarmos por vezes frios e impiedosos.
Muito além da pena que costumamos sentir diante de certas situações, a compaixão é atitude que realiza o socorro do irmão em sofrimento, ao invés de apenas apiedar-se dele. Pouco importa se aquele que for beneficiado pela compaixão não a valorize, nem a reconheça ou sequer venha a identificá-la. É pela prática da compaixão que aprendemos a sacrificar alguns dos nossos interesses para conseguir olhar para o outro.
E quando conseguimos fazer isso, olhar além de nós mesmo, conseguimos dar também um sentido mais profundo à vida. Quando somos capazes de participar dos sofrimentos alheios, os nossos nos parecem menos importantes e menos significativos. Ao repartirmos a atenção com aqueles que as vezes estão em piores condições que nós, perde sentido o tempo que costumamos gastar em lamentações pessoais.
Por fim, a compaixão permite que experimentemos, pouco a pouco, a verdadeira humildade, aquela humildade que nos faz reconhecer que virtudes, defeitos e limitações existem em qualquer ser humano, independentemente de origem e escolhas. Quantas descobertas e quanta evolução de sentimentos podem partir de uma simples, mas decisiva compreensão do sentido da compaixão, compaixão que nos permite enxergar as outras pessoas com os olhos do coração, ou melhor, dizendo, com o mesmo olhar compassivo e compreensivo que Deus tem para conosco! Há muitas pessoas sofrendo ao nosso redor, existem pessoas tirando a vida, e nós continuamos presos em nossos dilemas e preocupações, porque não temos tempo sequer de olhar para o nosso lado! Até quando vamos continuar achando e agindo como se isso fosse algo normal e corriqueiro?
Pastora Neusa Butzlaff
Paróquia Evangélica de Marcelino Ramos