Comunicação


ID: 2771

O que Jesus ensina sobre economia?

Prédica

04/08/2019

Lucas 12.13-21

Prezada Comunidade:

Um homem pede que Jesus seja o mediador entre ele e seu irmão. Ele pede que Jesus mande seu irmão dividir com ele a herança que o pai lhes deixou. Conforme Deuteronômio 21.17, o filho mais velho tem direito ao dobro do que corresponde aos seus irmãos. Ao que parece o homem queria a metade herança. Jesus não aceita o papel de mediador. Se a lei determina o 2/3 para o irmão mais velho e um terço para ele, então não há o que discutir. Querer mudar a lei em benefício próprio, é corrupção, é avareza.

Portanto, o texto bíblico de hoje nos faz olhar um pouco para a vida das pessoas da Galileia dos anos 30, no tempo em que Jesus viveu. Temos muitas histórias e parábolas que falam da pobreza daquela época, tanto no campo como na cidade. Mas hoje temos aqui uma parábola de Jesus que fala de riqueza, de prosperidade econômica.
No campo, alguns fazendeiros estavam indo muito bem. Os esforços e investimentos desses fazendeiros dava grande retorno. A produção de grãos crescia a cada ano e, volta e meia, os silos para guardar os grãos precisavam ser maiores. Os ricos estavam ficando cada vez mais ricos. Mas, de repente, acontece algo que nem os ricos e nem pobres podem evitar: Ele morre de maneira inesperada. Tudo acaba de um momento para o outro.

Ao contar essa parábola Jesus não está questionando o fato de o homem ter conseguido bons resultados pelo seu trabalho. Jesus não questiona o fato de ele ter muitos bens. No entanto, o que Jesus questiona é o acúmulo de riquezas, sem responsabilidade social. Esse rico fazendeiro foi surpreendido ano após ano com grandes colheitas. Era tanta abundância que ele nem sabia o que fazer. Que farei? Construirei armazéns maiores para guardar tanta abundância. O que Jesus questiona é o fato de que ele somente pensar em si mesmo. No centro de sua vida só tem lugar para ele e seu bem-estar. Nos seus pensamentos, ele não tem lugar para Deus, nem para as pessoas que trabalham com ele, ou então os pobres daquela terra. Ninguém tem lugar nos seus pensamentos. Ele somente pensa em si mesmo. “Homem feliz! Você tem tudo de bom que precisa para muitos anos. Descansa, coma, beba e alegre-se” (v. 19).

Jesus questiona aqui as pessoas que são muito abençoadas em sua vida, mas que não conseguem ser gratas a Deus e nem conseguem ser solidárias e generosas com as pessoas que estão à sua volta. Jesus diz que nisso se mostra o poder do pecado sobre nós. Faz de nós pessoas egocêntricas e avarentas que não conseguem mais pensar nos outros.

Mas o pecado não mora apenas no coração das pessoas. O pecado também está instalado em formas de vida, em estruturas sociais e econômicas que não distribui a riqueza produzida no pais, nem respeita a Criação de Deus, ao contrário, estimula ainda mais a destruição do meio ambiente, contamina as águas, o ar e o solo - com o argumento de que o mundo precisa de cada vez mais de comida.

Estima-se que a população mundial chegou a 8 bilhões. Toda essa gente quer comer. No entanto, não falta comida. A FAO, que é a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação diz que pelo menos metade desses 8 bilhões vive na pobreza e um bilhão de pessoas vive com fome crônica. Não falta comida porque atualmente já se produz alimentos para alimentar pelo menos 11 bilhões de pessoas. O problema da fome do mundo não é falta de comida, mas é a comida armazenada. Essa comida não pode ser distribuída porque excesso de produtos no mercado gera queda de preços. Pelas leis do mercado, é melhor deixar que parte da comida se perca no transporte, no armazenamento do que distribuir essa comida para quem tem fome.
No entanto, a parábola de Jesus questiona o acúmulo de bens numa realidade de milhões de pobres e miseráveis. A parábola questiona pessoas e estruturas sociais e econômicas que nem sequer pensam nos necessitados a sua volta. O pecado daquele fazendeiro na parábola de Jesus foi que ele deixou de lado o mandamento do amor ao próximo. E de repente tudo para: “Seu tolo. Essa noite você vai morrer. E aí, quem ficará com tudo o que você guardou” (v.20). Deus te deu a vida, mas um dia Deus também vai te chamar. E haveremos todos de prestar contas sobre a herança, o exemplo de vida que vamos deixar deixar aqui?

