Comunicação


ID: 2771

Quando a religiosidade nos afasta de Deus.

Prédica

27/10/2019

 

Lucas 18.9-14

Prezada Comunidade:

Duas pessoas foram ao templo para orar. A oração podia ser feita em qualquer lugar. No entanto, os judeus tinham certas concepções a respeito do templo. Para eles, o templo era considerado a morada de Deus. Representava o espaço que Deus habitava na terra. Isso significa que ir ao templo era um ato de busca da presença de Deus. Se aqueles dois (o fariseu e o cobrador de impostos) foram ao templo, era porque sentiam a necessidade de encontrar-se Deus. E, ao irem ao templo, para orar, eles estavam certos. Séculos antes de Jesus, o profeta Isaías já dizia assim, em nome do Senhor: “A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos” (Is 56.7). 

A influência e atração do templo para os judeus ainda hoje é muito forte. Mesmoq uem não morava na Palestina enviava regularmente o seu imposto para o templo de Jerusalém.  Pagar esse imposto se havia convertido em um ato de devoção ao templo.

No tempo de Jesus, a cobrança de impostos não era feita pelos administradores do templo, nem pelos romanos diretamente. Os romanos terceirizaram essa atividade para a elite da sociedade judaica. Portanto, um cobrador de impostos era uma pessoa rica. Isso porque além de terem direito a uma comissão na cobrança dos impostos, os cobradores de impostos também praticavam sistematicamente a pilhagem e a extorsão dos campesinos. Devido a isto, o povo odiava os cobradores de impostos. As pessoas os odiavam e porque eram ladrões e ninguém podia fazer nada contra eles. Eram tão desprestigiados que se pensava que nem sequer podiam obter o arrependimento de seus pecados, pois para isso teriam que restituir todos os bens extorquidos, tarefa praticamente impossível porque eles tinham roubado tanta gente que nem sabiam mais a quantos. Isto faz pensar que o cobrador de impostos citado na parábola era um alvo fácil dos ataques do fariseu, pois era um sem vergonha, uma pessoa sem honra e um ladrão.

O fato de o fariseu orar de pé não deve ser interpretado como arrogância. Orava-se de pé. Também em nossas igrejas luteranas é assim. No momento da oração na igreja, nós nos colocamos de pé. O problema não estava na posição do seu corpo. O problema está no conteúdo de sua oração. Sua oração se divide em duas partes. Na primeira, o fariseu agradece a Deus pelos pecados que não cometeu. Na segunda, apresenta a Deus o que fez de positivo. Ao agradecer pelos pecados que ele não cometeu, o fariseu fez questão de destacar que ele é um “pecador diferente e superior às outras pessoas. Ao apresentar suas boas obras, ele mostrou sua superioridade dizendo assim: “Oh Deus eu te agradeço que não sou como esse cobrador de impostos” (v. 11). Que tipo de oração é essa em que a pessoa se considera superior as demais?

A lei estabelecia que todo judeu deveria fazer um jejum por ano; o fariseu jejuava duas vezes por semana. Quanto ao dízimo, a lei dizia que era preciso dar 10% de tudo que se ganhava para o templo. Mas o fariseu disse: “Pago o dízimo de todas as coisas que adquiro”. Ele não se limitava a dizimar sobre o que ganhava, mas também o que comprava. Não queria correr o risco de consumir mercadoria que não tivesse sido dizimada por seu próprio produtor.

O fariseu era um dizimista sensacional. Uma pessoa tão fiel às conviccóes e as leis religiosas. Pessoas assim tão cumpridora da vontade de Deus, nós também gostaríamos de ter em nossa Comunidade, não é mesmo? Esse fariseu era um exemplo de belas obras! Não há quem pudesse pôr algum defeito nele; Era um homem que merecia todos os elogios. Sim, ele até se elogia a si mesmo. No cômputo geral, ele era sensacional. Certamente Deus precisava de gente semelhante a ele. Aos olhos dos judeus, se houvesse mais pessoas semelhantes àquele fariseu, o mundo seria melhor.

No entanto, Jesus termina a sua parábola dizendo que esse fariseu não ficou em paz com Deus. Qual é o problema desse fariseu? O que Jesus viu nele que aparentemente nós não vemos?  Que pecado teria cometido o fariseu?

Com essa parábola Jesus nos quer chamar a atenção para o que o diabo é capaz de fazer com pessoas boas e religiosas. O diabo usa a bondade dessas pessoas para transformar essas pessoas de bem em um juizes que desprezam e condenam a todos que não são como ele ou que não pensam como ele.

O problema do fariseu não é a sua religiosidade. O problema é que a sua religiosidade fez com que ele pensasse que era melhor que os outros. Fé sem amor, sem bondade – vira fanatismo. Ou seja: Jesus diz: uma pessoa pode ser justa e fazendo isso ela está obedecendo a Lei de Deus. Mas Jesus faz um alerta: O Deus do Antigo Testamento quer que você seja justo, mas não deixe de ser uma pessoa humilde. Uma pessoa humilde não se considera superior aos demais. Uma pessoa que quer agradar a Jesus não deve desprezar os outros por causa de suas próprias qualidades e virtudes pessoais. Esse foi o problema do fariseu. Ele era uma pessoa com boas atitudes, mas pecou pornão ser uma pessoa humilde e se considerar superior aos demais.
 

