A doutrina cristã é limpa como as águas de um regato em sua nascente. Mas, ao longo dos séculos aconteceram fatos que descaracterizaram a Igreja de Cristo. Quando Lutero deu o seu brado contra os abusos do Vaticano, em 31 de outubro de 1517, as águas que conduziam os ensinamentos cristãos já estavam turvas. Depois daquela data o mundo não seria mais o mesmo, pois o monge alemão estava sintonizado com um profundo anseio popular daquela época.
Mas, no fundo, o que queria Lutero? Ele não pretendia criar uma nova igreja, mas mudar o que havia de errado, enfim, que os direitos de Deus voltassem a ser respeitados. Jesus mostrou que a fé não poderia servir a interesses financeiros, por isso expulsou os comerciantes do templo. No século 16 a degradação dos princípios bíblicos entre a cúpula eclesiástica atingiu o auge e o comércio religioso havia tomado conta da Igreja Católica. A venda de indulgências era apenas a ponta do iceberg. As ordens religiosas eram donas de quase um terço do território europeu. Goethe afirma que são poucos os que compreendem a importância de Lutero e da Reforma para a liberdade espiritual que veio posteriormente. “Ficamos livres dos grilhões da estreiteza espiritual”, disse ele.
O pastor dr. Gottfried Brakemeier, ex-presidente da Federação Luterana Mundial, lembra que o Dia da Reforma possui relevância ecumênica. Ele acrescenta que a Reforma é um evento memorável para toda a cristandade e convida as Igrejas irmãs para a comemoração conjunta. Para ele a reforma não pode ser algo definitivo, ela precisa acontecer sempre para superar os novos desafios. Brakemeier frisa que “Igreja que resiste à reforma, estagna e coloca em risco sua qualidade evangélica. Eis, porque o Dia da Reforma é dia ecumênico”.
As palavras de Lutero também tiveram grande repercussão no Brasil, um país tradicionalmente católico. Isso aconteceu, principalmente, após o início da imigração alemã e suíça. A fé cristã estava arraigada na vida dos imigrantes pioneiros. Bíblia e hinário lhes eram familiares. No dia 25 de dezembro de 1851 a comunidade evangélica de Joinville assistiu o primeiro culto dirigido por um pastor formado, o dr. Jakob Hofmann.
Os primeiros tempos foram difíceis para os luteranos. Naquela época os não-católicos eram impedidos publicamente de expressar sua fé. Como os templos não podiam ter torres, os fiéis construíam casas de oração. Mas os obstáculos foram vencidos, a liberdade religiosa alcançada e vários templos evangélicos construídos. Devido a importância dos evangélicos para a nossa realidade, entrei com projeto de lei, aprovado por unanimidade nesta Casa, que coloca o Dia da Reforma no calendário cívico cultural do município.
Sempre é possível aprender com os erros e com os acertos daqueles que viveram antes de nós. Ao comemorarmos o Dia da Reforma devemos olhar o passado, analisarmos o presente e mirarmos o futuro. Graças à coragem e ao conhecimento bíblico de Lutero, hoje a Igreja mantém límpidas as mensagens deixadas por Jesus Cristo. Ao mesmo tempo que somos gratos aos reformadores, em especial a Lutero, devemos nos espelhar em seu exemplo para que amanhã a doutrina cristã seja ainda mais forte neste conturbado mundo.
Obrigado.
Vereador Alodir Alves de Cristo
Camara de Vereadores de Joinville
(discurso no dia 26/10 na Camara de Vereadores de Joinville, por ocasião da Sessão Solene de Homenagem ao Dia da Reforma)
