Comunicação


ID: 2771

No corpo de Cristo - Deus distribuiu diferentes dons, alguns mais dificeis que outros.

Prédica sobre Efésios 4.1-16

05/08/2018

Efésios 4.1-16

Na Turquia, na recém criada Comunidade de Éfeso, lá pelo ano 50 dC, acontece uma celebração de Batismo. A água fria escorria pela cabeça e pelo pescoço das pessoas que haviam sido batizadas. Enquanto sentiam arrepios durante as orações batismais, pequenas gotas escorriam da ponta dos cabelos e caiam no chão, formando pequenas poças junto aos seus pés. As gotículas desenhavam pequenos círculos, enquanto a água rolava pelo chão juntando-se com outras pequenas poças. Com essa imagem o apóstolo Paulo diz que as pessoas ali reunidas são diferentes entre si, de diferentes etnias, nacionalidades, idades e classes sociais, mas a água e a Palavra do Batismo une a todas para que começassem a viver uma nova vida, iluminada pela vontade de Cristo. O batismo faz com que as pessoas formem um só corpo – um novo corpo - o corpo de Cristo. O batismo faz com que as pessoas sejam o corpo de Cristo aqui na terra, falando da vontade de Deus, ajudando aos mais necessitados, amando uns aos outros. Isso foi chamado de igreja: O novo corpo de Cristo – formado pelas pessoas batizadas – representa a presença de Cristo nesse mundo.

E assim foram surgindo as primeiras igrejas cristãs, como grupos de pessoas escolhidas pela graça de Deus e que tinham uma tarefa: ser o corpo visível de Cristo aqui na terra. Essa é a mensagem do apóstolo Paulo na carta aos Efésios.

Durante 3 anos (52-55aC) o apóstolo Paulo foi o pastor da Comunidade de Éfeso. Nesse período ele viu que as pessoas batizadas também necessitavam de orientação para viver como corpo de Cristo. O batismo é o início de uma vida de fé e o batismo requer um processo educativo na fé para sermos seguidores de Jesus Cristo.

Sem essa educação na fé – a comunidade cristã - o corpo de Cristo – corre o risco de deixar de ser o corpo de Cristo. Por exemplo, lá na Comunidade de Éfeso o principal problema era a divisão entre as pessoas de origem judaica e as pessoas que vinham de outras nacionalidades. Quem era de origem judaica se considerava superior aos demais e assim logo se estabeleceu um conflito nessa Comunidade.

A comunidade cristã se deteriora quando se afasta dos ensinamentos de Cristo. Por isso, o apóstolo Paulo destaca que se fomos batizados – então somos o corpo de Cristo – e, portanto, devemos viver de modo digno com o que Deus deseja de nós. Isso começa com ser humildes, bem-educados e pacientes, suportando uns aos outros com amor. Porque há um só corpo, um só Espírito, uma só esperança, há um só Senhor, uma só fé e um só batismo, um só
Deus que é Pai de todos e age por meio de todos (Ef 4.1-6).

E como Deus age nesse mundo? O apóstolo mesmo Paulo responde: Por ocasião do Batismo, cada um de nós recebeu um dom especial de Cristo. No momento do Batismo, Cristo deu dons às pessoas. Alguns para serem apóstolos, outros para serem profetas, outros para serem evangelistas, outros para serem pastor@s e ainda outros para serem mestres da Igreja. A tarefa comum de todos eles é preparar a igreja - o corpo de Cristo - para o serviço cristão. O objetivo é que a comunidade cristã venha a se constituir de pessoas maduras, que alcancem a altura espiritual de Cristo. Que não sejam mais como crianças, arrastadas pelas ondas e empurradas por qualquer vento - isso é - por qualquer ensinamento.

Portanto, o apóstolo Paulo nos diz que na igreja - no corpo de Cristo - Deus distribuiu diferentes dons. Também cada um de nós recebeu um dom especial de Deus. E a parábola dos talentos que Jesus contou em Mateus 25.14-30 nos diz que um dia Deus vai nos perguntar o que fizemos com o dom que Ele nos deu?

Também nós, pastores, pastoras, ministros e ministras da IECLB temos dons diferentes. Alguns dons são mais difíceis de aplicar que outros. Por exemplo, o dom da visitação. Para alguns de nós isso é fácil, para outros é algo bem difícil. Alguns colegas tem uma grande dificuldade para visitar as pessoas nas casas, ou os doentes nos hospitais, as famílias enlutadas ou as pessoas que estão na prisão. No entanto, eles têm outros dons especiais que Deus lhes concedeu. Na igreja somos todos iguais diante de Deus, mas cada um de nós tem um dom especial.

