1 Corintios 1.1-9
João 1.29-42
Prezada Comunidade e estimados rádio-ouvintes:
Estamos em pleno verão e as temperaturas estão altas em todos os lugares do Brasil. Por isso, gostaria de começar contando uma história de frio. Uma história que fala de inverno. Talvez a história ajude a que nos refresquemos um pouco.
O Inverno no ano passado teve dias bastante frios no Sul do Brasil. As geadas apareceram cedo. Além do frio, começavam a aparecer as doenças típicas desta estação. Bronquite, asma, gripe.
Também os animais sofrem bastante com o frio. Alguns aparecem mortos depois da primeira geada. Morrem indefesos diante das baixas temperaturas e do alto grau de umidade.
Foi aí que uma grande manada de porcos-espinhos decidiu fazer algo para garantir a sobrevivência. Alguém sugeriu que se ficassem juntos, bem perto uns dos outros, o calor dos seus corpos poderia aquecer uns aos outros de forma que todos ficariam aquecidos naquelas noites frias. E assim fizeram.
Passou o tempo, e começaram as reclamações. Um reclamava daqui, outro dali, um não queria ficar perto deste, preferia aquele e assim por diante. A situação foi se agravando que uns começaram a falar mal dos outros. E quanto mais nervosos ficavam, tanto mais seus espinhos ficavam ouriçados, até que esses espinhos começaram a ferir uns aos outros. Já não podiam mais ficar juntos por causa dos espinhos.
Feridos e magoados, resolveram se separar. Não dava mais para continuar juntos. Por isso, foram se afastando uns dos outros até a completa separação.
Mas o inverno e as noites frias não haviam terminado. Separados da manada, alguns porcos-espinhos chegaram a morrer congelados. E a cada noite a situação ficava mais difícil. Logo, resolveram reunir-se outra vez. Decidiram que para viver juntos e sobreviver àquele inverno precisariam tomar algumas precauções. Viveriam unidos, mas conservariam uma certa distância um do outro. Um pouco de distância ajuda a conservar o respeito de uns para com os outros. Comentários maldosos não deveriam existir. Todos deveriam entender que ali uns precisam dos outros. Os problemas deveriam ser conversados. Aprenderam que um bom convívio não é aquele que une pessoas (porcos-espinhos) perfeitas, mas aquele em que cada um aprende a conviver respeitando o outro.
A história dos porcos-espinhos nos quer dizer que cada um(a) de nós é uma espécie de porco-espinho. Nós costumamos ferir os outros, com grande facilidade. Ferimos principalmente aquelas pessoas que estão mais perto de nós. Devemos nos conscientizar disso.
Essa história nos leva até a carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, que é dirigida a pessoas que também viviam em rixas, conflitos e divisões. Alguns se sobrepunham aos outros e humilhavam os outros. No entanto, ao invés de criticar essa comunidade, o apóstolo Paulo começa fazendo elogios (1Cor 1.1-9). Ele agradece a Deus pela graça dada aos coríntios. Tratava-se de uma comunidade ativa, com pessoas engajadas, exercendo diferentes dons. Portanto, antes de falar dos problemas da Comunidade, o apóstolo Paulo elogia essa comunidade. Essa é uma coisa muito importante para começar o diálogo. Como é bom quando alguém – antes de nos chamar a atenção - começa destacando algo de bom em nós. Depois desse primeiro passo, é que o apóstolo Paulo vai falar dos problemas internos que são ciúmes, conflitos e divisões.
O apóstolo Paulo sabe que a convivência é algo muito frágil, que precisa ser cuidada. Facilmente nos esquecemos disso. Sem querer, nós começamos a nos comportar de maneira agressiva e até ofensiva. E quando alguém nos chama a atenção sobre esses nossos desvios, costumamos ficar chateados. Isso não acontece somente na igreja, mas é muito comum também na família, na relação matrimonial, no trabalho. Convivência exige cuidado.
Diante dos conflitos, o Evangelho de João nos faz lembrar que como pessoas cristãs podemos resolver nossos conflitos com uma atitude muito simples. João Batista aponta para Jesus Cristo. Aí está o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. É a Ele que vocês devem seguir! (Jo 1.29 e 40). Volta e meia também nós precisamos olhar para Jesus e colocar nossas atitudes e nossas palavras sob a sua luz.
