Comunicação


ID: 2771

Pregar o evangelho pela rádio comunitária

28/11/2014

A rádio comunitária tem suas próprias leis. Uma delas é a que limita a sua área de cobertura. Ela está impedida de crescer como é permitido às rádios comerciais. Isto seria um dado importante para quem pretende anunciar o evangelho através de uma rádio assim, pois restringiria o público ouvinte a uma área geográfica bastante claramente delimitada. A internet, porém, veio para romper. E também aqui ela rompe. Através dela, a rádio comunitária também pode ampliar o círculo de sua audiência e até chegar a qualquer parte do mundo. Aconteceu comigo em certa ocasião: preparava meus programas de rádio tendo em mente os habitantes do bairro e repercutindo assuntos que julgava serem de interesse dos moradores locais. Comecei a questionar meu jeito no dia em que recebi uma mensagem eletrônica de ouvintes que viviam bem distantes dali em outra realidade. Por isso podemos dizer que pregar o evangelho numa rádio comunitária, em certo sentido, não é diferente de fazê-lo em qualquer outro veículo de comunicação de massa.

Considero a necessidade de tomar uma decisão sobre o perfil do ouvinte um dos primeiros desafios de um programa de rádio. Por um lado, a melhor expressão para se referir a esta característica é dizer “você nem imagina quem está lhe ouvindo!” Entre seus ouvintes pode estar uma pessoa acamada que, não sabendo mais o que fazer com o tempo, sintoniza o seu programa. Entre seus ouvintes pode estar também uma pessoa que viaja de carro e, com a ideia de distrair o sono, enquanto passa pela região, sintoniza a emissora na qual você está falando. Convém orar silenciosamente antes de todos os programas agradecendo a Deus pelos ouvintes desconhecidos que ele providenciará.

Por outro lado, é necessário considerar que qualquer ouvinte será mais provavelmente cativado se, ao ouvir, rapidamente identificar quem está falando com quem. Se o locutor, por exemplo, dirige a sua fala a um jovem agricultor e quem está ouvindo é justamente um jovem agricultor, é possível que a audiência esteja garantida por mais alguns instantes. Mas também é possível que o ouvinte permaneça ligado mesmo sendo um agricultor idoso, um jovem urbano ou qualquer outra pessoa. Neste caso, o que funciona é a curiosidade de ver o chapéu servindo na cabeça de outra pessoa. Isto, porém, não significa que esse ouvinte não esteja sendo tocado pela mensagem. O que faz o ouvinte desligar ou procurar outra estação é, além de perceber que não é para ele, também não conseguir perceber para quem é que se está falando.

Tenho, como pregador, guardado uma regra que considero básica: o que falo chegará tanto mais eficientemente aos ouvintes, quanto mais eu acertar na determinação do perfil do meu ouvinte, no momento em que estou decidindo o que vou falar. Trocando em miúdos, isto quer dizer que, quando estou preparando o que vou dizer, imagino alguém que vai me ouvir. Se eu acertar nessa minha imaginação, a fala tem maior chance de chegar ao destino pretendido. Vamos dizê-lo ainda de outra forma: a pregação não chegará bem, se a imaginação for um ouvinte aniversariante e a realidade for um ouvinte enlutado. Neste sentido, me apego muito ao exemplo de dois livros do Antigo Testamento. Trata-se dos livros de Jonas e de Jó. A leitura destes dois livros torna-se interessante para todo mundo não porque o assunto é entre Deus e todo mundo. O assunto é entre Deus e uma pessoa. E é justamente isto que o torna interessante para todo mundo. Vale a ideia de que a aldeia reproduz o planeta ou que estamos em uma onda de “desmassificação da sociedade” (Alvin Toffler).

Depois do desafio de um programa de rádio de dez minutos diários durante alguns anos, tenho agora o desafio de um programa semanal com duas horas de duração. Não me arriscaria a apontar um dos dois programas como mais fácil ou mais difícil. Posso, porém, testemunhar que não confere pensar que a preparação de um programa de dez minutos leva dez minutos e a preparação de um programa de duas horas leva duas horas. Um programa curto leva, proporcionalmente, mais tempo de preparação. Sendo que, em rádio, uma boa fala provavelmente estará entre dois e quatro minutos corridos, um programa de dez minutos necessita de duas quebras de sequência. Isto pode ser resolvido, tocando uma música. Assim teremos uma locução, uma música e mais uma locução. A quebra de sequência, ao mesmo tempo em que evita a mesmice, cria a curiosidade sobre como seguirá.

Como funciona isto com um programa com duas horas de duração? No caso de minha experiência, a própria emissora se encarrega de dividir o programa em quatro blocos, pois, a cada meia hora, são rodados os apoios culturais. Assim sendo, estão disponíveis quatro blocos de 26 ou 27 minutos. Seguindo a lógica da desmassificação, subdividimos estes blocos em momentos distintos. É nesses momentos que o programa se renova, como se fossem células que morrem e nascem de acordo com a demanda. Alguns momentos repercutem muito bem e permanecem outros nunca são mencionados pelos ouvintes e assim “caem no esquecimento”. Os seguintes momentos conquistaram o seu espaço nos últimos meses: 1) Os dias da semana na história: nele são lembrados e brevemente comentados acontecimentos históricos marcados no calendário da semana; 2) Notícias da igreja: eventos da semana que envolvem a IECLB e o mundo ecumênico; 3) Momento das crianças: é apresentada uma história para crianças; 4) Dica de saúde: é apresentado algo que pode ser praticado facilmente e que representa um benefício à saúde; 5) Avisos da semana: é apresentada a programação paroquial; etc. Todos os momentos são envolvidos por músicas tocadas por sugestão de ouvintes, que enviam suas solicitações à emissora enquanto programa transcorre. O programa recebe entre 5 e 8 pedidos e dedicações de música e orações em cada bloco de meia hora. Essas mensagens representam elos de ligação entre ouvintes e a coordenação pastoral. Os pedidos de música e orações são um indicativo para visitas e outras atividades pastorais para os dias que seguem.

Quando conheci o programa - que se chama “Entardecer com Cristo”, é uma iniciativa da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana no Vale do Três Forquilhas, e vai ao ar pela Rádio Clube do Povo, Fm 98.1, estabelecida em Três Forquilhas, RS - lembrei que antigamente era costume nas comunidades, por ocasião de cultos com Santa Ceia, que as pessoas (que queriam comungar) entravam numa fila antes do culto para “dar o nome” ao pastor. Este gesto representava uma espécie de raio x da comunidade. A lista de nomes, e especialmente os nomes ausentes na lista, indicavam ao pastor possíveis pontos de conflitos entre familiares e vizinhos. Nosso programa de rádio tem uma função parecida. Ele nos comunica os aniversariantes, os doentes, os que chegaram ou saíram de viagem, os que baixaram hospital e os que deram alta. Além de tudo isso, importa que o programa seja sentido como propriedade da comunidade. Nosso programa é mantido por pessoas ou grupos que voluntariamente se dispõem a fazê-lo. É comum termos uma “fila de espera” de colaboradores de quatro a seis meses. No último culto apareceu no prato de ofertas uma doação referente a um mês de financiamento do programa envolta em um bilhete anônimo. Graças a Deus!
 


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É dever de pai e mãe ensinar os filhos, as filhas e guiá-los, guiá-las a Deus, não segundo a sua própria imaginação ou devoção, mas conforme o mandamento de Deus.
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