Comunicação


ID: 2771

Uma história que se repete

Marcos 6.14-29

15/07/2018

 

Marcos 6.14-29

A festa de São João é uma das mais antigas festas populares. No Hemisfério Norte – entre os povos germânicos - ela tem a ver com a maturação dos grãos. A partir do século V a festa de São João foi integrada ao calendário eclesiástico. Era uma festa muito popular. Algumas pessoas perguntaram a Martim Lutero se era correto participar desse Festa católica? Lutero respondeu de forma bem clara: Nós comemoramos essas festas por causa do ministério de João Batista. João Batista anunciava a Cristo. Por isso, a Festa de João Batista deve ser enaltecida como a festa de Cristo.

Nós sabemos que João Batista veio antes de Jesus para anunciar as pessoas que Deus deseja uma mudança de vida nas pessoas. Deus não está feliz com o sofrimento, a pobreza, a falta de vida digna. Para transformar essa realidade injusta, era preciso primeiro uma transformação pessoal. A conversão que pede João Batista não é para que Deus abençoasse e salvasse apenas @s convertid@s. Deus se preocupa com toda a sua criação. Por isso, a conversão que Deus pede é que cada pessoa deixe de pensar somente no seu bem-estar e passe a pensar no bem-estar de toda a Criação de Deus. Por isso, João Batista proclamava: Arrependei-vos e sejam batizados e Deus perdoará vocês. (Mc 11.4).

Depois de mim, dizia João Batista, virá alguém que os batizará com o Espírito Santo. Ele vos ensinará a viver como Deus deseja. Até lá, diz João Batista, quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem nenhuma e quem tiver comida reparta com quem não tem. Aos cobradores de impostos ele dizia: Não cobrem mais do que a lei manda. Aos soldados ele dizia: Não aceitem suborno, nem maltratem ninguém por conta de acusações falsas (Lucas 3. 11-14).
Os primeiros opositores de João Batista foram as autoridades religiosas, porque João inventou o batismo. O Batismo de João incluía perdão dos pecados. Isso era algo bastante atrevido para aquele tempo. Somente os sacerdotes podiam perdoar pecados. E para perdoar pecados era necessário que as pessoas trouxessem um sacrifício ao templo. João Batista diz que Deus só preciso de um tipo de sacrifício das pessoas: a boa vontade para mudar de valores na vida. As pessoas batizadas deviam voltar para as suas casas e começar a viver de maneira nova, de maneira diferente, como membros de um novo povo de Deus, preparados para acolher a chegada (a vinda) de Deus.

Essa pregação de João Batista incomodava as autoridades religiosas. Dizer que basta com arrepender-se e batizar-se, sem necessidade de sacrifícios no templo, nem da intermediação dos sacerdotes era algo perigoso. Os líderes religiosos não gostaram nada dessa novidade. Mas, enquanto os sacerdotes se escandalizavam, a mensagem de João Batista comoveu a muitas pessoas. João Batista denunciava sem medo o pecado do povo e também das autoridades. Certo dia João Batista acusou o rei Herodes Antipas (esse Herodes Antipas era filho do rei Herodes que ordenou a matança das crianças em Belém quando nasceu Jesus). João Batista acusou o rei Herodes Antipas de casar-se com Herodias, sua cunhada. Herodes Antipas já era casado com outra mulher. Portanto, isso era contrário a lei judaica. O rei temeu que a enorme influência de João sobre as pessoas provocasse uma espécie de revolta e considerou melhor eliminá-lo antes, que enfrentar uma situação mais difícil depois e lamentar sua indecisão. Por isso, ele prendeu e mandou executar a João Batista.

O texto bíblico que ouvimos diz que o rei Herodes Antipas estava com medo. Ele sabia que havia mandado executar a João Batista, e agora aparece Jesus que era ainda mais popular. O rei achava que esse Jesus só podia ser o João Batista ressuscitado que voltou para castigá-lo pelo seu crime.
Os poderosos sempre acham que prendendo, torturando, expulsando ou matando seus opositores – com isso se resolve a questão. Mas eles ficam apavorados quando a memória desses mártires continua viva no meio do povo. Em Apocalipse 6, versículos 9 e 10 nós lemos que as almas dos mártires – das pessoas que foram mortos pelos poderosos porque tinham sido fiéis a Deus e anunciaram a mensagem de Deus – que as almas desses mártires estavam todas elas debaixo do altar, gritando com voz bem forte: Ó Todo Poderoso, santo e verdadeiro! Quando julgarás e condenarás os que na terra nos mataram? (Ap. 6.9)

