Comunicação


ID: 2771

A transfiguração de Jesus

Deus está presente!

08/02/2018

 

Marcos 9.2-9

Prezada Comunidade:

Estamos hoje no último domingo após Epifania. Epifania significa que Deus vem ao mundo para intervir – para se revelar - na história. Epifania nos diz que não podemos falar de Deus de maneira abstrata ou espiritualizante. Quando falamos de Deus devemos falar de maneira concreta. Devemos falar de como Deus se manifesta concretamente na vida e na história.

E nesse último domingo de Epifania, somos lembrados desse texto da transfiguração de Jesus. Jesus sobe o monte Tabor (faz um retiro, sai do seu contexto, de sua rotina), e lá em cima, acontece uma metamorfose. Sua aparência é metamorfoseada. Sua aparência humana marcada pelo cansaço, pela poeira, pela perseguição, pela calunia, pela humilhação.... tudo isso desaparece e aparece um Jesus iluminado, como ele realmente é, como Deus o vê. Junto a ele aparecem também outros dois grandes líderes da fé em Deus engajada na realidade: Moisés e Elias.

Os discípulos de Jesus acham isso tão maravilhoso que não querem mais sair dali. Não querem mais voltar para casa, para o seu dia a dia. Junto com essa imagem maravilhosa, eles escutam a voz de Deus que diz: Este é o meu Filho amado, a ele ouvi (v.7). Somente podemos falar de Deus a partir de Jesus Cristo. Deus não pode ser reconhecido em nada mais – somente em Jesus Cristo. Portanto, para conhecer a Deus devemos escutar a Jesus Cristo.
E o que Jesus veio para dizer é o seguinte: Deus quer se fazer presente na vida das pessoas! Os padecimentos humanos precisam ser enfrentados e superados com confiança em Deus.

Hoje ainda escutamos pregações que afirmam que os problemas do dia-a-dia, os padecimentos são consequência da presença do diabo e da falta de fé em Deus. As coisas do mundo são tentações do diabo. Essas pregações dizem que ter problemas é sinal da ausência de Deus, pois onde Deus está presente, tudo é maravilhoso.

Isso não é verdade. Essa é uma pregação enganosa. Se você fica doente, isso não é castigo de Deus. Se você tem problemas financeiros, isso não é falta de fé em Deus. Se você tem problemas de relacionamento, isso não é ausência de Deus.

Vamos ouvir de novo o que Deus disse aos discípulos no monte Tabor: Este é o meu Filho amado, a ele ouvi (v.7).
E agora vejamos: Qual foi a atitude de Jesus diante das pessoas doentes? Por acaso Jesus disse que doença é castigo de Deus?
Não! Todo o contrário. Jesus veio para dizer e mostrar que Deus não fica distante, mas que ele abriu o céu e desceu para a terra e vai ao encontro das pessoas que sofrem. E isso não é mérito de nenhum de nós.

Ele sabe de nossa pouca fé, de nossas dúvidas, de nosso desespero, mas mesmo assim não nos rechaça. Ele sabe que temos poucos méritos, ele nos conhece profundamente, sabe o que passa dentro de nossa cabeça e de nosso coração. Mesmo assim, ele não foge de nós, mas vem ao nosso encontro para nos dizer: quero estar ao teu lado nessa tua difícil jornada.

Isso acalma o nosso coração. Saber que nosso Deus está presente. Que ele conhece nosso presente e pode preparar o nosso futuro. Mas, então – porque o meu futuro não melhora? Talvez seja porque as mudanças devem começar primeiro comigo. Tem gente que quer mudar as coisas nas outras pessoas, mas não quer mudar as coisas dentro dela mesmo. Tem gente que culpa sempre os outros, tem gente que pensa que os errados são sempre os outros, que as coisas não dão certo por causa dos outros.

Mas aqui tem uma coisa importante: Para mudar os outros, precisamos primeiro mudar a nós mesmos. Ninguém de nós é perfeito. Ninguém de nós tem toda a razão. As coisas somente melhoram – começando por nós. Não pelos outros. Os outros vem depois.

Jesus viveu no meio das pessoas e ele conheceu os problemas da vida. E ele deu atenção aos problemas pessoais das pessoas, mas ele também se preocupa com o que acontece no mundo que ele criou e que amou de tal maneira que enviou seu Filho Unigênito a esse mundo.

