Nestes tempos modernos em os elementos essências para a relação das pessoas são consideradas caretice, tomo a liberdade de partilhar uma lenda de AMOR que me foi contada na cidade de Apuí no Estado do Amazonas.
Conta-se que em tempos distantes, bem no começo da formação das tribos Apurinã e Tikunã. Tupã mandou duas estrelas de presente, uma para cada tribo. Na tribo dos Apurinã a estrela nasceu na índia Anair, filha do grande guerreiro Ierê. A índia Anair era tão bela como a flor do ipê e seus cabelos perfumados tinham o cheiro do caju, seu corpo elegante e olhar negro, seu andar tinha a leveza das garças da margem do rio Javari, e todo meiguice do beija-flor, que tem em suas plumas a cor do arco-íris. Na tribo dos Tikunãs nasceu o índio Tunacã, guerreiro forte, valente e famoso pelas suas batalhas.
Anair se enamorou de Tucanã e era correspondida. O casal vivia em grande romance, sem o consentimento das suas tribos, pois não era permitido o casamento com outro povo. Eles eram separados pelas margens do Rio Javari onde suas tribos reinavam.
Mesmo na época das chuvas o Rio Javari com suas cheias e enchentes, não impedia que eles se encontrassem e planejassem a sua união.
Infelizmente o destino que dirigia a vida das duas estrelas, Anair e Tucanã, fez com que o Conselho da tribo dos Aripuanãs escolhesse uma esposa para o filho do Marubixaba, porque a sua prometida acabava de falecer, vitima de uma febre fatal.
O conselho decidiu que seria Anair por sua graça e beleza, e o casamento seria realizado na próxima lua. Anair ficou como uma alucinada e com o coração partido de dor, saiu às escondidas da sua taba, e foi ao encontro do seu grande amor Tunacã, o qual já estava sabendo pelos toques dos tambores. Seu coração sangrava de dor e paixão, pois seu grande amor ia se casar com o futuro chefe da tribo Apurinã e nada podia impedir essa união.
Sobre a luz do luar, na calada da noite, ouvia-se somente o coaxar dos sapos e rãs, o zunido dos insetos e ao longe o pio das aves noturnas. Eles se abraçaram na angústia da separação. Nisto os grandes deuses e as ninfas dos rios tiveram pena dos jovens; e naquele momento trovões e relâmpagos cruzaram o espaço, Anair e Tunacã na piroga e saíram levados pela correnteza do rio. A felicidade entrou no coração dos jovens que nada viam e sentiam, pois, o seu amor a tudo superava.
Tupã fez com que seus corpos fossem levados para o tronco de uma grande árvore e ali permanecessem em sono profundo, abraçado. Seus braços e corações entrelaçados permaneceram assim até as suas almas chegaram aos pés de Tupã, e, ele ordenou que seus corpos fossem transformados em uma haste e que entrelaçassem o troco da árvore e dela sugassem a seiva para o seu sustento como vegetal, e que subisse ao galho mais alto e lá florisse, e quem de suas flores e folhas provasse ficaria cheio de encanto e embriagado de amor.
Transcorreram muitas e muitas luas, até que os índios da tribo Tupi, guiados pelos deuses para que essa estória de amor nunca fosse esquecida, os encontraram assim em forma de planta para a qual deram o nome de Apuí; que quer dizer braços fortes na língua Tupi-Guarani.
Com as sementes fecundaram os lugares mais férteis e nas margens dos grandes e pequenos rios. Hoje, andando pelas margens do Rio Juma encontramos muito Apuiseiros. E, foi assim, que os habitantes da Vila Juma, ao ouvirem esta lenda, mudaram o nome da vila para Apuí. Palavra pequena que tem o significado do AMOR.
Esta lenda foi contada por alguns amazonenses. Que ela sirva para nosso enriquecimento cultural e pessoal. Também nos faça refletir sobre a vida e o amor. Amor de Deus por nós e a nossa forma de vida para com os outros.
Pastor Mauri Magedanz