Comunicação


ID: 2771

Jesus traz discernimento.

Seu compromisso é com o mundo ou com o Reino de Deus?

18/08/2019

Leitura de Lucas 12.49-56

Prezada Comunidade, prezados ouvintes:

Essa semana li uma notícia que me questionou como pastor e como educador. Uma pesquisa de Jean Decety, um neurocientista e psicólogo da Universidade de Chicago. A pesquisa diz que as crianças entre 5 e 12 anos criadas em ambientes religiosos nos Estados Unidos são menos generosas.
É mais fácil encontrar generosidade nas pessoas sem religião. Outra descoberta importante na pesquisa foi que a religiosidade também faz com que as crianças sejam mais agressivas e severas – por exemplo - na hora de reagir os empurrões na escola. A pesquisa conclui dizendo que o tipo de educação religiosa está diretamente relacionada com o aumento da intolerância e das atitudes punitivas. Em resumo, as crianças criadas em ambientes religiosos conservadores, intransigentes, seriam menos generosas e mais propensas a castigar e a reagir de maneira agressiva.

E agora? Eu me dediquei a ser pastor, porque eu achava que a religião cristã e a igreja luterana poderiam ajudar as pessoas a serem mais generosas, masis solidárias, mais acolhedoras, mais compreensivas. E aí leio essa pesquisa que diz que as crianças criadas em ambientes religiosas fazem justamente o contrário. O que pensar de tudo isso? Será que a Palavra de Deus para esse domingo nos ajuda a entender o que está acontecendo?

No Evangelho de hoje vemos a Jesus bastante frustrado e decepcionado com algumas pessoas na sua igreja. Jesus quer cumprir de uma vez por todas, o plano de salvação de Deus. Mas alguns de seus seguidores e seguidoras não tem o mesmo entusiasmo. E diante dessa realidade Jesus parece que joga a toalha. Será que a igreja ainda valem a pena? Será que não seria melhor que o mundo se acabe (se queime) e começar o mundo do zero outra vez?
Jesus fala então da divisão dentro da familia. Pai contra filho, mãe contra filha, irmãos querendo se matar uns aos outros. Coisas que acontecem ainda hoje. A divisão da família, das pessoas, não era o objetivo do ministério de Jesus, mas a discussão nas familias sobre temas controversos, as posições políticas radicais de apoio ou nao ao governo levam a discussões fortes. O que decepcionava a Jesus era a rejeição de uns contra os outros, somente porque uns não pensavam igual aos outros. E o que mais decepcionava a Jesus era a intolerância, sendo que os dois lados se diziam cristãos. O problema foi ficando cada vez mais sério e chegou ao ponto que algumas pessoas mais simpáticas ao governo romano chegaram a denunciar outros cristãos. A carta aos Hebreus - escrita no tempo do Imperador Nero - fala desse tempo horrivel. Aí Jesus diz que ele veio trazer divisão, ele veio trazer discernimento. Não dá para alimentar o ódio, não dá para dizer que se é cristão e ao mesmo tempo ser uma pessoa intolerante, arrogante e agressiva.

Com o exemplo da natureza Jesus diz: Vocês são capazes de entender os sinais climáticas, sabem o que vai acontecer depois de um vento forte do Sul, ou o que vai acontecer quando surgem algumas nuvens no lado Oeste. Mas vocês não conseguem entender as consequências da vossa intolerância, do vosso ódio, do vosso fundamentalismo. É como se Jesus nos dissesse hoje: Vocês têm acesso a tanta tecnologia, tem tanta informação e ao invés de usar isso para o bem, vocês usam isso para promover o ódio e as piores atrocidades jamais vistas antes.

Jesus não está contra o fato de haver divergências. Ele não está contra o fato de as pessoas terem opiniões diferentes. Um filho não pensa igual ao pai, uma filha não pensa igual como a mãe, irmãos e irmãs pensam diferente uns dos outros. Isso não é problema. O problema é quando um odeia o outro por pensar diferente, quando um não aceita o outro que pensa diferente, quando um não é mais capaz de escutar o outro e as pessoas se condenam uns aos outros apenas porque pensam diferente.

Voltando a pesquisa sobre a falta de generosidade e a intolerância entre crianças cristãs de 5 a 12 anos nos Estados Unidos, a questão fundamental não é a religião, mas que tipo de religião estamos ensinando aos filhos em nossas casas e em nossas igrejas. A convivência com pessoas adultas intolerantes, que falam com ódio das pessoas homoafetivas, por exemplo, que desprezam a igualdade de gênero, pessoas que são contra os direitos das pessoas com deficiência, das comunidades quilombolas, indígenas, contra os refugiados, e que usam a Palavra de Deus para justificar sua intransigência, isso afeta diretamente a educação das crianças. Essas atitudes radicais tem como efeito gerar a intolerância, a indiferença nas crianças e a falta de compaixão com quem é diferente.

Nesse sentido, precisamos ser sinceros e nos perguntar se Jesus também não está decepcionado com nossas comunidades, cada vez que vemos essas atitudes intolerantes se reproduzirem também dentro da igreja.

O que podemos fazer?

