Participação de Crianças na Santa Ceia - Um Seminário para uma Reflexão Teológica nas Comunidades

01/10/2008

1) Introdução ao tema:

Nosso entendimento da Santa Ceia
Nossas experiências com a Santa Ceia

. Cantar um hino de Santa Ceia

. Colocar transparência com foto de uma Santa Ceia no retroprojetor e animar a troca de idéias com a ajuda das seguintes perguntas (também escritas na transparência):

- Eu participo na Santa Ceia por ...

- Para mim, o mais importante da Santa Ceia é ...

- Eu aprendi sobre a Santa Ceia ... (lembrar aqui da explicação da SC no Catecismo Menor; eventualmente mostrar esta explicação numa lâmina)

. Preparar cartões com as seguintes frases:

- Não se pode rir durante a Santa Ceia. É coisa séria.

- Antes de tomar a Santa Ceia, eu me reconcilio com as pessoas com as quais me desentendi.

- Tomo a Santa Ceia para ter comunhão com Deus.

- Gosto de participar da Santa Ceia, pois me sinto aliviado e fortificado por ela.

- Basta participar da Santa Ceia uma ou duas vezes por ano.

- Vejo na Santa Ceia um sinal da amabilidade de Deus e me alegro com isso.

- Gosto quando as pessoas se desejam paz durante a liturgia da Santa Ceia.

- Acho a liturgia da Santa Ceia muito demorada.

- Eu não matei ninguém e nunca roubei. Não preciso da Santa Ceia para ser perdoado.

- Sinto que na Santa Ceia somos todos iguais.

- Na Santa Ceia, eu nem olho para quem está ao meu lado.

- Gosto quando se faz um círculo na hora de tomar a Santa Ceia.

- Não sinto nada de diferente na Santa Ceia.

- É bonito ver pais e filhos, patrão e empregado, professor e aluno se colocarem um ao lado do outro na Santa Ceia.

. Colocar estes cartões sobre uma mesa ou num mural. Os participantes podem escolher dentre os cartões aquele com a frase que mais lhes agrada ou mais condiz com seu entendimento da SC ou melhor expressa suas idéias e sentimento a respeito da SC.

Depois cada um explica por que escolheu determinado cartão, e se inicia uma conversa sobre o assunto.

2) A Ceia como comunhão de mesa

. Hoje em muitos lares a família não faz mais a refeição em conjunto. Muitos sentem falta disto. Por que a comunhão de mesa é tão importante?

. Em qual ocasião vocês convidam para um almoço, uma janta? (Datas comemorativas, festas...).

. Por que se costuma fazer um grande almoço ou uma janta festiva quando se celebra um aniversário ou uma festa? (A refeição providencia comunhão de mesa, é expressão de comunhão e amizade).

. Quem vocês convidam para tais ocasiões? (Normalmente amigos, familiares). Comer em conjunto é muito mais do que se alimentar, matar a fome, satisfazer as necessidades do corpo. A ceia em conjunto faz com que tenhamos comunhão. É expressão da amizade, do bom relacionamento que temos com uma pessoa. É celebrar esta amizade.

É uma honra ser convidado para uma ceia. Rejeitar tal convite pode ser falta de educação e expressão de um relacionamento arruinado (compare Lc 14.15-24).

Comer em conjunto é uma das formas mais antigas, mais intensivas e mais eficazes de criar, promover e viver a comunhão entre pessoas. Do ponto de vista psicológico, dar de comer é uma forma primitiva (Urform) de dedicar amor e de dar aconchego a um bebê. O comer em conjunto e a comunhão de mesa criam, mantêm e expressam relações amigáveis entre as pessoas.

Um casal que brigou, muitas vezes vai jantar num restaurante para celebrar a reconciliação. Pois esta é uma das formas mais claras e eficazes para simbolizar e realizar a comunhão estreita e o amor mútuo.