Isso quer dizer que Deus também escuta as notícias e me imagino que ele fica indignado com o que as pessoas estão fazendo. As agressões a natureza que estão afetando o clima e que fazem ressurgir velhas doenças. Tem alguns estudos que dizem que a febre amarela tem uma relação direta com o desastre provocado pelo Samarco. Na natureza tudo é equilíbrio – e a morte de peixes e os sapos com o rompimento da barragem em novembro de 2015 – aumentou os mosquitos.

Certamente Deus também não está contente com nossos governantes. O governo Temer que continua insistindo na posse da sua ministra do trabalho, dos juízes com seus altos salários e seus penduricalhos. É verdade que a corrupção está presente nas pequenas coisas de nosso dia a dia – mas também é verdade que quanto mais alto se olha – maior é o rombo e a insaciabilidade. As autoridades não se contentam com salários de 30 mil reais por mês. Elas querem mais. Quem mais tem – mais quer.Portanto, Jesus também conhece essas coisas. E certamente ele está preocupado com o que acontece ao nosso redor.

Já dizia o indiano Mahatma Gandhi, que uma mudança geral requer uma mudança particular. Os perigos - muitas vezes - vêm escondidos no mesmo pacote dos benefícios. Por exemplo, ter riqueza sem trabalho, ter prazer sem consciência, ter conhecimento sem caráter, negócios sem ética, ciência sem humanidade, religião sem sacrifícios, política sem princípios. Todas essas coisas vêm juntas. O que diferencia o bem do mal em cada uma delas é a consciência social, os valores religiosos. Ele mesmo dizia que se não fosse pelos cristãos, ele seria um seguidor de Jesus. Mas os cristãos costumam fazer justamente o contrário do que Jesus ensinou.

Estamos em plena semana do Carnaval. O que Jesus diria do Carnaval? No Evangelho de Lucas 7.31-32 Jesus diz assim:
- Mas com quem posso comparar as pessoas de hoje? Com quem elas são parecidas? Elas são como crianças sentadas na praça. Um grupo grita para o outro:
Nós tocamos músicas de casamento, mas vocês não dançaram!
Nós cantamos músicas de sepultamento e vocês não choraram.

Vemos que Jesus se incomoda não com as músicas, mas com a indiferença, com o desprezo. É claro que pular Carnaval é uma questão de gosto. Mesmo que eu não goste de pular Carnaval, não há nada de mal que outras pessoas gostem e sintam prazer em se divertir com responsabilidade. Os sinais de alegria e de comunhão humana tornam a vida, mesmo sofrida, uma festa de alegria. Os anjos anunciaram o nascimento de Jesus com grande alegria. Conforme o Evangelho de João, Jesus começou a anunciar o Reino de Deus, transformando água em vinho, simplesmente para que não faltasse alegria em uma festa de casamento (João 2). No Antigo testamento se conta que, quando a arca da aliança foi transferida das montanhas para Jerusalém, “o rei Davi dançava alegremente” (2Samuel 6.14). Davi dançou para agradecer a bênção divina sobre o povo. Vários salmos aludem à dança como forma de oração.

Momentos de alegria, de bem-estar são importantes e necessários. Ninguém vive só de problemas. Até os psicólogos(as) precisam de momentos de relax. Momentos de se afastar um pouco da realidade – como os discípulos tiveram na transfiguração de Jesus. Por isso, é necessário alegrar-se com consciência, com responsabilidade, com respeito.

Depois do Carnaval começa a Quaresma. Fazem alguns anos venho acompanhando uma campanha quaresmal que se chama 7-Wochen Ohne (sete semanas sem...). O objetivo dessa campanha não é fazer penitência ou jejuar para conquistar a salvação. Jesus Cristo pagou com seu sofrimento a nossa salvação. Jesus acabou com essa teologia que exigia o sofrimento das pessoas para agradar a Deus. Isso não vale mais. Mas essa campanha de Sete Semanas sem ... quer nos convidar para fazer algo diferente, nos desafia a sair de nossa rotina. Tem gente que aproveita essa campanha para parar de fumar, tomar menos álcool, não comer tanto chocolate, diminuir o máximo possível o colesterol, etc... Para cuidar um pouco mais de si mesmo.
Nesse

ano a campanha convida as pessoas para que não se escondam, não se resignem, mas que se mostrem e demonstrem gestos de amor, de acolhida, de aceitação, que expressem suas opiniões de forma positiva, que sejam capazes de mudar a sua opinião. Que tal fazer algo assim nesse tempo da Quaresma. Depois desse breve momento de alegria, viver sete semanas de solidariedade!  

Jesus quer nos acompanhar em nosso di-a-dia. Deixemos que ele seja o nosso guia. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 2 / Versículo Final: 9
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 45790
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