Mas porque Jesus conta essa parábola aos seus discípulos?  Porque essa parábola chegou até nós?

Engana-se quem pensa que atitude como a do fariseu moram somente dentro de pessoas que se consideram muito religiosas. Também pessoas – que não costumam ir ao templo – muitas vezes dizem: “Eu não preciso ir no culto na igreja, pois eu faço minhas orações em casa. Além disso, lá na igreja vejo muita gente que não são tão santos assim.”

Atitudes e pensamentos como as do fariseu também podem morar dentro de pessoas muito solidárias, que se dedicam a obras sociais, mas não valorizam a igreja porque elas dizem que não precisam tanto da igreja como outras pessoas. Afinal, elas já fizeram muito na vida pelos outros e, por isso, elas já têm boas sobras de sobra lá no céu. Também essas pessoas acabam pensando que são melhores que as demais e por causa de suas boas obras sociais, pensam que não precisam mais da igreja ou de Deus.

Portanto, Jesus nos quer ajudar hoje a não cair na tentação de julgar uns como melhores cristãos que outros. Lamentavelmente isso é muito comuns entre as religioes, entre as igrejas e entre as pessoas. Nesses dias em que lembramos a Reforma Luterana, também devemos nos lembrar que existe um perigo permanente mal-usar a Palavra de Deus para justificar-se e ao mesmo tempo desprezar pessoas que são ou pensam diferentes. As palavras que desrespeitam a outra pessoa, são o sinal mais evidente de ódio. E o ódio não vem de Deus. Ofensas, ataques pessoais, palavras carregadas de exageros, distorções, criar falsos dilemas. Isso só traz sofrimento para a convivência comunitária. São tentações que precisamos evitar a todo custo. É claro que existem pessoas que merecem ser advertidas e até disciplinadas, caso insistam em dividir ou até destruir a vida comunitária. É totalmente incompreensível que pessoas cristãs se ofendam ou se agridam – violando o único mandamento que Jesus nos deixou. Mas esses são casos especiais que devem ser tratados pela direção da igreja. O ensino dessa parábola é que como pessoas cristãs – como igreja cristã de confissão luterana – não devemos nos dividir achando que uns são melhores que os outros, ou que alguns grupos na igreja luterana sejam  mais herdeiros da Reforma que outros. Atitudes como essas não são inspiradas pelo Espírito de Deus, porque elas dividem as pessoas. Isso é justamente o que Jesus reprova na parábola que ouvimos hoje. Sempre que manifestarmos nossa opinião devemos fazer isso com respeito e com humildade.

Se pensarmos que somos melhores ou superiores aos outros, que uns tem a verdadeira doutrina luterana e outros não, então a paz de Deus não estará conosco. E onde a paz de Deus está ausente, aí teremos somente conflito, ódio, incompreensão. Todos somos pessoas pecadoras. Todos necessitamos do perdão de Deus e da sabedoria do Espírito Santo para não dar tanta mancada na vida. O Salmo 51, diz: ‘O sacrifício que agrada a Deus é um espírito contrito; um coração contrito não desprezarás, ó Deus’ (v. 19).

Por isso, devemos valorizar cada oportunidade comunitária para ouvir a palavra de Deus. Participar dos cultos nas nossas comunidades é vital para o fortalecimento de nossa fé em Deus. Alegrar-nos com a possibilidade de encontrar pessoas que também estão precisando da Palavra e dos  Sacramentos de Deus, assim como eu.  Colocar-se humildemente à serviço da vontade de Deus, ser uma testemunha viva da presença e da ação de Deus nesse mundo – ser uma pessoa humilde que confia que em cada culto, Deus mesmo quer falar comigo - é isso que Jesus espera de cada um(a) de nós. 

Certa vez dois membros da mesma comunidade falaram sobre esse tema da participação nos cultos. A conversa aconteceu no cafezinho após o culto. Um deles dizia assim: Eu tenho ido a igreja por 30 anos e durante todo esse tempo devo ter ouvido uma 3mil prédicas. Mas, com exceção de uma ou de outra, eu não me lembro da grande maioria delas. Assim, eu penso perdi o meu tempo indo a tanto culto, e hoje nem consigo me lembrar da maioria deles. O outro membro reagiu assim: Eu estou casado a mais de 30 anos. Durante todo esse tempo minha esposa fazia questão que sempre que possível nós almoçássemos juntos. Durante todo esse tempo, ela deve ter cozinhado mais de três mil refeições. Com exceção de uma ou outra, eu não me lembro da maioria das comidas que ela preparou. Mas uma coisa eu sei: todas elas me nutriram e me deram a força que eu precisava. Da mesma forma, se eu não tivesse ido aos cultos para alimentar a minha fé, hoje certamente eu estaria em uma terrível condição espiritual.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam entre nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 18 / Versículo Inicial: 9 / Versículo Final: 14
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 53901
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