3) Ceias de Jesus com discípulos, pecadores e excluídos

Jesus também expressou sua comunhão com os discípulos e com outras pessoas participando de refeições (Lc 14.1; Jo 2; Mc 2.13-17). Isto tanto fez parte de seu programa que chegou a ser xingado de “beberrão” e “comilão” (Mt 11.19).

Várias vezes nos é relatado nos Evangelhos que Jesus se sentava à mesa com pessoas que, naquela época, eram desprezadas e rejeitadas pelo povo judeu. Conta-se que os fariseus, que se consideravam especialmente piedosos, se irritavam porque ele fazia refeições com estas pessoas. Pois as refeições, compartilhadas dessa forma, eram consideradas como sinal de comunhão estreita.

Jesus não se deixou influenciar por estas reações e muito menos se desviar deste tipo de encontro. Exatamente por meio dessa comunhão de mesa, queria mostrar que as pessoas não eram desprezadas por ele, mas aceitas.

Nas refeições cotidianas no tempo de Jesus, era costume o pai da família partir o pão e pronunciar uma bênção. Numa refeição festiva com vinho, também o cálice com vinho era abençoado.

. Colocar uma transparência com o texto de Mc 2.13-17 no retroprojetor. Ler o texto. Estimular uma curta conversa sobre o texto com a ajuda das seguintes perguntas:

- Quais são os grupos que se enfrentam na história? (Explicar: fariseus, cobradores de imposto, sistema de imposto no Império Romano).

- Por que Jesus quer ter comunhão com os pecadores?

- Qual é a relação deles com Jesus?

- Qual é a função da ceia nesta história?

Jesus acolhe, aceita e se dedica aos pecadores, marginalizados e desprezados da sua época por meio da comunhão de mesa. Ele usa a refeição em conjunto para expressar sua comunhão com os pecadores. Pois são eles que precisam de sua ajuda. A doença do pecado é curada na comunhão com Jesus. E assim o Reino de Deus começa a realizar-se.

. Colocar transparência que mostra Zaqueu. Quem sabe de que história se trata? - Contar a história de Lc 19.1-10.

O que esta história traz além daquilo que já observamos em Mc 2.13-17?

Aqui o reconhecimento dos pecados e a conversão antecedem a ceia. A dedicação de Jesus a Zaqueu faz com que este se arrependa de sua vida pecaminosa e o leva a começar uma nova vida. A ceia de Zaqueu com Jesus simboliza e mostra a reconciliação do cobrador de impostos com Deus e o começo da nova vida.

. Colocar uma transparência que mostra uma cena da parábola do filho pródigo no retroprojetor. Os participantes adivinham de que história se trata? - Contar a história de Lc 15.11-32.

Por que o pai realiza esta festa? (Ele se alegra, quer celebrar a nova comunhão com seu filho, mostrar que lhe perdoou).

O que significa a festa para o filho mais novo? (Aceitação; perdão da culpa; reconciliação e comunhão com o pai e com a família. Começo de uma nova vida ao lado do pai, em casa).

Aqui a ceia é a festa da reconciliação, uma festa de alegria, na qual se mostram o pleno
perdão e a nova e estreita comunhão com o pai. Interessante: a inveja do irmão mais velho; o pai se dirige também a ele, convidando-o para a festa. Mas a história não conta se ele aceitou o convite e participou da festa.

. Colocar uma transparência no retroprojetor que mostra “Os discípulos de Emaús”, de Schmidt-Rottluff. Participantes adivinham de que história se trata. Contar a história Lc 24.13-35.

- Por que os dois discípulos estão tão abatidos, tristes? (Morte de seu mestre; fé abalada; medo).
- O que muda a situação? (A comunhão com o Senhor ressuscitado transforma os dois).
- Qual é o papel da ceia nesta história?

A ceia é o ponto culminante do encontro. Agora os dois discípulos reconhecem seu mestre.

A fé apagada é reacendida, e os cansados ganham nova força para voltar a Jerusalém e testemunhar sua fé. Esta fé permanece viva mesmo que o Senhor não esteja mais visivelmente presente.

