Apenas um prego! É assim que começa a história. O povo se reuniu para construir uma nova capela, que ficou linda. As pessoas vinham de longe para admirá-la. Entravam e se sentiam em paz. Louvavam, oravam e contemplavam os detalhes daquela obra harmoniosa. Bem no alto, no madeiramento do telhado, um prego assistia tudo. Ele ouvia as pessoas elogiando todas as partes encantadoras da estrutura: Vejam que bancos confortáveis! É perfeita a combinação de cores. Mesmo a cruz é uma obra de arte. Mas, ninguém reparava no prego. Sequer lhe davam o mínimo valor. Ao menos, se soubessem que estava lá. Então, ele ficou com ciúmes, que virou ódio. Por fim, ele apelou: Bom! Já que sou tão insignificante, ninguém vai sentir a minha falta! Ele desistiu de tudo. Ao chacoalhar-se, ficou solto, deixando de unir duas traves lá no alto. Assim, ele foi deslizando até cair ao chão, donde foi varrido. Acabou no canteiro de flores. Naquela noite choveu muito. Logo, onde outrora estava o prego, o telhado cedeu, separando as telhas, criando uma pequena e quase insignificante fresta. Todavia, por ali a água escorreu pela parede e pingou sobre a cruz. As pequenas gotas respingaram sobre a Bíblia, manchando-a. Em pouco tempo, ela estava arruinada pelo mofo. Tudo isto aconteceu porque um pequeno prego desistira da sua função por falta de reconhecimento. Mas, que fim levou o prego? Ao segurar o madeiramento do telhado, não era visto. Contudo, era útil. Agora, no canteiro, enterrado na lama, ficou completamente desapercebido. Aliás, se tornara inútil. Seus dias estavam se acabando pela ferrugem. Aconteceu que, numa certa manhã de domingo, após o culto, o construtor agachou-se para pegar algo no chão e viu o prego no canteiro. De imediato, pelo tamanho do prego e seu uso se deu conta do motivo daquela goteira no altar. No dia seguida, subiu ao telhado, recolocando o prego no seu devido lugar. Então, tudo voltou ao normal. Agora, o prego estava feliz, ciente do seu valor.
“Raridade” com Saulo Calmon.