Prédicas e Meditações



ID: 2931

Bem-aventurado é sinônimo de abençoado.

Uma pessoa que teve sua casa invadida e destruída pela água e pela lama, pode sentir-se abençoada?

02/02/2020

Mateus 5.1-12

Estimada Comunidade:

Bem-aventurado é sinônimo de abençoado. Abençoada é aquela pessoa que é cuidada, amada, estimada.
Mas aqui o Evangelho diz algo estranho:
Feliz é quem é pobre, quem está faminto, quem é injustiçado, quem é perseguido. Será que Jesus não se enganou? Como pode ser feliz – abençoada – uma pessoa que passa necessidade?

Uma pessoa que teve sua casa invadida e destruída pela água e pela lama, pode sentir-se abençoada?

Normalmente dizemos que a pessoa abençoada é aquela que tem casa boa e segura, que tem trabalho, sucesso, uma pessoa que tem muitos bens. O que tem de abençoado em ser pobre, estar com fome, ser perseguido e injustiçado?

Jesus não quer enaltecer o sofrimento. Aliás, Jesus não deseja o sofrimento de ninguém. As bem-aventuranças não querem enaltecer as dificuldades ou dizer que ser pobre é bom, que passar fome é mais legal ainda. As bem-aventuranças nos querem dizer que aquela pessoa que mesmo nas suas dificuldades sabe que Deus continua do seu lado, essa é uma pessoa abençoada. A pessoa que sabe que apesar do seu sofrimento, ela não é uma pessoa que foi abandonada por Deus.

Portanto, as bem-aventuranças nos dizem que a pessoa que não perde a fé em Deus – apesar de suas dificuldades – essa é uma pessoa abençoada.
As pessoas que confiam em Deus, muitas vezes também passam por situações difíceis. Elas também ficam doentes, sofrem e até perdem tudo numa enchente como vimos essa semana que passou. Qual é então a diferença entre confiar ou não confiar em Deus?

A diferença é que o desespero afeta mais quem não crê em Deus. Quando eu digo EU CREIO, eu acolho a realidade de Deus. Ao aceitar a existência e a presença de Deus eu consigo abrir mais espaço no meu coração e na minha mente para compreender as coisas que estão acontecendo. A fé em Deus alarga a minha compreensão e a minha consciência.

Portanto, sem a fé em Deus, é difícil encontrar sentido e explicação para as coisas que acontecem na vida. Sem Deus que nos ajude, nossa vida é vazia. Porque o tempo que nós vivemos aqui nesse mundo não significa nada para o Universo. O Universo não está nem aí para a nossa existência. Ninguém de nós é mais sortudo ou pré-destinado porque nasceu num mês especial ou num dia especial. A verdade é que as estrelas e a lua não brilham por nossa causa, nada nesse mundo existe para nossa satisfação. 

Quanto mais nos conscientizamos disso, quando humildemente reconhecemos que nós não somos senhores da nossa vida, quando nós reconhecemos nossa impotência, nesse momento nós estaremos preparados para ver e sentir a presença de Deus. Para sentir a presença de Deus é preciso esvaziar-se. Fé requer desprendimento e humildade. Fé não combina com orgulho e arrogância. Quanto mais reconhecermos a nossa pequenez e nossa fragilidade, maior será o reconhecimento do amor e da importância de Deus em nossas vidas.

No Sermão da Montanha, Jesus inicia com um olhar (Mt 5.1): ele enxerga as pessoas com os olhos e sobretudo com o coração. Por isso ele percebe, ele sabe o que se passa com elas. Jesus vê as ansiedades, os sofrimentos, as feridas, que marcam profundamente a vida das pessoas. No entanto, a primeira palavra de Jesus não é de lamento sobre a situação, mas ele inicia com bem-aventuranças. Nove vezes no total, nove situações específicas são observadas por Jesus.

Pessoas que são pobres de espírito, pessoas que choram, pessoas humildes, pessoas que tem fome e sede, pessoas que tem misericórdia, pessoas que tem o coração puro, pessoas que tralham pela paz, pessoas que sofrem perseguições, pessoas que são insultadas e caluniadas.
Com qual dessas situações você se identifica?

Jesus enxerga nossas situações, sobretudo de dificuldade e sofrimento. Mas não só isso. Também nós somos convidados a olhar para as situações e para as pessoas com o olhar misericordioso de Jesus. Somos convidados a igualmente olhar com seus olhos de esperança. Jesus consegue enxergar o sofrimento, a opressão, a perseguição que vitimizam tantas pessoas, mas também consegue enxergar além, olha e faz olhar para o horizonte, porque ele enxerga com os olhos misericordiosos e amorosos de Deus. Através das bem-aventuranças Jesus liga o presente (a situação em que as pessoas se encontram) com aquilo que virá. Jesus dirige nosso olhar para frente, para o futuro de Deus. Ele enche nosso olhar com esperança ao dizer que o sofrimento tem um fim no reino de Deus. O olhar de Jesus nas bem-aventuranças é um olhar solidário, que enxerga o que está além da situação presente. As bem-aventuranças trazem esse futuro de Deus para dentro das situações presentes das pessoas e, assim, despertam nelas novas esperanças. Ele traz luz onde só há trevas e solidão, traz vida onde só vemos morte e destruição.

Portanto, Jesus quer dizer também para nós: “Vocês também podem ser pessoas bem-aventurados, vocês também podem ser pessoas abençoadas!” Estas palavras valem para nós individualmente e para a nossa comunidade cristã. Muitas vezes, nós apenas enxergamos o sofrimento. Jesus nos faz olhar para as causas do sofrimento e ao entender as causas, Jesus nos chama de bem-aventurados/abençoados, porque se entendemos as causas do sofrimento – então teremos condições de evitar sofrimentos no futuro. É assim que mostramos que somos filhos e filhas de Deus, quando entendemos que Deus não deseja o sofrimento, mas deseja que nós ajudemos a eliminar as causas do sofrimento. E uma das grandes causas do sofrimento humano é a injustiça social.

Mas Deus não fica parado esperando nossa ação. Quando Jesus disse que abençoados são os pobres, é porque Deus já está agindo em defesa deles. Deus coloca no coração dos sofridos a capacidade de resistir e de superar seu sofrimento. O que Deus espera de cada um(a) de nós é que não demoremos demais para ajudar a quem sofre. Assim diz Mt 25.42-43. “Porque eu estava com fome e vocês não me deram comida, estava com sede e não me deram água, era estrangeiro e não me receberam em suas casas, estava sem roupa e não me vestiram, estava doente e na cadeira, e vocês não cuidaram de mim.” Se não praticamos a solidariedade logo, pecamos o pecado da omissão.

E finalmente tem uma coisa maravilhosa que Deus faz brotar no coração das pessoas solidárias. Quando nos dispormos a cumprir o mandamento do amor, amar e cuidar de quem está numa situação difícil, vamos nos dar conta do quanto isso nos satisfaz e fortalece a nossa fé na vida e – principalmente - do quanto nós já fomos abençoados por Deus. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 12
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 54971
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