. Colocar uma transparência que resume os vários aspectos das ceias tratadas:

Ceia com discípulos e pecadores é:

= expressão de comunhão estreita

= cura do pecado/perdão

= reconciliação com Deus

= começo de uma nova vida

= festa de alegria e de reconciliação que une a família de Deus

= encontro com e reconhecimento do Senhor ressuscitado

= fonte que reacende a fé apagada

= fonte que dá nova força para viver e testemunhar sua fé e para enfrentar a vida

4) A última ceia de Jesus

A última refeição que Jesus tomou junto com seus discípulos foi uma ceia pascoal. Tratava-se de uma janta festiva e cerimonial, na qual a família ou um grupo de vizinhos comia um cordeiro assado, junto com pães sem fermento, louvando a Deus pela milagrosa libertação do povo de Israel no Egito, no tempo de Moisés.

Jesus seguia este costume, celebrando essa páscoa com sua “família”, ou seja, com seus discípulos.

Conforme o testemunho bíblico, Jesus sabia o que iria acontecer com ele naqueles dias (seu sofrimento e sua morte). Já tinha consciência de que seria traído Na hora mais difícil, todos iriam abandoná-lo. Mesmo assim, Jesus permaneceu com seus discípulos até o último momento. Queria manter uma profunda comunhão com eles, celebrando com eles a festa da Páscoa.

Naquele tempo, era costume os israelitas se reunirem para celebrar a festa da Páscoa, que era uma das mais importantes. O povo festejava a libertação da escravidão no Egito com muita participação e alegria. Tudo já era preparado no dia anterior. Matava-se um carneiro para ser comido pelos celebrantes. O uso do pão sem fermento e diversos tipos de vinhos e outras comidas também faziam parte desta festa (Êx 12.1-14; Ex 13.3-10).

Fazia parte dos costumes, ainda observados entre as famílias judaicas até hoje, servir os alimentos em etapas- em rodadas.

Antes de servir o primeiro prato, é feita uma pergunta: “Qual a diferença entre esta e as outras noites?” O dono da festa conta então a história da libertação do povo de Israel do Egito.

Ele explica o significado de cada alimento em particular. As ervas amargas lembram os anos amargos da escravidão. Um tipo de marmelada avermelhada lembra a argila com a qual eram feitos os tijolos para a construção da cidade do faraó e lembra, assim, o trabalho escravo. O pão sem fermento lembra a fuga, quando as famílias não tinham tempo para preparar um pão fermentado.

Por isso, os discípulos não ficaram surpreendidos quando Jesus deu uma explicação sobre o sentido do comer e do beber. No entanto, admirados ficaram quando ele não lembrou a libertação do Egito, mas anunciou a sua própria morte que estava por acontecer.

5) As palavras da instituição

Colocar transparência com a sinopse das palavras da instituição no retroprojetor. Ler texto de Mateus e de Lucas. Pedir aos participantes para descobrir as diferenças entre os textos.

. Lc e 1 Co têm uma refeição entre a bênção do pão e a bênção do vinho. Em Mc e Mt, a refeição antecede as palavras de instituição.

. Somente Mt fala do perdão dos pecados!

. Somente Lc e 1 Co contêm as palavras “em memória de mim”.

As palavras de instituição hoje usadas na celebração da Santa Ceia são uma compilação destes quatro textos bíblicos. A questão do perdão dos pecados aparece somente num texto, quer dizer, não era tão central.

A seguir, o palestrante explica os vários aspectos da SC a partir das palavras da instituição.

Meu corpo dado por ti - meu sangue derramado por ti:

Como vimos, Jesus deu um novo significado à ceia pascal, relacionando o seu corpo e o seu sangue com o pão e o vinho. Ele anunciou, com o gesto de partir o pão e alcançar o vinho, que o seu corpo também seria quebrado, assim como o pão, e que o seu sangue seria derramado, como o vinho que agora era tomado.