Divergir é natural. O desentendimento pode ser civilizado, interessante e produtivo. Mas, o problema é que nós vivemos em um mundo saturado de divergências. As pessoas discutem sobre qualquer coisa. Esse tipo de atitude é, com bastante frequência, uma poderosa força de sofrimento: ficamos com raiva e consternados com as opiniões dos outros e nos sentimos intensamente incomodados por elas; nos sentimos derrotados; agonizamos, ensaiamos o conflito em nossas cabeças.
Mas, como então divergir da opinião do outro sem começar uma guerra?
Precisamos aprender a discordar corretamente, porque inevitavelmente, vamos entrar em conflito com diversas pessoas a respeito de expectativas, demandas, esperanças, convicções, prioridades e atitudes. Precisamos suportar desentendimentos para que possamos lidar melhor com nossas próprias vidas e dar nossas próprias contribuições (por mais modestas que sejam) para uma sociedade mais sã.
Num encontro de formação de lideranças na igreja, a pessoa coordenadora propôs a seguinte dinâmica. Os participantes foram divididos em dois grupos. Um grupo deveria defender uma lista das posições mais radicais do governo e de outras pessoas da sociedade: por exemplo: ser a favor da liberalização das armas, ou que mulher não pode estudar tanto quanto um homem, ou que a Amazônia e as terras indígenas devem ser alvo de mineração e exploração madeireira. O outro grupo deveria se preparar para levar o grupo anterior a falar sobre as consequências de cada posição. Deveriam começar o questionamento perguntado se essa posição radical fosse colocada em prática, que consequências ela traria na vida das pessoas e do meio-ambiente? Por quê? O resultado foi que muitas opiniões radicais foram se transformando a partir desse passo -a– passo sobre os efeitos concretos de uma posição radical. Essa é uma atitude importante – que também nós podemos usar - para divergir da opinião de uma pessoa e, mesmo assim, manter o diálogo construtivo a partir das divergências.
Também o apóstolo Paulo teve uma atitude pedagógica para tratar dos problemas da Comunidade de Corinto. Ele começou agradecendo a Deus pela Comunidade de Corinto. Ele chamou essa comunidade de a igreja de Jesus Cristo que está em Corinto, os santificados em Cristo Jesus” (v. 2). O apóstolo Paulo começa dizendo que Deus atua em todo lugar. Ele não está circunscrito aos limites de uma compreensão teológica e nem amarrado às históricas paredes do Templo de Jerusalém. Até na distante Corinto, situada fora da chamada Terra Santa, ele sustenta a vida da comunidade. Por essa razão, mesmo em outro lugar, a comunidade que se reúne em nome de Cristo apesar dos problemas – essa comunidade é parte da igreja de Jesus Cristo e que é nas fraquezas humanas que a graça de Deus sustenta essa comunidade.
Em todos os lugares onde convivemos com outras pessoas, o principal problema é a convivência. Para conviver com outras pessoas – precisamos todos e todas ter uma grande capacidade de perdoar. Ser crítico, ter uma opinião própria – não é coisa ruim. Isso faz parte do nosso “espírito protestante”. Mas devemos ter o cuidado para que nossas críticas não sejam amargas e destrutivas. Quem segue a Cristo não pode alimentar discursos de guerra, nem racista, nem homofóbico. Uma pessoa cristã entende que o meio-ambiente é obra da Criação de Deus e que nós devemos ter o máximo de cuidado para não destruir indiscriminadamente essa Criação de Deus. Quem nos proíbe isso é o próprio Jesus Cristo. Tudo o que tem a ver com violência, com discriminação, com humilhação, com prepotência, com autoritarismo – isso são coisas que não vem de Jesus Cristo. E também precisamos reconhecer que algumas vezes precisamos de uma ajuda externa, seja do(a) ministro(a) da igreja, ou até mesmo de psicólogo(a). Aqui na Comunidade Luterana de Belo Horizonte disponibilizamos a oferta de um grupo terapeutico - gratuitamente - com psicólogos(as), advogados(as) todas as terças-feiras na parte da tarde. É só ligar e agendar.
Portanto, a Palavra de Deus hoje nos quer ajudar a falar e a tratar os nosso conflitos. Pois, aos olhos de Jesus nós somos a Igreja de Jesus Cristo que está em .................. Por isso, devemos - volta e meia - colocar os relacionamentos, as opiniões e a vida comunitária sob a luz e os ensinamentos de Jesus.
Amém.