Certamente não ajuda ficar em silêncio. Nos momentos de extremismos, de radicalismos, não existe um caminho do meio. É necessário - como seguidores de Jesus - que manifestemos nossa indignação, nossa decepção com a forma desrespeitosa que as pessoas estão se tratando. É necessário tomar uma posição profética pelo fim do ódio e da agressividade entre as pessoas. Não é possível ficar calado quando pessoas adultas promovem a intolerância religiosa, social ou política. Se as pessoas que querem o bem e a paz se calam, então o mal vai se sentir ainda mais encorajado a continuar praticando a maldade. A maldade cresce quando a bondade se cala.

Por isso, nós que somos pais/mães, padrinhos e madrinhas devemos estar atentos ao que as crianças ouvem dos adultos em nossa família, ao que veem na internet. Até mesmo no culto infantil, devemos ter o cuidado para não contar histórias bíblicas que as crianças ainda não são capazes de entender, como por exemplo, histórias de guerras, de violência e no final da história ainda entregar uma espada de papelão para cada criança. Devemos ter o cuidado para não estimular a agressividade nas crianças. Se o seu filho(a) gosta de luta, então - antes que ele se entusiasme com o MMA - talvez seja melhor levá-lo ao judô ou outras artes marciais, onde se ensina que a agressividade somente deve ser usada para conter a violência do outro.

A carta aos Hebreus nos conforta dizendo que pessoas cristãs se mantem fieis aos ensinamentos de Jesus. Que não é fácil enfrentar os valores agressivos, mas cada vez que tratamos de substituir os valores de Jesus pelos valores da sociedade, então acabaremos colhendo incompreensão e até atitudes agressivas e violentas. Portanto, os tempos que vivemos são tempos de resistência e devemos estar alertas sobre o tipo de religião que estamos ensinando aos nossos filhos(as), afilhados(as).

Se muitas vezes não sabemos como viver a mensagem do Evangelho, se muitas vezes não sabemos o que Deus espera de nós, aqui temos um chamado muito claro. Que não sejamos promotores do ódio, da violência. Tudo aquilo que promove a violência, que humilha, que discrimina outro ser humano – isso não é de Deus.

Portanto, Jesus hoje nos quer alertar para que não entremos nesse jogo perigoso – promovido até por alguns líderes políticos – que quando falam de alguma pessoa diferente, ou de pessoas que tem opiniões diferentes – logo começam a atacar e a ofender. Esse tipo de liderança é tóxica e não merece nossa confiança.

Nós devemos ser fiéis aos ensinamentos de Jesus. São os valores de Jesus que nós precisamos ensinar aos nossos filhos(as). Caso contrário, nem mesmo Deus – com toda sua misericórdia - poderá nos salvar.

Greta Thunberg é uma adolescente sueca, batizada luterana, – que ao nascer foi diagnosticada com sindrome de Asperger (que é uma forma de autismo) – Hoje essa menina tem 16 anos e ela  ficou conhecida por protestar diante do parlamento sueco, e chamar a atenção dos estudantes da Suécia para as mudanças  climáticas. Greta conta que ouviu falar pela primeira vez em mudança climática na escola, quando tinha cerca de oito anos e seus professores mostraram fotos de ursos polares famintos, florestas desmatadas e plásticos nos oceanos. Em 20 de agosto de 2018, depois um verão com fortes ondas de calor e incêndios  em vários lugares da Suécia, Greta decidiu não frequentar a escola as eleições gerais de 9 de setembro de 2018, . Ela decidiu que alguma coisa precisava ser feita. Começou a protestar sozinha diante do parlamento sueco com um cartaz que dizia Greve Escolar Pelo Clima. Seus pedidos foram que o governo da Suécia reduzisse as emissões de carbono, de acordo com o Acordo de Paris. Aos pouco centenas de outros estudantes se uniram ao protesto de Greta. Quando lhe perguntavam se não seria melhor ela estudar primeiro e depois de ter uma profissão ela poderia tentar mudar o mundo, ela respondia: De que adianta estudar agora se nós não vamos ter futuro. Ela ganhou atenção mundial e inspirou milhões de adolescentes de todo o mundo que começaram a fazer protestos semelhantes em outros países e no dia 15 de março aconteceu a primeira greve escolar global, quando estudantes foram as ruas para protestar em favor do clima, inclusive aqui no Brasil.
Após as eleições gerais, ela continuou a greve somente nas sextas-feiras. Hoje, ela conta com 1,5 milhão de seguidores no Instagram.

Nós podemos viver num mundo menos violento, mais tolerante, um mundo onde todas as pessoas e a natureza sejam tratadas com dignidade e respeito. Se esse mundo ainda não existe, cabe a nós construí-lo, no dia a dia. Está cada vez mais difícil esperar que boas mudanças dos governos. Por isso, como igrejas e comunidades religiosas, devemos falar de pequenas atitudes como a dessa menina sueca que representam sinais de esperança. São atitudes assim que certamente Deus deseja incentivar também nos nossos filhos(as), afilhados e afilhad@s. Nossa tarefa como adultos é incentivar e motivar nossos filhos(as), afilhados(as) a fazerem algo de bom com as suas vidas. Ao invés de promover atitudes intolerantes, Jesus deseja que cada um(a) de nós façamos algo de bom com nossas vidas.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém.


 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 49 / Versículo Final: 56
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 52855
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