Assim, Jesus deu a entender aos seus discípulos que ele quer permanecer unido com eles por intermédio desta ceia e que também, no futuro, pão e vinho se tornariam um símbolo e meio eficaz de união com Ele.

Ficou claro para eles que, com as palavras “Tomai e comei, isto é o meu corpo” e “Tomai e bebei deste cálice, isto é o meu sangue”, Jesus queria lhes dizer que ele sempre está presente quando esta ceia é celebrada. Pão e vinho servem como sinais visíveis para a presença invisível de Jesus Cristo. Quem participa da Ceia do Senhor não pratica apenas um ato simbólico que o lembra da morte salvadora de Cristo. Ele entra em comunhão real com Jesus: assim como o pão e o vinho se tornam parte integrante do corpo dele, assim ele é unido ao seu Senhor. Jesus Cristo está tão perto de nós e a sua presença é tão certa, tão palpável, como pão e vinho. Ele nos perdoa e nos dá a oportunidade de um novo começo.

para o perdão dos pecados”: Jesus se ofereceu para sofrer o castigo, que nós mereceríamos por nossos pecados, em nosso lugar e deu seu corpo e seu sangue na cruz por nós. Na Santa Ceia, Jesus distribui sua justiça, o fruto de sua obediência, da sua morte, que sofreu na cruz. Ao nos oferecer seu corpo sacrificado e seu sangue derramado, Jesus nos envolve na reconciliação com Deus, que aconteceu na cruz, e nos presenteia assim com o perdão do pecado. Deus aceitou este sacrifício de seu Filho, deixando-nos livres do castigo. Desde então podemos ter outra vez comunhão com Deus.

em memória de mim”: Somos exortados a celebrar a Ceia sempre de novo. “Em memória de mim” não significa lembrar um morto, a fim de não se esquecer dele. Pois aquele, de quem a comunidade se lembra, está presente. Nós não nos lembramos somente de um acontecimento no passado. Antes, este acontecimento do passado se torna presente para nós e tem seu efeito agora na Santa Ceia.

As palavras “em memória de mim” apontam também para o fato de que, cada vez quando celebramos a Santa Ceia, damos o recado de que Jesus Cristo morreu para nos salvar. Deste modo, a Santa Ceia se torna uma confissão pública da fé no único Senhor e Salvador.

a nova aliança no meu sangue”: Na Bíblia, relata-se que Deus, no passado, firmou um acordo com o seu povo quando o libertou da escravidão do Egito. Naquela ocasião, Moisés espargiu o sangue de um novilho sacrificado sobre o povo e disse: “Este é o sangue da Aliança que Iahweh fez convosco através de todas essas cláusulas” (Êx 24.8).

Mais tarde, houve um profeta que acusou o povo de não obedecer aos mandamentos e, por isso, este acordo com Deus não estava mais valendo. Ele anunciou que, no futuro, Deus faria um novo acordo com o seu povo. O conteúdo deste novo acordo seria a mensagem de que Deus perdoaria a culpa da pessoa.

As palavras “este cálice é a nova aliança no meu sangue” indicam a velha profecia do profeta Jeremias (31.31-34), que agora se cumpria. Enquanto a antiga aliança tinha a ver com a libertação da escravidão no Egito e era uma aliança entre Deus e seu povo escolhido, a nova aliança é a libertação do ser humano da escravidão do pecado e da morte, por intermédio de Jesus Cristo. E esta é uma aliança entre Deus e todos os povos. Na Santa Ceia, comemoramos essa nova aliança entre Deus e as pessoas.

havendo dado graças”: Antes da refeição, os judeus bendiziam ou agradeciam a Deus, lembrando, confessando e proclamando os seus grandes atos em favor do seu povo no passado. Tudo indica que Jesus, ao celebrar a última ceia com seus discípulos, empregou esse mesmo tipo de oração. O termo “eucaristia” significa “ação de graças” e lembra este fato.

