Comunicação


ID: 2771

Resgatar e cultivar em nossas comunidades uma fé ativa

15/09/2019

Lucas 15.1-10
Prédica:
Prezada Comunidade aqui reunida.

As parábolas da ovelha perdida e da moeda perdida são muito conhecidas, mas trazem sempre uma renovada mensagem de misericórdia, de perdão e nos ajudam a entender o que Jesus espera de cada um de nós.

O texto inicia dizendo que MUITOS publicanos e pecadores aproximavam-se para ouvir Jesus. Essas pessoas não fogem de Deus. Ao contrário, elas se sentem atraídas por Jesus pois encontram nele um acolhimento e uma compreensão que não encontram em nenhuma outra parte.

Por sua vez, os representantes do judaísmo só sabem criticar. O texto ressalta que todas essas pessoas eram pessoas de má fama.
- os publicanos porque cobravam impostos do povo por concessão do império romano opressor e muitos deles cobravam mais do que deviam;
- os pecadores porque tinham conduta imoral (talvez houvesse entre eles até ladrões, assassinos, fraudadores). Mas não somente estes eram considerados pecadores, também os que exerciam uma profissão considerada impura pela religiosidade judaica: prostitutas, pastores de ovelhas, tecelões, tosquiadores, enfermeiros que aplicavam sangrias, proprietários de casas de banho, curtidores, médicos, condutores de camelo e açougueiros (esta lista e comentários sobre a mesma encontra-se no livro de Joachim JEREMIAS, Jerusalém no Tempo de Jesus, p. 403-414).

Por isso, os fariseus e escribas se perguntavam: Como é possível que um homem de Deus compartilhar a mesma mesa com gente pecadora e impura? Receber pecadores, comer com eles é um escândalo para a religiosidade judaica. E os fariseus e os escribas se arrogavam o direito de zelar pela santidade do povo. Para isso, o princípio religioso era o seguinte:
- Uma pessoa religiosa e pura não deve associar-se aos ímpios. Os transgressores da lei, da religiosidade judaica, os pecadores devem ser isolados. De um lado, os bons e justos; de outro lado, os pecadores. A pessoa pecadora não pode ser amada por Deus ANTES de seu arrependimento, de fazer jejum e penitência. Não é o justo que deve ir de encontro ao pecador, de acordo com a mentalidade da religiosidade judaica. O justo deve denunciar o pecado e o pecador. E o pecador, por sua vez, deve cair em si, arrepender-se e, a partir daí ele poderá receber o amor de Deus, porque o mereceu com seu bom comportamento.

Talvez muitos de nós até concordemos com esta forma de pensar e de agir. MAS ESTA NÃO É A FORMA DE PENSAR E AGIR DE DEUS. A forma de pensar e agir de Deus é totalmente CONTRÁRIA a esta. Deus vai ao encontro, busca, chama, socorre o perdido, como vemos de forma clara na parábola da ovelha perdida. Deus não espera que o pecador/perdido venha, que ele ache por conta o caminho e, só depois de se haver arrependido, é que irá receber acolhida e graça divinas. Deus acolhe o pecador assim como ele é, vai ao seu encontro mesmo ainda estando ele em pecado, o chama, o busca. A mudança de vida virá naturalmente no convívio com Jesus. É na vida comunitária que a pessoa pecadora vai demonstrar o seu arrependimento, como podemos ver no exemplo de Zaqueu (Lucas 19.1-10). Portanto, Jesus nos ensina que ele deseja que sua igreja seja acolhedora. A boa acolhida, sem julgamentos, vai curando as pessoas por dentro, liberta da vengonha e da humilhação e lhes devolve a alegria de viver.

