Amados irmãos, amadas irmãs,
40 anos é bastante tempo. Não são 40 dias, nem apenas 40 meses. Na verdade, são exatamente 14.600 dias. 40 anos são 350.400 horas. Em segundos, 40 anos são 31.557.600 momentos vividos em comunidade. Mais de 31 milhões de instantes, momentos e acontecimentos. É o tempo marchando segundo após segundo sempre para frente e transformando consigo o espaço em que vivemos.
40 é um número muito importante na Bíblia: o dilúvio durou quarenta dias e quarenta noites (Gênesis 7-8); Moisés passou 40 dias e 40 noites no monte (Êxodo 24.18); o povo de Deus peregrinou 40 anos pelo deserto (Números 14.33); Jesus jejuou 40 dias no deserto após ser batizado e antes começar seu ministério (Mateus 4.2); Jesus também ascendeu aos céus 40 dias após a ressurreição (Atos 1.3).
E aqui estamos nós – hoje – celebrando os 40 anos de peregrinação desta querida e amada Comunidade Evangélica de Confissão Luterana Vida Nova. Esta é a nossa identificação e é isso o que somos: uma comunhão de irmãos e irmãs que creem no evangelho e seguem os princípios da Reforma Luterana do séc. XVI, procurando viver e colocar estes princípios em prática no hoje.
O P. Hans Erdmann Götz também tinha estas convicções. Para ir ao encontro dos membros que viviam nos bairros da nossa cidade, ele começou a criar grupos de estudos bíblicos e até cultos nas casas das famílias destes bairros. Lucio Fleck no seu livro “Sereis minhas testemunhas” diz: “Num ambiente familiar, entre conhecidos e amigos, todos se sentiam à vontade e era possível realizar uma verdadeira comunhão”1. Segundo Fleck, o bairro que melhor respondeu à proposta foi o Sete de Setembro. Logo se providenciou a aquisição de um terreno para que se construísse uma casa pastoral no bairro. Porém, o entusiasmo não parou por aí:
As lideranças dinâmicas do bairro Sete de Setembro sonharam alto e decidiram construir um Centro Comunitário, inicialmente denominado de “Sub-Centro”, mas que hoje tem o significativo nome de “Centro Comunitário Vida Nova”. A pedra fundamental foi lançada e 19 de Outubro de 1981.2
Foi o início. A semente da Palavra de Deus plantada com muito amor e dedicação brotou, cresceu e continua a dar frutos. É uma árvore com vários galhos que são os nossos grupos de trabalho que reúnem cristãos de todas as idades na vivência do Evangelho em testemunho e ação. Em 1996, foi construída a igreja onde se realizam os cultos. Em 1998, foram pendurados os sinos que anunciam o início e o final das celebrações e que também badalam em tom triste quando algum irmão ou irmã parte desta vida para o mistério da morte.
40 anos é muito tempo. É difícil de resumir. Quantas histórias poderíamos contar e quantos nomes mencionar. Deus tem mantido a sua Igreja. Podemos olhar para o passado com gratidão. Ao mesmo tempo, se fomos trazidos até aqui, podemos ter a esperança de que Deus nos levará adiante. Surgem novos tempos com novas modas e novas situações, mas a Palavra de Deus permanece sempre a mesma que – na força do Espírito Santo – impulsiona a sua Igreja a ser viva e relevante onde está.
Entretanto, como atual pastor desta Comunidade e Paróquia, não posso esquecer o tempo que estamos vivendo. Já nos encontramos a mais de um ano através das redes sociais e do rádio. Em 1981, quem diria que passaríamos por uma situação como a que estamos vivendo? São tempos difíceis de muito cuidado e apreensão. Porém, também aqui Deus tem nos mantido e sustentado. Também aqui podemos testemunhar o quanto Deus é bom e generoso para conosco. Não apenas em recursos financeiros ou materiais, mas principalmente em seu consolo e alento diante das tantas vezes que os nossos sinos badalaram por causa dos irmãos e irmãs tão queridos que perdemos tanto para a Covid-19 quanto para outras doenças. Se não fosse a bondade e a misericórdia de Deus em seu auxílio e cuidado, não teríamos chegado até aqui.
Amados irmãos, amadas irmãs,
hoje é dia de comemorar. São 40 anos. Há períodos de bonança e há períodos de deserto. O importante é não pararmos a nossa peregrinação. Firmados no Cristo morto e ressurreto, sigamos adiante com fé, esperança e amor. A esperança em Cristo é que nos move a seguirmos confiantes naquele que morreu e ressuscitou pela nossa salvação.
Que possamos deixar Deus ser Deus para que sejamos humanos. Em meio às nossas preocupações quanto ao presente e ao futuro da comunidade, entreguemo-nos nas mãos de Deus que tem nos sustentado até aqui. A obra é dele! Nós plantamos e regamos, mas o crescimento vem do Senhor (1 Coríntios 3.6). Estejamos firmados à nossa tradição evangélico-luterana. Mantenhamos as nossas belas festividades e tradições que há muito tempo são teias de significado da nossa fé e da nossa vida.
Ao mesmo tempo, estejamos abertos ao novo, pois uma nova geração está vindo e precisamos adequar muitas coisas do nosso ser igreja para que sejamos relevantes no lugar em que estamos. Se não tivermos uma atualização de muitos aspectos da nossa vida comunitária, perderemos as gerações que estão vindo. Mais importante que manter costumes é pregar o Evangelho de maneira relevante para quem está diante de nós. Quem sabe, poderemos atualizar o nosso ambiente com uma iluminação diferente e com um som que fica agradável aos ouvidos. Para continuarmos, não basta pensar apenas em quantidade, mas principalmente em qualidade!
Sigamos peregrinando. Deus não deixará de nos dar o maná para que vivamos em abundância. Na verdade, em Jesus, Deus nos doou mais que um maná: em Jesus, Deus nos doa o seu corpo e o seu sangue que são o pão e o suco do fruto da videira. Creiamos que em breve estaremos aqui ao redor desta mesa para novamente celebrarmos o Deus que se doou a nós por amor.
O Senhor, que nos trouxe até aqui nos levará adiante.
Amém.
7º DOMINGO DA PÁSCOA | VERMELHO (FESTIVA) | CICLO DA PÁSCOA | ANO B
16 de Maio de 2021
P. William Felipe Zacarias
1 FLECK, Lucio. Sereis minhas testemunhas. Sapiranga: Edição do autor, 2001. p. 57.
2 FLECK, 2001. p. 58.