Como Jesus tomou o pão e o vinho e agradeceu, assim também a comunidade reunida se coloca com pão e vinho diante de Deus para louvá-lo por Jesus Cristo, por sua morte por nós e por sua ressurreição (anamnese).

Toda a criação é representada pelas dádivas do pão e do vinho. Sendo assim, a comunidade reunida rende graças também pelos bens terrestres que Deus lhe concede.

até aquele dia em que o hei de beber convosco no reino de Deus”: Quando, ao celebrar a Santa Ceia, vemos a mesa posta com pão e vinho, então sabemos: Por detrás disto há algo mais. Por detrás disto está a mesa que Deus preparou para todos os seus hóspedes em seu Reino eterno. Para cada um que chega aqui à mesa do Senhor, também lá haverá um lugar preparado para ele. Nós somos convidados a viver com Deus em eternidade. E esta vida começa já aqui. Hoje somos convidados à mesa de Cristo. A Santa Ceia é uma antecipação da grande ceia festiva a ser celebrada no Reino de Deus. O pão e o vinho que consumimos na Ceia do Senhor, quando recebidos com fé, já têm o gosto do pão da vida eterna e do vinho da bem-aventurança eterna. Festejamos, já agora, o futuro mundo de Deus e a comunhão plena com Cristo que lá teremos.

Colocar a transparência com 1 Co 10.16-17 e com o desenho dos dois rostos/cálice no retroprojetor. Primeiro só mostrar o desenho. O que vocês vêem? Depois, mostrar o texto e lê-lo.

“Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.”

Na SC, Jesus nos reúne como uma grande família ao redor da mesma mesa. Ela não é um acontecimento que envolve apenas a Cristo e a mim. Ela é celebrada em comunidade. É um momento de confraternização entre irmãs e irmãos em Cristo. Ela traz verdadeira comunhão. O perdão dos nossos pecados possibilita a comunhão entre as pessoas que estava prejudicada pelos nossos pecados. Através do comer e beber em conjunto, pessoas diferentes são unidas para se tornar um só corpo. Não podemos alcançar esta união por nossa própria força e vontade. Por isso, pedimos na liturgia da SC pelo Espírito Santo, para que ele nos renove e nos una.

Esta comunhão não deve terminar na porta da igreja, e sim continuar e ser praticada lá fora, na vida diária, no nosso convívio. O pão compartilhado aponta para o compartilhar dos bens também na vida cotidiana.

Conforme Martim Lutero, os que participam da SC entram na comunhão com Jesus Cristo e também na comunhão dos irmãos na fé. Esta comunhão é uma dádiva, e ao mesmo tempo ela se torna uma tarefa. Devemos viver esta comunhão.

Esta dupla comunhão quer ser agarrada na fé como consolo e conforto. E ela quer ser praticada no amor e no serviço para Cristo e para os irmãos e irmãs na fé (Sermon vom hochwürdigen Sakrament).

Resumo dos vários aspectos da Santa Ceia:

. auto-entrega de Jesus Cristo a nós para nossa salvação
. perdão dos pecados
. memória
. comunhão com Cristo
. comunhão entre os crentes
. louvor e agradecimento pelas dádivas de Deus e pela obra salvífica de Cristo
. festa de alegria e esperança (Vorgeschmack vom Reich Gottes)
. constituição da nova aliança
. confissão pública da fé no único Senhor e Salvador
. fonte do novo ser/alimentação do novo homem

6) Quem deve participar da Santa Ceia?

Todos os cristãos que procuram a comunhão com Jesus Cristo são convidados para a Ceia.

Martim Lutero afirma que deveriam participar da Santa Ceia todos aqueles que estão com a consciência pesada por causa de seus pecados, os que, por um motivo ou outro, estão sofrendo tristeza, angústia, aflição, abandono ou mesmo estão assustados com a morte. Eles deveriam encontrar na Santa Ceia o sentido e a alegria de viver.