Junto com essa parábola da ovelha perdida está a parábola da moeda perdida. As mulheres no tempo de Jesus não tinham nenhum direito sobre a propriedade da casa e das coisas dentro de casa. Tudo pertencia ao homem. A mulher somente tinha o direito sobre aquilo que ela carregava no seu corpo. Por isso, um anel, um colar, uma pulseira eram feitos de moeda de prata e ali estava o único bem das mulheres. O valor era pouco, mas na pobreza nada é dispensável. E quem já perdeu uma coisa dentro de casa sabe que a gente não descansa até achar o que procura. A gente olha várias vezes na mesma gaveta, olha debaixo da cama, procura nos bolsos da roupa. Não descansa até achar. E quando essa mulher achou sua moeda, do mesmo jeito que o pastor que encontrou a ovelha perdida, eles se enchem de alegria, e dizem aos vizinhos: Alegrem-se comigo porque encontrei o que estava perdido. A moeda é de pequeno valor, mas causa uma grande alegria para a mulher que tinha pouco.

E Jesus termina essas parábolas dizendo que assim também até os anjos no céu se alegrarão por causa de um pecador que se arrepende dos seus pecados.

Com essas histórias da ovelha e da moeda perdida, Jesus desafia as igrejas a se importarem com o resgate das coisas que se perderam na nossa vida. Certamente cada um de nós fomos perdendo coisas e pessoas importantes em nossa vida. Buscar as pessoas e valores e reintegrar as pessoas e valores do Evangelho em nossas vidas, esse é o motivo de grande alegria para Jesus. Isso pode começar com pequenas atitudes de cada pessoa cristã. Pequenas atitudes já fazem uma grande diferença.

Jesus foi um ser de cuidado. Ele mesmo se autodenomina como aquele que serve, como diácono (Mc 10.45), e servir inclui cuidado. Jesus mostrou cuidado especial para com os pobres, os famintos, os discriminados e os doentes. Jesus sempre foi ao encontro daquelas pessoas que a sociedade havia rejeitado. O cuidado de Jesus para com as pessoas é percebido em suas palavras e ações, pois elas demonstravam afeto, misericórdia, amor, respeito, atenção, zelo, acolhimento, valorização do ser humano, sensibilidade com a dor, enfim, Jesus cuida da vida. São esses valores que- nós como seguidores de Jesus – também hoje somos chamados a resgatar e a cuidar.

Jesus desafia seus seguidores: “Assim como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Isso significa que Jesus quer que também nós tenhamos um compromisso com a vida. Por isso, não dá para ficar indiferente diante das queimadas criminosas na Amazônia. Essas atitudes criminosas já acontecem a muitos anos. Mas precisamos ter claro: As investigações estão mostrando que quem manda riscar o fósforo lá são pessoas poderosas como os grileiros de terra e os madeireiros, os garimpeiros. Pessoas que invadem a selva, derrubam a mata, exploram a madeira e finalmente queimam o que restou para vender essa mesma terra. Essa destruição criminosa da vida por dinheiro não pode ser justificada por pessoas que se dizem seguir a Jesus, o cuidador da vida.

As parábolas da ovelha e da moeda perdida dizem que devemos procurar resgatar os valores da vida, que andam perdidos em nosso mundo. E Jesus nos desafia dizendo que cada um de nós precisa fazer seu pequeno gesto.
Jesus quer trazer esperança e ânimo aos nossos corações, quando ficamos desanimados diante da maldade do mundo.

O texto de 1 João 3.16, exorta os cristãos a “dar a vida pelos irmãos”. Com certeza, João não pensou que todos os cristãos devem morrer reciprocamente uns pelos outros. Mas ele se refere ao empenho da vida no cuidado mútuo, na nossa convivência numa comunidade/igreja cristã. Jesus nos quer ativos no cuidado, na proteção da boa criação de Deus, na boa convivência entre as pessoas, Nos tempos atuais vemos que tanto as pessoas e como o mundo estão perdidos e precisam ser resgatados. Precisamos cultivar gestos de solidariedade, de amparo, de cuidado, de denúncia, de protesto contra a injustiça. Precisamos resgatar e cultivar em nossas comunidades essa fé ativa. Uma fé profética, corajosa, acolhedora que não tem medo de se misturar com as pessoas e suas lutas no cuidado pela vida. Quando fazemos essa vontade de Jesus, ele certamente chamará os seus amigos e vizinhos lá no céu e dirá: Alegrem-se comigo, porque hoje achei as minhas ovelhas/ hoje encontrei a minha comunidade que estava perdida”.
Amém.

 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 15 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 53263
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