Portanto Herodes Antipas estava com medo. Para ele João Batista tinha ressuscitado em Jesus e com isso Deus iria castigá-lo pelo seu crime. E ele armou a sua defesa. O texto do Evangelho de Marcos 6.14-29 que ouvimos hoje, parece ter sido encomendado aos advogados de Herodes Antipas para dizer que a culpa pela morte de João Batista não era dele, mas de sua mulher. Foi sua mulher que o enganou e ele – mesmo sendo rei - não podia fazer mais nada. Essa questão de jogar a culpa sobre a mulher, já vem desde Adão e Eva. Mas para as comunidades cristãs isso não colou. As comunidades cristãs sabiam que Herodes Antipas – tal qual seu pai – também é um rei assassino e João Batista e todas as pessoas que ele mandou eliminar estão lá debaixo do altar de Deus gritando com voz bem alta: Ó Todo Poderoso, santo e verdadeiro! Quando julgarás e condenarás os que na terra nos mataram? Para as comunidades cristãs, um dia Deus ouvirá a oração dos mártires e a justiça de Deus virá. Com Deus a impunidade não funciona.

Não nos esqueçamos de que a mensagem do evangelho nem sempre é bem aceita, principalmente quando questiona ações e valores. Ainda hoje nos encontros de ministros e ministras de nossa igreja (e também de outras igrejas), ouvimos muitos relatos de pastores e pastoras que estão desanimad@s. Quando pregadoras e pregadores atualizam a Palavra de Deus e falam forte contra os poderosos deste mundo, logo aparecem pessoas que dizem que a igreja não deve meter-se em questões políticas, porque a igreja deve interessar-se somente pela parte espiritual. Em seguida, alguns desses críticos usam as redes sociais para pedir a cabeça dessa pregadora ou pregador, porque é comunista, do PT, dos sem-terra, etc... Por outro lado, quando pregadoras e pregadores procuram não entrar no atrito, procuram não falar de forma tão direta como João Batista, então somos taxados de “água com açúcar”, de “ovelhinha mansa”, de pessoa “sem opinião própria” e de “reacionário”. Falar de Deus hoje não é uma tarefa fácil. Pregar a palavra de Deus é uma alegria, mas ao mesmo tempo um perigo.

Mas anunciar a Palavra de Deus significa falar claramente ao povo que está perdido. E quem de nós não se sente perdido diante da nossa realidade e de nosso futuro político aqui no Brasil? João Batista diria hoje de maneira muito clara o seguinte: Vocês tem hoje o pior presidente que vocês já tiveram, mas infelizmente - asc oisas podem piorrar ainda mais com os candidatos a presidênciaque vocês têm. Hoje, olhando para trás, se pode ver que o golpe de 2016 não foi feito por quem queria melhorar o Brasil. As pessoas que ocuparam o poder são tão ruins e até piores daquelas que estavam antes. E a culpa por essa situação não é apenas dos politicos. É isso que acontece quando um povo se divide, quando as pessoas ficam se acusando umas as outras com palavras de ódio. Enquanto o povo está dividido, os maus politicos estão cada vez mais unidos, aprovando projetos e fazendo a festa com o dinheiro público.

Por isso, já é  hora de começar a deixar as nossas rivalidades políticas de lado e ouvir um pouco mais o João Batista. Ele dizia: Para transformar a realidade injusta é preciso primeiro uma transformação pessoal. A conversão que pedia João Batista não é para que Deus abençoasse e salvasse apenas aos convertidos. Deus se preocupa com toda a sua criação. Por isso, podemos dizer hoje que a conversão que Deus pede é que cada pessoa deixe de pensar somente no seu partido e passe a pensar no bem-estar do Brasil. 

E João Batista diria ainda: Essa transformação somente será possível com a ajuda de Deus. Por isso, roguem a Deus que ele lhes ajude para que vocês consigam se converter, para que mudem vossa maneira de pensar, para que não pensem somente cada um em si mesmo, mas no coletivo. Caso contrário, vocês vão se arrepender e aí não vai adiantar nada jogar a culpa em cima dos outros.
Amém.

 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 29
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 47958
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