O próprio Jesus disse que veio para salvar os pecadores e que são os doentes que precisam do médico, não os de boa saúde. Os que precisam da ajuda de Jesus Cristo são convidados também para a SC.

A resposta da igreja antiga à pergunta: Quem pode participar da SC? era: todos os batizados. Pois o Batismo incorpora na comunidade do Senhor, e a SC é a ceia da família de Deus, da comunidade.

Na parábola do filho perdido, porém, ele conta que o filho, antes de se sentar à mesa com o pai, refletiu sobre seus pecados e pediu perdão ao pai. Isto vale também para nós hoje:
Devemos refletir sobre o nosso comportamento para verificar o que não combina com o estar em comunhão com o Senhor. Perguntamos a nós mesmos quais os pecados que cometemos em pensamentos, palavras e ações. Em oração, pedimos pelo perdão da nossa culpa.

Quem não deve participar da Santa Ceia?

Conforme Jesus, se alguém vive em briga com um irmão, não pode vir até o altar, sem primeiro reconciliar-se com o irmão (Mt 5.23-24). A disposição de perdoar aos outros é imprescindível para a participação na Santa Ceia.

O pior inimigo a esvaziar a Ceia do Senhor de seu conteúdo central é a discórdia. Uma comunidade que se alimenta do corpo e do sangue de Cristo torna-se um corpo com ele. Se, no entanto, os comungantes não viverem como membros deste corpo, mas viverem como indivíduos isolados, que se rejeitam uns aos outros, que não convivem conforme as necessidades do corpo, então a celebração da comunhão do corpo de Cristo se transforma em ficção (1Co 11.20). Fazemos de conta que aceitamos o corpo e o sangue de Cristo, mas, negando-nos a perdoar e a aceitar o irmão ao nosso lado, negamos a eficiência da obra salvífica de Jesus.

Também não deve participar da ceia do Senhor aquele que não crê que Deus, por meio da Santa Ceia, perdoa todos os nossos pecados.

Onde obviamente há indiferença religiosa ou falta de fé, a pessoa não deve participar da Ceia. Diz Martim Lutero, no Catecismo Menor: “Mas verdadeiramente digno e bem preparado é aquele que tem fé nestas palavras: ‘Dado e derramado em favor de vós para a remissão dos pecados’. Aquele, porém, que não crê nestas palavras ou delas duvida, é indigno e não está preparado, pois as palavras ‘em favor de vós’ exigem corações verdadeiramente crentes.”

Conclusão:

A exclusão do Sacramento do Altar se dá devido à falta de fé ou de amor para com o irmão, devido à falta de respeito para com Deus e para com as pessoas, mas não devido à falta de conhecimentos teóricos sobre a Santa Ceia.

A Bíblia e os escritos confessionais da nossa Igreja também não conhecem a exclusão de menores por causa da idade.

No que se refere à possível participação de crianças batizadas na Santa Ceia, não podemos excluí-las somente por falta de conhecimentos sobre a mesma.

O fato de somente homens terem participado da última ceia de Jesus também não permite deduzir que crianças não possam participar. Se esta conclusão for válida, então também as mulheres não poderiam participar.

Vale o que se mostrou nas várias ceias de Jesus: todos os que precisam dele e de sua ajuda são bem-vindos!

7) A questão da participação de crianças na Santa Ceia

Nos últimos anos, surgiu em várias comunidades o desejo de poder celebrar a Ceia junto com as crianças. Os pais querem deixar os filhos participarem na sua vida de fé. As próprias crianças perguntam por que não podem participar. Membros descobrem a Santa Ceia novamente como ceia da comunhão e união dos cristãos e perguntam como, então, podemos excluir as crianças?

Esta questão é discutida em várias igrejas luteranas há anos. Na Igreja Ortodoxa, sempre foi praxe deixar também as crianças participarem da Santa Ceia. Na Igreja Católica, elas podem participar depois da primeira comunhão.

