Estimada comunidade,
O tempo de advento é muito mais do que uma preparação para o natal. O tempo de advento, que marca o início do ano eclesiástico, é tempo oportuno para reflexão e autocrítica. É tempo de olhar com esperança para o futuro e se preparar para o futuro que Cristo Jesus vai nos trazer. Sim, é certo que Jesus já veio e que no tempo de advento nos preparamos para celebrar o seu natal, o seu nascimento. Mas, ao mesmo tempo, o advento nos chama para olhar adiante, com esperança. Olhar adiante para o tempo em que Cristo Jesus vai retornar para completar a sua obra nas nossas vidas e na vida deste mundo. Esta é a esperança anunciada no advento.
De esperança também nos fala o profeta Isaías, cujas palavras ouvimos hoje. O profeta Isaías, mensageiro de Deus, viveu num tempo tumultuado e conturbado, quando, no jogo de poder entre as nações, uma grande potência despontava no horizonte. Os governantes da Babilônia tinham fome e sede para conquistar novos territórios, subjugar povos e explorar suas riquezas. É dentro deste contexto de invasão e destruição por parte de um exército estrangeiro que Isaías anuncia a mensagem de esperança. O povo de Deus e a cidade de Jerusalém teriam de enfrentar tempos difíceis. Precisavam ouvir palavras que fortalecessem a esperança por dias melhores.
Ouçamos novamente suas palavras. “Nos últimos dias, o monte do templo do Senhor será estabelecido no alto dos montes e se elevará sobre as colinas, e para ele afluirão todas as nações. Muitos povos virão e dirão: “Venham, subamos ao monte do Senhor e ao templo de Deus, para que ele nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas” (v 2-3).
Nos últimos dias, diz Isaías, uma expressão que se refere ao futuro. O povo de Deus em Jerusalém teria ainda de esperar pelo cumprimento da promessa. É promessa de esperança, mas fiel é Deus em cumprir sua palavra. A promessa fala de povos e nações estrangeiras subindo o monte de Jerusalém para receber no templo o ensino de Deus, “para o monte afluirão todos as nações e muitos povos dirão, ‘subamos ao templo de Deus para que ele nos ensine seus caminhos”.
Ganha destaque esta generosa acolhida de Deus para receber todos os povos e nações em seu templo. Deus está disposto e pronto para acolher e abençoar os povos estrangeiros. Ou seja, o Deus proclamado por Isaías não é exclusivista e interessado somente em abençoar o povo de Jerusalém. A missão de Deus não é bairrista e egoísta a ponto de limitar sua salvação somente ao povo judeu. Muito pelo contrário, todos os povos e nações são bem vindos à presença de Deus para dele receber o seu ensino. Assim também nós podemos contar com a acolhida generosa de Deus para nos ensinar seus caminhos. Em Cristo, temos a certeza da acolhida de Deus. Em Cristo, temos a confiança de que Deus estende sua salvação para ensinar os seus caminhos a muitos outros povos e diferentes nações, incluindo nós. Que Deus nos perdoe quando nossa visão de sua salvação for míope e mesquinha. Que Deus nos conduza por novos caminhos, nos ensinando sua generosa salvação e missão para com todas pessoas e povos.
E através de seu mensageiro Isaías, Deus inclusive nos mostra qual é um dos destinos dos caminhos de Deus. Sua palavra nos ensina, “Deus julgará entre as nações e corrigirá muitos povos. Estes transformarão as suas espadas de guerra em lâminas de arado e as suas lanças em foices para a colheita. Nação não levantará a espada contra nação, nem aprenderão mais a guerra” (v 4). Neste caminho anunciado por Isaías, o destino final é a reconciliação e a paz. O julgamento de Deus não visa em primeiro lugar a destruição, mas sim a restauração. Se antes as espadas e lanças de guerra eram instrumentos de destruição e morte, agora, pelo poder de Deus, serão transformados em instrumentos de sustento e vida, lâminas de arado e foices para a colheita.
