Filipenses 4.4-7
A carta aos filipenses é uma carta de gratidão. Ela começa com uma oração do apóstolo Paulo (1.3-11), na qual ele antecipa todos os principais temas da carta. E em 1.27, ele expressa o tema central: Viver de acordo com o Evangelho de Cristo.
O apóstolo Paulo está alegre e grato pela Comunidade de Filipenses, porque essa Comunidade é um lugar de refúgio e de esperança. Um lugar onde pessoas passando por problemas não ficam sozinhas. Um lugar onde as pessoas se animam mutuamente, pois “perto está o Senhor”. Paulo diz que dá para sentir que Jesus está por perto nessa Comunidade.
Certa vez um grupo de cientistas disse que a ciência não podia provar a existência de Deus, por isso Deus não existe. Tudo o que existe, tem que ser provado. Mas nós sabemos que na vida isso não é assim. Há muitas coisas na vida que não conseguimos provar, mas somente conseguimos ver os sinais que elas deixaram. Por exemplo: não conseguimos provar o pensamento, mas conseguimos ver os sinais que o pensamento pode realizar. Não conseguimos provar o amor, mas conseguimos ver os sinais da presença do amor no mundo. Não conseguimos provar a existência de Deus, nem conseguimos provar a existência da fé, mas conseguimos ver os sinais da fé e da presença de Deus nas pessoas.
Nesse tempo de Advento, nós dizemos que Jesus já está por perto, que ele está vindo ao nosso encontro. Mas quais são as marcas que deixamos como pessoas e como igreja luterana que demonstram que Jesus está por perto?
Quando olhamos em nossa volta, o que vemos parece não ter nada a ver com a presença de Deus. Temos várias pessoas doentes em nossa comunidade. Temos pessoas solitárias, viúvas(os), que nessa época de Natal se sentem ainda mais sozinhas. Temos mais pessoas desempregadas que no ano passado e até famílias passando por necessidades de alimento.
Nessa situação, o apóstolo Paulo nos parece recomendar uma coisa que pode ser estranha para muitos de nós. Ele nos recomenda ORA+CÃO.
A oração invoca a presença e a grandeza de Deus para que possamos resolver o problema. A palavra ORA+AÇÃO, é a conjunção de duas palavras (ora=boca e ação). Portanto a palavra oração quer me convidar a expressar meu reconhecimento pela grandeza de Deus diante de minha pequenez. Analisar a situação, expressar nossa disposição para ajudar, mas reconhecer nossa falta de sabedoria. Deus não precisa de nossas orações, mas Deus deseja que reconheçamos que ele é o nosso Deus.
É verdade que Deus prefere atitudes de amor ao próximo como sinal de obediência a Ele, do que muitos cultos e adorações, mas a oração é o momento de silêncio pessoal diante do Pai para falar com Ele e para ouvir dele. Tem gente atrapalha mais do que ajuda. Tem gente que tem solução para tudo. Isso não é assim. Jesus incentivou o povo a buscar a Deus em oração. Ele incentivou a que se abra o coração diante do Pai e se exponha tudo que vai em nosso pensamento, todas as nossas emoções, nossas dores e alegrias e tudo que se passa em nossa vida. Jesus nos incentivou a conversar com Deus. A oração nos aproxima de Deus.
É o que Paulo exorta aos filipenses fazerem. Ele incentiva a que não esmoreçam na oração e mantenham firme este bom hábito de orar. Na oração temos oportunidade de buscar a sabedoria de Deus para ajudar da melhor forma possível. Na maioria das vezes, quando não sabemos o que fazer diante de uma situação difícil, devemos orar e pedir que Deus nos conduza, que ele nos ilumine, nos dê a sabedoria para fazer a coisa certa.
Por exemplo: Muitas vezes queremos ajudar, mas não podemos fazer ou dizer nada para aliviar a dor de alguém que está lutando contra o câncer, ou pela D. Adélia (esposa do P. Geraldo) que tem uma doença degenerativa muito rara, e até os médicos disseram que nem eles podem fazer alguma coisa, porque é uma doença que ainda não tem tratamento. Quando ouvimos isso ficamos angustiados. Nesses casos, o que podemos fazer? O que podemos dizer? Algumas pessoas dizem que podemos somente orar por elas. Ai vamos visitar essas pessoas – ou mandamos uma mensagem - e quando começamos a falar de confiança em Deus, logo descobrimos que essa pessoa tem mais confiança em Deus do que nós, que ao invés de consolar acabamos sendo consolados por quem está doente. Então pensamos que a visita – ou a mensagem - não adiantou de nada para essa pessoa. Nos enganamos ao pensar assim. Para o doente, a visita de uma pessoa amiga traz afeto, traz alegria, traz o contato com o mundo que está fora do hospital. Falar um pouco das experiências vividas renova em nós o sentimento de gratidão por ter deixado sinais na vida de outras pessoas. No final, podemos ainda orar, mas para agradecer a Deus pelas boas experiencias de vida e pedir que – se for de sua vontade – ele ajude a pessoa doente a superar a sua doença e ter ainda muitas outras boas experiencias de vida aqui entre nós.