A Igreja Luterana da Dinamarca permitiu a participação de crianças não-confirmadas já em 1955. As igrejas da Noruega e da Finlândia adotaram o mesmo conceito. A partir de 1977, também as igrejas evangélicas luteranas da Alemanha admitem crianças à Ceia.

No concílio da IECLB, em outubro de 2002, foi aprovada a nova versão do guia comunitário Nossa fé - Nossa vida, que também prevê a participação de crianças batizadas, mas ainda não confirmadas, na Santa Ceia.

Diz o texto: “Como pessoas batizadas somos convidadas a participar da ceia quando livremente desejamos que seja revigorada a comunhão com Deus, com a comunidade e com a criação. Nesta comunhão, também crianças batizadas, ainda não confirmadas, podem participar.”

Teologicamente não há impedimentos, como já vimos antes. Sabemos que a Igreja, nos primeiros séculos, permitiu crianças participarem da Santa Ceia. Só a partir do IV Concílio de Latrão, em 1215, a Igreja Católica institui a admissão à Santa Ceia a partir da idade do discernimento, estipulada entre 7 e 10 anos. Esperava-se que, nesta idade, as crianças tivessem capacidade intelectual suficiente para distinguir as dádivas salvíficas (corpo e sangue) de simples refeição (pão e vinho).

Uma Igreja que permite o Batismo de crianças não tem argumentos teológicos para proibir a participação de crianças na Santa Ceia, visto que também o Batismo é um sacramento, assim como a Santa Ceia.

Entendem-se ambos os sacramentos como sinais visíveis da graça incondicional de Deus. Então, é muito difícil de explicar por que um bebê é admitido ao Batismo, mas uma criança que já se encontra em idade de ensaiar os primeiros passos em sua própria fé é excluída da Santa Ceia.

O Batismo incorpora a criança no corpo de Cristo, que é a Igreja, com todos os direitos. Não se justifica, portanto, que, na prática, as crianças sejam excluídas da comunhão dos crentes, quando esta encontra sua expressão maior na celebração da Ceia.

Uma Igreja que batiza crianças, que estimula a educação cristã de crianças no lar e na igreja, está implicitamente admitindo que as crianças sejam capazes de entender o evangelho à sua maneira. Por que, então, elas não devem ser capazes de entender o que acontece na Santa Ceia?

Do ponto de vista psicopedagógico, até traz vantagens incluir crianças na Santa Ceia desde cedo. Sabemos hoje, através da psicologia, que experiências feitas na infância determinam toda a vida. Muitas vezes, a experiência antecede a compreensão e prepara o caminho para uma compreensão adequada. Mesmo que crianças não entendam plenamente conceitos teológicos como pecado, justificação pela fé, morte salvífica de Jesus Cristo etc., elas percebem que Deus quer presenteá-las com reconciliação, alegria, comunhão, quer perdoar onde elas erraram.

No tocante à Santa Ceia, é um erro considerar que somente podemos praticar o que compreendemos intelectualmente. Pois o sacramento não vive primeiramente da compreensão intelectual, mas da celebração, da experiência de comunhão que proporciona.

A Santa Ceia, pela riqueza de sua simbologia e pelo fato de envolver diversos sentidos simultaneamente, apresenta-se como um instrumento bem mais eficaz de pregação do evangelho para o estágio da fé duma criança do que a simples palavra oral.

Na idade entre 5 e 10 anos, as crianças deixam se envolver de corpo e alma pelos símbolos da fé e pelas histórias bíblicas. Na puberdade, esta abertura dá lugar a uma posição crítica ao mundo dos adultos.

Portanto, a admissão das crianças à Santa Ceia permite que elas façam as experiências fundamentais com a fé e com a comunidade numa fase mais vantajosa do ponto de vista do aprendizado.

Conclusão:

Em princípio, não se podem excluir crianças da Santa Ceia. Nem os escritos confessionais da Igreja Evangélica Luterana, nem os estatutos das igrejas nos tempos da Reforma ligam a admissão à Santa Ceia a uma certa idade. Também não há objeções de natureza teológica.