Essa história nos choca porque o ser humano em geral não gosta muito de pensar sobre a realidade atual em que vivemos. A parábola questiona pessoas e estruturas sociais e econômicas que nem sequer pensam nos necessitados a sua volta. Aquele homem da parábola deixou de lado o mandamento do amor ao próximo. E de repente tudo para: “Seu tolo. Essa noite você vai morrer. E aí, quem ficará com tudo o que você guardou” (v.20). Ou em outras palavras:

Que herança, que lição de vida você vai deixar? 
Essa história nos choca porque o ser humano não gosta muito de pensar sobre a realidade atual em que vivemos. Cada pessoa está preocupada apenas com a sua situação. Por exemplo, vivemos num país cheio de desigualdades sociais, econômicas, políticas, religiosas. Tem 12 milhões de desempregados e tem 20 milhões de pessoas que já desistiram de procurar emprego e estão se virando entregando comida, dirigindo por aplicativos ou trabalhando por conta própria. São 32 milhões de pessoas. Isso é mais de 30% da população em idade produtiva fora da previdência, por exemplo. 
Mas, a quem incomoda essa situação? Nem mesmo o governo se incomoda. Não vemos perspectiva de geração de empregos. A proposta é reduzir ainda mais os direitos dos mais pobres. Essa situação vais nos tirar o sono em pouco tempo. Uma parte não vai poder dormir de fome e a outra parte não vai poder dormir de medo de quem tem fome. 

O teólogo alemão Jürgen Moltmann escreveu um livro chamado “Ética da Esperança”, que fala sobre uma economia inspirada nos valores do Reino de Deus. Ele diz no seu livro que o oposto ou a alternativa contra a pobreza não é a riqueza, mas é a solidariedade e a vida em comunidade. A pobreza se combate com medidas políticas que promovem o emprego, que garantem a saúde pública, a educação, o transporte e a segurança. No campo, a pobreza se combate com incentivo a produção familiar, pois ela garante o alimento diário – de boa qualidade - sobre as nossas mesas.

Portanto, do ponto de vista de Jesus, é uma insensatez substituir a cooperação amigável, a solidariedade, a busca do bem-comum de toda a humanidade por uma economia avarenta e destruidora da natureza. A economia deve retirar as riquezas da mãe terra, sem forçá-la, para que também os nossos netos tenham condições de viver nela. Portanto, a alternativa não é nem a riqueza, nem a pobreza, mas fortalecer a vida em comunidade. É na convivência que as pessoas tornam-se plenas e abundantes em relações, em confiança, em auxílio mútuo, em amparo e cuidados, em ideias e forças, em energias de solidariedade e do amor recíproco. 

Esse ano estamos celebrando os 195 anos da imigração luterana no Brasil. E nesses 195 anos temos visto que as comunidades que têm experimentado a presença de Deus e vivido o amor em sua plenitude têm deixado inúmeros testemunhos de solidariedade. Creches, escolas e hospitais são consequência dessa vivência solidária; auxílios emergenciais diante de catástrofes; apoios às instituições que atuam pela paz e pela justiça; iniciativas de economia solidária e de revitalização de nosso planeta; manifestações contra discriminações. Portanto, para que nossos netos(as) tenham um futuro melhor, com menos violência, com mais paz e justiça, além de trabalhar muito, como seguidores e seguidoras de Jesus e como luteranos e luteranas nós nunca devemos abrir mão de a cada dia IR CONSTRUINDO UMA MESA MAIOR E NÃO UM MURO MAIS ALTO.

O Evangelho de hoje nos quer ajudar a avaliar nossa forma de vida e também o nosso sistema socioeconômico. Por mais que um determinado sistema produza um desenvolvimento tecnológico e um aumento das riquezas e dos ingressos de um país, sempre cabe perguntar pela distribuição interna dos benefícios. Se o sistema marginaliza e exclui seres humanos, ele é avarento. Martin Lutero ensinou que a economia deve ter a função de alimentar o povo, a política tem por função de manter a justiça e proteger os mais pobres e a igreja tem a função de ensinar as pessoas a solidariedade que Deus quer entre as pessoas. 

Por isso, Jesus também se dirige a nós e nos pergunta: Se Deus lhes chamasse hoje, que herança, que exemplo de vida vocês vão deixar?
E como será a nossa conversa com Deus quando ele nos perguntar, se nós em vida na terra tratamos ou não de fazer a sua vontade?. 
Amém.

 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 52732
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