Portanto, a prática da oração é algo muito saudável. A oração torna mais eficiente a nossa ação. Quem ora fica na dúvida: será que valeu a pena orar? Mas a pessoa que está doente e é menciona numa oração, ela sente um momento de paz.
Na igreja católica, assim como na igreja ortodoxa e no islamismo, existem os terços de oração. Nessas três confissões de fé, orar é rezar, isso é recitar textos sagrados, como o pai nosso, ave-maria, credo apostólico ou então os salmos. Nas igrejas protestantes nós ensinamos que orar é falar espontaneamente, é conversar com Deus. Mas, mesmo assim, muitas vezes, as pessoas não sabem bem como conversar com Deus. Creio que podemos usar muito bem uma técnica do papa Francisco, que é muito útil na prática da oração. Depois de começar a oração enaltecendo a grandeza de Deus, o papa Francisco nos recomenda fazer a oração dos 5 dedos.
O polegar, é o dedo mais perto do nosso corpo. Ele nos lembra de orar por quem está mais próximo de nós, pelas pessoas de nossa família e pela situação de nossa família. O dedo polegar nos lembra de orar pelas pessoas que nos recordamos mais facilmente.
O dedo indicador nos lembra de orar por quem tem a função de dar indicações aos outros, isto é, aqueles que ensinam, educam, orientam e cuidam, como psicólogos, professores(as), médicos(as), profissionais da saúde e pastores, sacerdotes.
O dedo médio, o dedo mais alto, lembra as autoridades, mas também lembra a situação de nosso país, a situação do mundo, que apesar de estarem distantes de nós afetam a nossa vida. Nessa oração devemos pedir que Deus oriente e abençoe as boas intenções e devemos pedir também que Deus confunda as más intenções e os maus projetos, que ele não deixe a maldade prosperar. Além disso, nessa oração pelas autoridades, também devemos orar pelas autoridades de nossas igrejas. Nos últimos dias foram investidos 18 pastores(as) sinodais em nossa igreja em todo o Brasil e ontem – dia 15 – foi investida a nova pastora presidente da IECLB – a pastora Silvia Genz – com os dois vice-presidentes: Pastor Odair Braun e pastor Mauro de Souza. Também eles precisam da orientação de Deus.
O dedo anelar é o nosso dedo mais fraco, como pode confirmar qualquer professor(a) de piano, por exemplo, esse dedo anelar nos lembra de orar pelos mais fracos, pelos doentes que têm necessidade da nossa oração dia e noite, por quem tem desafios a enfrentar e sente que suas forças estão acabando. Devemos orar para que o Espírito Santo seja generoso e lhes empreste o que lhes falta.
Por fim, o mindinho, o dedo mais pequeno, convida a orar por nós mesmos: Depois de ter orado por todos os outros, podemos compreender melhor quais são as nossas necessidades, olhando-as na justa perspectiva.
Martim Lutero ensinava muito sobre a necessidade de oração diária: “É bom que, de manhã cedo, se faça da oração a primeira atividade, e da noite, a última. Mas, previne-te muito bem desses pensamentos falsos e enganosos que dizem: 'Espera um pouco, daqui a pouco vou orar, mas antes ainda tenho que resolver isto ou aquilo.” Martim Lutero dizia que esses pensamentos de deixar para depois, são sussurros do próprio diabo. O diabo não quer que conversemos com Deus. Por isso, ele coloca em nossas mentes esses pensamentos de sempre deixar para depois. Assim, o diabo quer que nos esqueçamos de orar.
Esse pensamento de deixar para depois, atrapalha não apenas as nossas orações, mas atrapalha muitas outras coisas em nossa vida.
Não deixe nada para depois.
Depois até o café (e o pão de queijo) esfriam, depois o encanto se perde, depois o cedo fica tarde.
Não deixe nada para depois, porque na espera do depois, você pode perder os melhores momentos, as maiores experiências e as melhores oportunidades.
Portanto, a carta aos filipenses nos quer animar a adotar práticas de vida que nos lembrem que Jesus está por perto. Práticas que nos ajudem a encontrar força, sabedoria, perseverança para a lutar por situações difíceis que são mais fortes do que nós. Por isso, a oração, o conversar com Deus, deve tornar-se uma prática diária – um hábito – em nossa vida. Orar carrega nossas baterias, afugenta a angústia, o desespero e o medo. Orar para não desistir nas adversidades, porque sabemos que Jesus está por perto e sua sabedoria vai nos orientar no caminho e nos mostrar a maneira correta de ajudar. E ao orar por alguém, podemos ser surpreendidos por Deus, que pode mostrar que as nossas impossibilidades podem ser possíveis para Deus.
Amém