8) Conseqüências práticas

A princípio, crianças não podem ser excluídas da Santa Ceia. Mas, como vimos antes: a Santa Ceia quer ser recebida em fé. A participação digna no sacramento da Santa Ceia depende da fé que confia na promessa do perdão e recebe pão e vinho como verdadeiro corpo e sangue do Senhor (Catecismo Menor, IV). Conforme a tradição da nossa Igreja, que se refere a 1 Co 11, isso inclui a capacidade de discernir entre a Santa Ceia e uma refeição comum.

Fé exige, também no caso de crianças, entendimento. Por isso, faz-se necessário um preparo das crianças, no qual também os pais e padrinhos devem participar conforme a tarefa assumida no dia do batismo da criança. Os cristãos adultos têm que assumir a responsabilidade de promover a compreensão das crianças e de acompanhá-las no seu crescimento espiritual.

Este preparo, por sua vez, exige uma certa idade das crianças, a idade de discernimento, que pode variar, mas que, em geral, coincide com a idade escolar.

É desejável que os pais (e, quem sabe, também os padrinhos) acompanhem as crianças, pelo menos quando tomam a Ceia pela primeira vez.

As crianças não devem participar da Santa Ceia contra a vontade dos pais ou sem o consentimento prévio dos pais. Além disso, é imprescindível que o desejo de participar na Santa Ceia venha da própria criança.

Admitir crianças à Santa Ceia exige uma forma adequada a elas de celebrar o culto e a Ceia. Importante é que elas percebam que as dádivas da Ceia proporcionam alegria, esperança, reconciliação e comunhão àqueles que as recebem com fé.

No caso da Santa Ceia com crianças, também se faz necessário celebrar a Ceia com suco de uva e não com vinho.

Admitindo crianças à Santa Ceia, somos desafiados a redescobrir o amplo sentido da confirmação. Para muitos membros, um conteúdo central da confirmação é a preparação e a admissão para a Santa Ceia. Assim era praxe por muito tempo, e isto se tornou uma tradição bem arraigada em nossas comunidades. Do ponto de vista histórico, podemos dizer que as igrejas da reforma introduziram o ensino confirmatório e a confirmação de fato para assegurar uma participação mais consciente e em fé na Santa Ceia. Esta preocupação ainda hoje precisa ser levada a sério.

Mas vale lembrar: O ensino confirmatório é um ensino batismal recuperado e a confirmação sempre era muito mais do que introdução na e admissão à Santa Ceia.

Ela, além de ser um ato de bênção por Deus, de renovação pelo Espírito Santo, que renova e confirma a fé e de intercessão da comunidade pelos jovens, é o rito da profissão de fé autônoma do/a jovem. Ele/a confirma o sim que seus pais e padrinhos disseram à graça de Deus por ocasião do Batismo.

Este “sim” do confirmando terá uma base mais ampla e firme, se ele já antes da confirmação pôde participar numa das formas mais ricas e importantes da vivência da nossa fé, que é a Santa Ceia, e já foi introduzido na vida cristã de forma plena.

Celebrar a Santa Ceia com os confirmandos, já na última etapa do ensino confirmatório, poderia ajudar a tirar um pouco do peso e das preocupações que acompanham o dia da confirmação. A compreensão e o interesse pelo assunto da Santa Ceia, tratado num retiro dos confirmandos, poderiam aumentar sensivelmente quando se combina o estudo teórico da temática com a celebração prática da ceia. Convidar os pais para celebrarem junto com seus filhos a Santa Ceia na última etapa do retiro poderia ser um evento muito positivo e significativo para todos os participantes e poderia favorecer um salutar diálogo sobre o significado da Santa Ceia nas famílias.
 


Autor(a): Michael Menziger
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Crianças na Ceia do Senhor / Ano: 2008
Natureza do Texto: Estudo/Pesquisa
ID: 14022
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