Comunicação


ID: 2771

O que eu preciso aprender dessa situação?

Um pouco de igualdade de gênero no Evangelho de Lucas

23/12/2018

 

Lucas 1.39-55

Prezada Comunidade:

O Evangelho de Lucas tem uma preocupação especial com a igualdade de gênero, quando fala das histórias e dos ensinamentos de Jesus. O evangelista se preocupa com o equilíbrio nos relatos, ora relacionado com mulheres, ora relacionado com homens.

Por exemplo: O evangelista Lucas fala de um homem que planta o grão de mostarda, mas também fala de uma mulher que esconde um pouco de fermento na massa (Lc 13.18-21); Fala de um homem que sai a procura da ovelha perdida, mas também fala de uma mulher que procura uma moeda perdida (Lc 15.4-10); Conta a história da morte do filho único da viúva, mas também conta o desespero de Jairo, que vê sua única filha morrendo (Lc 7.12; 8.42); O evangelista Lucas conta a história da cura no sábado da mulher encurvada e conta também cura - num sábado - de um homem com as pernas e os braços inchados (Lc 13.10-17; 14.1-6); O Evangelho traz duas listas com as pessoas que seguem Jesus - uma de homens, em Lc 6.12-16 (Pedro, André, Tiago, Felipe, João, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Simão e Judas) e outra só de mulheres (Maria, Maria Madalena, Joana e Susana) em Lc 8. 1-3.

Isso é interessante porque geralmente as mulheres ficam à margem da história, nem são mencionadas. Mas aqui no Evangelho de Lucas elas tem um papel de destaque, no mesmo nível que os homens.

Hoje ouvimos uma dessas histórias que envolve somente mulheres. Maria visita Isabel e depois que Maria entendeu os planos de Deus, Maria exalta a grandeza de Deus através de um Cântico.

O pastor emérito Silvio Meincke – autor de vários livros publicados pela Editora Sinodal – e sua esposa Maike S. Ulrich - também Pastora na Alemanha - destacam que nesse texto bíblico se enfatiza que uma garota (Maria) fica grávida sem ter relação com um homem. É virgem e vai ser mãe. Depois de muitas dúvidas, pesadelos e mensagens de anjos, o carpinteiro José toma essa garota grávida como sua esposa. Também assume a paternidade da criança que vai nascer (Mateus 1.18-25).

Os evangelistas dizem que Maria engravida por decisão divina, pela força de Deus que chamamos Espírito Santo. Através dessa história o Pastor Silvio e a Pastora Maike entendem que Deus expressa aqui a real possibilidade de uma nova convivência entre as pessoas, de um relacionamento humano novo; Eles entendem que nessa história Deus expressa um relacionamento que não é determinado pelo domínio de uns sobre os outros, muito menos pelo domínio de homens sobre mulheres.

Na língua que os evangelistas falavam, o Espírito de Deus é do gênero feminino. Quando dizem que o menino da manjedoura nasce da força desse Espírito, eles querem dizer: NA ESTREBARIA DE BELÉM INICIA ALGO TOTALMENTE NOVO. Novo, porque corresponde à vontade de Deus. Trata-se de algo tão novo que não brota de uma força masculina. A história do Natal anuncia uma nova realidade, que não se baseia no poder dos patriarcas; a história de Maria contesta o heroísmo dos vencedores que pisam nos vencidos. Por isso, Maria louva e canta: “Deus derruba dos seus tronos os reis poderosos e põe em altas posições os humildes” - Lucas 1. 52.

A virgindade de Maria desmente a ideia de que todas as estruturas devem ter um homem poderoso no comando, pois a sua gravidez não precisou de nenhum homem para gerar o que é novo.

Essa bela história de Natal deixa claro que nem toda estrutura familiar precisa ter um homem que fecunda e uma mulher que é fecundada. A forma como os evangelistas contam a história do Natal traz um conforto carinhoso às famílias que tem estrutura não convencional, não costumeira, não clássica; dá consolo às famílias que vivem uma estrutura familiar diferente. Ela dá razão a uniões variadas, com ou sem filhos. O que importa é o carinho, o aconchego, o bem querer, o cuidado de uns pelos outros.

Maria – a mãe de Jesus – ainda era uma adolescente. Tinha por volta de 15 anos. Ela estava muito preocupada. Provavelmente não havia contado nada ainda para sua família. Ela ainda era muito jovem e ficou grávida antes do casamento. Maria era a prometida para o José. E quando José ficou sabendo que ela estava grávida, ele sentiu-se traído por Maria. Ele achou que Maria tinha se deitado com outro homem, porque ele sabia que ele não era o pai da criança. Podemos imaginar a tremenda angústia de Maria. Ela não entendia nada. Para entender o que Deus estava fazendo, foi preciso muito diálogo, muita conversa.
- diálogo do anjo Gabriel com Maria (Lc 1.26-38)
- diálogo entre José e Maria (Mt 1.19)
- diálogo do anjo Gabriel com José (Mt 1.20-24)
- e o diálogo com uma pessoa mais experiente como Isabel (Lc 1.39-45) 

É através do diálogo que Maria (e também José) foram compreendendo onde estava a ação de Deus no meio daquela situação de angústia. Também você percebe que sua vida virou de cabeça para baixo? Também você não está entendendo nada do que está acontecendo com você? Quem sabe, não é Deus que também está querendo transformar alguma coisa através de você! Por isso, nos momentos de angustia, de dúvida, de confusão – pergunte-se você também: O que Deus quer que eu aprenda com essa situação? O que Deus está querendo me mostrar que eu ainda não vi? É na conversa com outras pessoas, é prestando atenção ao que acontece a nossa volta, que nós vamos compreendendo o que Deus quer nos ensinar. 