Também esta palavra de Isaías é promessa de Deus para fortalecer a esperança. Lembramos mais uma vez que, em Jerusalém, o povo de Deus estava diante da força destrutiva e devoradora do império da Babilônia. A intenção dos governantes da Babilônia era usar o seu poder militar e a força do seu exército para conquistar, subjugar, e explorar. As palavras de Isaías, por sua vez, anunciam que Deus usa seu poder para construir, sustentar e promover a vida. A força de Deus está no seu poder de transformar as pessoas, povos e o mundo, trazendo salvação. Esta é a promessa de Deus, que um dia, com o retorno de Jesus, finalmente há de se completar. Fiel é Deus em cumprir sua palavra, como nos anuncia Isaías mais adiante, no capítulo 55, “A chuva e a neve caem do céu e não voltam até que tenham regado a terra, fazendo as plantas brotarem, crescerem e produzirem sementes para serem plantadas e darem alimento para as pessoas. Assim também é a minha palavra: ela não volta para mim sem nada, mas faz o que me agrada fazer e realiza tudo o que eu prometo” (Is 55.10-11).
Como Igreja de Cristo, e como comunidades cristãs, vivemos na esperança de Deus cumprir um dia esta promessa. Mas enquanto aguardamos que esta palavra se complete, a comunidade cristã, incluindo você e eu, a comunidade é chamada para caminhar no ensino de Deus e dar testemunho do Reino de Deus. Para tanto, não temos o poder e a força do império da Babilônia. Mas temos força e poder muito melhor e maior que vem do nosso Deus através de Cristo Jesus. Ele abriu mão de sua condição divina e usou seu poder para se fazer pequeno; usou sua força para se fazer gente e habitar entre nós. Cristo Jesus nos ensinou o poder da comunhão, a força do diálogo, o poder do perdão e a força da reconciliação para curar e transformar pessoas e povos. Sua palavra é palavra que corrige e ensina os caminhos de Deus. Portanto, ó comunidade evangélica, eis o convite e chamado de Deus, andemos na luz de Cristo Jesus sabendo que seu poder e sua força são maiores e melhores do que qualquer outra força e poder que existem neste mundo e no mundo porvir.
Para finalizar, compartilho uma fábula, uma lenda que ilustra bem onde a verdadeira força e poder se encontram. Certa vez havia um guerreiro muito cruel e maldoso. Sua fama o precedia. Quando ele anunciava a invasão de uma cidade, todas as pessoas fugiam e deixavam fácil o saque dos bens. Em uma destas investidas, todas as pessoas fugiram, menos um senhor de idade avançada. Contaram então ao guerreiro que este velho não fugiu. O guerreiro foi até a sua casa para matá-lo. Chegando lá o idoso lhe disse: “Não tenho forças para resistir contra você e sua espada. Como sou uma presa fácil, eu quero fazer um último desejo.” O guerreiro nunca dera tal chance a ninguém. Por isso, o guerreiro respondeu: “Certo, faça seu último pedido e já resolvemos isso.” O velho então começou: “Primeiro vá lá fora e corte o galho da grande árvore e depois volte aqui.” O guerreiro pensou: isso é fácil demais. E assim o fez. Cortou o grande galho da árvore com sua afiada espada. O guerreiro retornou com sua espada em punho, quando o idoso lhe disse ainda: “Esta foi a primeira parte do meu desejo. Agora eu quero que você vá lá fora e coloque de volta o galho na árvore como ele era antes. E então o meu pedido está concluído.
Estimada comunidade, destruir com poderoso exército, machucar com palavras, se deixar conduzir pela intolerância com quem pensa diferente, odiar alguém e ferir a comunhão – isto é fácil de fazer. Agora quem promove a cura e a reconciliação, quem pratica o perdão e o diálogo, quem decide amar a Deus e amar as pessoas, este sim tem maior força e poder. Que Deus nos ensine a caminhar nos seus caminhos ao lado de Jesus, nosso mestre e Salvador. Amém.