Por isso, deveríamos olhar para as outras pessoas na igreja, a partir dessa perspectiva: Somos iguais diante de Deus, mas ao mesmo tempo somos diferentes, porque Deus nos concedeu dons diferentes. No texto de Efésios 4.1-16, o apóstolo Paulo nos adverte dizendo que não devemos ser como algumas pessoas da Comunidade de Éfeso, que brigavam entre si porque uns se achavam superiores ou melhores do que os outros. Todo o contrário, ao invés de julgar quem tem um dom especial, deveríamos antes orar por ele.

Tem gente que recebeu um dom muito difícil do que o meu. Por exemplo, esses dias o pastor Inácio Lemke visitou na cadeia o ex-presidente Lula. Muitas pessoas se perguntam: Por que ele foi lá? Ele mesmo responde dizendo que ele se sentiu chamado a visitar o seu amigo. Ele disse que já conhecia o Lula há mais de 40 anos. Será que foi uma tarefa fácil ou difícil? Penso que deve ter sido uma tarefa muito difícil. Quando ele foi convidado para fazer essa visita, ele certamente ficou preocupado, teve seus momentos de dúvida, de medo, talvez até de insônia diante dessa missão. Ele sabia que fazer essa visita teria consequências críticas.

Tem gente que disse: Ele não deveria ter ido lá como pastor, mas apenas como cidadão. Ora, eu estou a 30 anos no pastorado e ainda não sei como separar o pastor do cidadão. Quem é pastor(a) perde a individualidade. Não importa se estamos dentro ou fora da igreja: sempre seremos vistos como pastores(as).

Como colegas no ministério pastoral, como membros da igreja luterana podemos não concordar com o Lula ou com o PT. Na IECLB nenhum pastor ou pastora da IECLB diz em quem os membros devem votar. Tem igreja que faz isso descaradamente. Mas a IECLB não! Por isso, essa visita não tem nenhuma intenção de dizer aos membros em quem eles devem votar nas próximas eleições. Foi apenas uma visita pastoral.

Deus chamou o P. Inácio, assim como ele chama outras pessoas a exercer o dom que receberam de Deus. Quem estudou Teologia sabe de inúmeros exemplos na Bíblia e na História da Igreja onde pessoas foram chamadas por Deus para coisas muito difíceis. O profeta Jeremias não queria ser profeta, o profeta Jonas tentou enganar a Deus, Como luteranos e luteranas sabemos que Martim Lutero foi criticado, expulso, excomungado da igreja católica romana e proscrito como cidadão por causa do chamado de Deus.

Portanto, como pastor da igreja eu só posso dizer ao P. Inácio: Meu irmão, que bom que você aceitou esse chamado de Deus. Se Deus tivesse me chamado para essa tarefa eu acho que não teria dado conta. Por medo, eu teria deixado Deus na mão. Com tantas ameaças que você está recebendo eu quero dizer que estou orando por você. Que Deus te abençoe.

O apóstolo Paulo nos diz que orar uns pelos outros é uma atitude de pessoas maduras na fé, de pessoas que alcançaram a altura espiritual de Cristo. (v. 15). Orar uns pelos outros, isso favorece a unidade do corpo de Cristo, a unidade da igreja. Mas tem uma coisa importante: não dá para orar uns pelos outros com as mãos cheias de pedras. Para orar precisamos largar as pedras primeiro. Como ministros e ministras da IECLB, como membros da IECLB, podemos pensar diferente e nem por isso somos adversários ou inimigos uns dos outros. A igreja não é um partido politico onde todo mundo tem que pensar igual. Quem não pensa igual é expulso. Na igreja não devemos ser assim. Se isso acontecer, então deixaremos de ser o corpo de Cristo. Na igreja somos todos irmãos e irmãs.

O que é perigoso para a igreja é quando o espírito do medo se torna mais forte que o chamado Deus. Quando pastores e pastoras não aplicam mais os seus dons especiais– não respondem mais ao chamado de Deus - por medo de crítica, por medo de serem processados, julgados e condenados. Nesse caso, a igreja deixará de ser corpo de Cristo para tornar-se um clube ou um partido político que somente permitirá acesso a quem fizer o mesmo juramento.

A igreja deve ser o corpo visível de Cristo nesse mundo, onde cada pessoa batizada é parte desse corpo de Cristo e onde cada um de nós tem um dom a exercer. A tarefa da igreja não é semear o medo no corpo de Cristo, mas sim a confiança em Deus. Jesus não veio para colocar medo nos seus seguidores, ao contrário, Jesus sempre libertou os seus seguidores do medo. Por isso, não deixemos de orar por aquelas pessoas a quem Deus deu tarefas e dons mais difíceis de cumprir. Oremos para que Deus seja sua fortaleza em meio as tribulações. 

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com cada um(a) de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Efésios / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 48180
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