A forma como Isabel recebe a amiga é fundamental para o início de uma boa conversa. Ela abre os braços, alegra-se com a visita de Maria. Isabel sente que o seu filho na barriga também se mexe.
Apesar da grande diferença de idade – Maria com 15 anos e Isabel com 80 anos – essas duas mulheres se encontram como amigas. E é isso que Deus quer mostrar quando visita seu povo. As visitas, precisam ser manifestações de afeto, de carinho. O convívio entre as pessoas da comunidade/da igreja só será enriquecedor se for caloroso, afetuoso, senão será automático, centrado unicamente no racional. Através da visita e do diálogo, problemas podem ser resolvidos, depressões podem ser superadas.

Por isso, a igreja de hoje deveria proporcionar mais espaços de diálogo, onde as pessoas pudessem falar de suas dúvidas, de suas preocupações e de suas angústias. Nós podemos ouvir a Palavra de Deus no momento do culto, mas sem diálogo, não podemos entender o sentido da vida. Sem diálogo, não conseguimos entender a manifestação de Deus em nossa vida.

E foi através do diálogo que Maria foi compreendendo que toda aquela situação de angústia, de medo, de insegurança, na verdade era o início de uma grande manifestação de Deus. Depois de compreender os planos de Deus, Maria exalta a grandeza de Deus. Ela não fala de si. Ela reconhece a grandeza de Deus, expressa sua alegria e seu agradecimento porque o Senhor se fixou em sua pequenez. O fato de ser favorecida por Deus provoca nela o sentimento de gratidão e de louvor.

O Cântico de Maria fala do verdadeiro sentido do nascimento do Filho de Deus. O nascimento do Filho de Deus é o cumprimento da esperança dos profetas, que anunciaram centenas de anos atrás que com o nascimento do Filho de Deus se instalaria nesse mundo o reinado de Deus – reinado de paz e de justiça. Deus virá para transformar esse mundo. Deus vai fazer uma completa inversão de valores: as pessoas pobres, doentes e fracas terão vez, dignidade e vida abundante. Porque o coração de Deus sempre esteve mais perto do sofrimento humano.

Agora Deus está decidido. Ele enviará o seu próprio Filho para iniciar essa transformação. E nada e nem ninguém poderá detê-lo. A manifestação de Deus será tão forte que Deus até os poderosos podem cair dos seus tronos. As pessoas que se sentem seguras em suas posições de poder podem cair – de um momento ao outro - como fruta madura que cai da árvore. O Cântico de Maria diz que os pobres – e os que forem solidários com os pobres – esses terão no Filho de Deus um Salvador, mas os poderosos, os opressores , e os que se opuserem a esse projeto libertador de Deus – esses terão no Filho de Deus um Acusador. 

Maria se sente agradecida a Deus porque ela entendeu a vontade de Deus. Ela se sente agradecida porque ela é uma recebedora dessa graça divina, desse entendimento sobre o significado do nascimento do Filho de Deus. Deus está preparando a sua participação ativa na transformação desse mundo. E ela - Maria – José – Isabel, Zacarias – todos são participantes dessa manifestação de Deus. 

É assim que nós, protestantes, devemos respeitar e olhar para Maria. Como uma participante ativa no projeto de Deus para transformar esse mundo. Para nós protestantes, Maria não é uma santa, mas é uma pessoa entendeu que o nascimento do Filho de Deus tem como finalidade transformar esse mundo. 
Martim Lutero fez um comentário sobre esse texto dizendo assim:

''Maria nos diz aqui claramente: Deus olhou para mim, moça pobre, desprezada, simples, quando bem poderia ter encontrado uma rica, distinta, nobre, poderosa rainha, filha de príncipe ou grande senhor. Poderia muito bem ter escolhido a filha de Anás ou Caifás, que eram os chefes da nação. Mas ele voltou seus olhos tão bondosos para mim e se valeu de uma serva tão simples e desprezada, para que ninguém se glorie na presença de Deus, dizendo que mereceu ou merece tudo isso. Também eu devo confessar que isso é pura graça e bondade de Deus, e de forma nenhuma mérito ou dignidade minha.''

Portanto, o Cântico de Maria expressa alegria e júbilo porque Deus vai transformar esse mundo. Deus não vai fazer isso através dos poderosos. Os poderosos que se cuidem. Até mesmo os poderosos das religiões e das igrejas. Eles podem cair de um momento ao outro quando Deus se manifestar. Deus vai transformar esse mundo a partir das pessoas pobres e humildes, através dos movimentos sociais. Nossa tarefa como igreja é fazer com as comunidades compreendam que nós temos um papel importante no projeto de transformação de Deus. Esse projeto de Deus nos foi ensinado e demonstrado por Jesus. 

Que nesse Natal, Deus nos dê uma visão de mundo e nos encha de esperanças. Que Deus nos faça ver o mundo que ele quer transformar. Que Deus nos dê a mesma visão de transformação e entendimento que ele deu a Maria. A visão de um mundo onde os fracos, são protegidos e ninguém mais sofra de pobreza e de fome. Uma visão de mundo onde os recursos e bens materiais são compartilhados e todas as pessoas possam desfrutá-los. Uma visão de mundo onde as nações, raças e culturas possam viver em tolerância e respeito mútuo. Uma visão de mundo onde a paz será possível somente quando houver também justiça social.

Para transformar esse mundo, Deus quer contar com a nossa participação. Deus não vai esperar a colaboração dos poderosos. Ele quer contar com a minha e a tua participação. Que Deus nos dê coragem e inspiração para crer e enxergar a manifestação de Deus em direção a este mundo novo. Por nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
 

MÍDIATECA

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