Ó minha alegria, Salvador e guia

Comentário e Reflexão

29/06/2012

HPD nº 208 Ó minh' alegria, Salvador e guia

O poeta e organista Heinrich Alberti1(1604-1651) em Königsberg havia feito em 1641 uma canção popular que ressaltava a moça Flora como motivo de sua alegria: Flora, meine Freude,/ meiner Seelen Weide, / meine ganze Ruh. Johann Franck (1618-1677) gostou desta canção. Mas ele conhecia muito bem a Bíblia e os horrores da Guerra dos 30 Anos (1618-48). Ele sabia que alegrias desta vida podem ser bem breves. Porém, os cristãos conhecem uma alegria que permanece: Jesus é nossa alegria!

Este hino de Johann Franck foi publicado por C. Peters pela primeira vez em Andachts Zymbeln, Freiberg, 1655. O músico Johann Crüger (1598-1662), que já em 1653 havia composto uma melodia, incluiu este hino em 1656 no seu Práxis Pietatis Mélica. O próprio Franck o publicou em 1675 no seu Geistliches Zion. Mais tarde foi incluído em grande número de hinários luteranos e calvinistas. O Czar Pedro o Grande (1672-1725) mandou traduzir este hino para a língua russa. O teólogo Phil. Jacob Spener (1635-1705) gostou tanto deste hino que o cantou cada domingo. Johann Sebastian Bach (1685-1750) também apreciou muito este hino e fez dele o tema de um Motete (Motete Nº 3, em E menor, BWV 227)2. Infelizmente a tradução em nosso hinário (HPD 208) não é das melhores. Mas ela acentua pelo menos o tema central: A alegria do cristão.

Alegria e alegrar-se são termos que encontramos várias vezes na Bíblia. P.ex.: Neemias 8,10: não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força. Lucas 2,10 : Eis que vos trago boa nova de grande alegria. Filipenses 4,4: Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: Alegrai-vos!

Provavelmente o autor pensou também em passagens bíblicas como o Salmo 73, 23-28 e Romanos 8,38-39. Ao lermos o hino encontramos a cada passo pensamentos destes dois textos.

1.- Jesus é o fundamento e a fonte de toda a alegria verdadeira. Cada um dos nomes ou títulos na 1ª estrofe dados a Jesus quer sublinhar isso. Eu me alegro porque ele me salvou, ele é o meu guia e meu Senhor. Como o Cordeiro puro e bom ele tirou todo o meu pecado (João 1,29). No original alemão Jesus ainda é comparado a um noivo, sugerindo a idéia de uma festa de casamento, onde reinam alegria, amor e confiança.

2.- Porém, tanto Franck como Crüger viveram em tempos difíceis. Eles sabiam que há muitos acontecimentos capazes para matar a verdadeira alegria. Que exemplos são citados na 2ª estrofe? Tempestade, iniqüidade, ódio e guerra, tremor da terra, infernal terror, sentir-me fraco e pobre. Parece que o mundo todo está de pernas pro ar. No entanto, aqui vale o que o apóstolo Paulo diz em Romanos 8,28: sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus. Por isso, no meio de todas as adversidades, o poeta conclui: Nada hei de temer e Sua mão me encobre.

3.- O início da 3ª estrofe dirige nossa atenção para Gênesis 3, 1-7: da serpente o engano e da morte o dano, tentação, pecado e morte. Estes poderes sempre estão ao nosso redor. Não conseguimos fugir deles. E não adianta prantear-se e chorar. Mas podemos resistir deles, confiando no poder de Deus e agarrando-nos na mão serena e forte de Jesus que venceu a morte. A sua vitória nos faz cantar com júbilo! (Veja Salmo 73,23-28)

4 e 5.- Quem confia em Deus não está livre de tentações que nos querem afastar de Jesus. Há tantas coisas bonitas neste mundo que podem causar certa alegria. Veja que exemplos são citados nas estrofes 4 e 5: Prata e ouro, honrarias, vozes lisonjeiras. O poeta despede, despacha, manda embora essas tentações. Ele também se afasta da noite de pecados e de divertimentos nas trevas, pois tem encontrado algo (ou alguém) muito melhor: Meu Senhor e Salvador dos grilhões me tem livrado. Por isso pode dispensar as alegrias deste mundo.

6.- Na última estrofe o autor lembra outra vez sombras e trevas da última hora da vida. Ele não desespera, mas as manda embora. Pois ele sabe da ressurreição, sabe que depois das trevas vai raiar um novo dia: Eis que nasce o sol... raia o arrebol. Por isso volta ao tema da 1ª estrofe: Mesmo em aflição e dor, tu, Jesus, serás meu guia: A minha alegria.

Notas:

1 Outra fonte diz que foi o Professor Kaldenbach

2 Johann Sebastian Bach foi solicitado, certa vez, de escrever uma composição para o funeral da esposa de um alto funcionário do correio. Bach então escolheu o texto deste hino (HPD 208) de Johann Franck e colocou entre as estrofes ainda versículos bíblicos de Romanos Cap. 8, compondo o Motete Nº 3, em E menor, BWV 227.

Cf. Wolfgang Heiner em “Bekannte Lieder – wie sie entstanden”Neuhausen-Stuttgart, 1989, pág. 123


Autor(a): Leonhard Creutzberg
Âmbito: IECLB
Hino: 208. Ó minh'alegria
Título da publicação: Hinos do Povo de Deus Comentados / Ano: 2012
Natureza do Texto: Música
Perfil do Texto: Comentário ou reflexão sobre hino
ID: 15470
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