Jubileu de Ouro da Igreja da Ressurreição e do Centro Social Heliodor Hesse
Ó SENHOR Deus, que todo o meu ser te louve! (SALMO 103. 1)
Este ano de 2020, em especial o dia 12 de julho, marca os 50 anos de inauguração da igreja da Ressurreição e do Centro Social Heliodor Hesse (CSHH). É tempo de comemorar, de recordar, de festejar, de agradecer e, sobretudo, de fazer perguntas. De fazer perguntas?
Sim, pois são “as perguntas que movem o mundo e não as respostas” (Albert Einstein). No entanto, em razão da pandemia precisamos celebrar esse Jubileu de forma inusitada, diferente, dinâmica e criativa, evitando aglomerações em Cultos e eventos. Voltando às perguntas! Ao revisitarmos os arquivos que relatam sobre a nossa história como Igreja no Grande ABC, em meados de 1960, nos damos conta das muitas perguntas que inquietaram a Igreja e a impulsionaram a se envolver com as questões e problemas da sociedade urbano-industrial da época, marcada por gritantes desigualdades sociais. Veja abaixo a citação do P. Ulrich Fischer: “A revolução no trabalho e na vida da Igreja em São Paulo começou quando as lideranças e os membros se tornaram gradativamente conscientes de que estão numa sociedade abalada por enormes problemas sociais. Refletia-se a partir da situação e se perguntava: Até que ponto a esmola não despersonaliza o pedinte? Como se transforma a necessidade de uma sociedade pré-industrial, a necessidade do indivíduo num problema complexo em um país do ‘Terceiro Mundo’ em rápido desenvolvimento para um sociedade industrial? O que é um ser humano socialmente ameaçado numa grande cidade? Como podemos transformá-lo num ser humano socialmente seguro?”
Temos, nesta citação, um claro despertamento da preocupação social e diaconal que é fruto dos encontros, conversas e escutas atentas da Palavra de Deus na vida em Comunidade.
As décadas que seguem igualmente mostram que novas perguntas surgiram a partir das demandas sociais e elas seguiram interpelando a Igreja e o CSHH. E eles, por sua vez, de forma criativa e dinâmica se reinventaram frente aos novos desafios, atuando e atendendo as pessoas de forma pioneira na região. Também a Casa Mateus, em Mauá, criada em 1980, é fruto de uma fé inquieta, interpelada pelo Evangelho.
Se olharmos para o retrovisor, podemos dizer que nos emociona constatar que o mandamento do amor a Deus e ao próximo inquietou pessoas, as moveu, as fez perguntar sobre a sua vocação como discípulos e discípulas, e lapidou dons muito bonitos. Ou seja, quando falamos da Igreja Luterana no Grande ABC, falamos de uma Igreja que teve uma consciência social/diaconal/missionária muito grande, foi acolhedora, protagonista, pioneira, ecumênica, de vanguarda.
Também na vivência da fé no dias de hoje, e nos próximos 50, cabe-nos seguir perguntando sobre a nossa vocação como discípulos e discípulas de Jesus; sobre o compromisso da Igreja com o mundo e com a vida das pessoas e dos povos; sobre o engajamento dos cristãos e cristãs na busca por uma sociedade mais justa e humana, pois quem tudo recebeu de Deus em amor, movimenta-se por gratidão em direção ao seu semelhante. Compreende-se, assim, que toda pessoa cristã é uma testemunha do evangelho, seja no lugar de trabalho, de estudo, no lar, seja no lazer e na política. Cristãos e cristãs têm um compromisso com o bem comum, com a cidadania, com a paz e a justiça, na sociedade da qual fazem parte. Importa render Culto a Deus não apenas nos templos, mas também no cotidiano, através do exercício de nossos dons/carismas, no serviço à sociedade (diaconia). Assim, o lugar do Culto passa a ser o mundo, o simples dia-a-dia de modo que a Igreja não existe para si mesma. Um clube ou uma sociedade têm o direito de viver para si e seus associados; a igreja não. A sua vida tem como finalidade o mundo, o testemunho e o serviço no mundo.
Desta forma, Deus busca cooperadores/as para a sua atuação no mundo e na sociedade. Sua ação acontece por meio de pessoas e instituições. Assim, a graça de Deus nos liberta para a solidariedade. E a escuta atenta da Palavra de Deus nos faz recordar que, antes e acima de tudo, Deus se solidarizou conosco e com sua criação. Por sua vez, Ele nos chama e nos motiva para uma vida abundante que ele proporciona e quer proporcionar para toda a sua criação.
Por meio de nós Deus se torna solidário em meio à dor e ao sofrimento da sua criação. Fomos libertados do egoísmo para a comunhão, da avareza para a partilha, de dominadores a servidores, assim, somos capacitados para um novo agir como pessoas cidadãs no mundo e na sociedade. Que permaneçamos fiéis no presente e no futuro ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus. Que não nos faltem perguntas, coragem, ousadia e criatividade para tal empreitada. Para tal é imprescindível que amemos a metrópole, que nos envolvamos com a vida que pulsa nela, que sigamos organizados e unidos como Comunidade e Instituição diaconal, testemunhando o Cristo ressurreto, numa igreja que carrega o nome “Ressurreição”.
Quando olhamos para a nossa história nos emocionamos com tudo o que Deus fez através de nós, por nós e apesar de nós. Por tudo isso, o centro da comemoração do Jubileu está em Deus, no Evangelho de Jesus Cristo que nos move, capacita e nos faz agentes de transformação. Parabéns!
Em tempo: recomendamos que assistam os dois documentários sobre as origens da Igreja e do CSHH nos canais do Youtube ou na Página no Portal Luteranos. Muitos outros textos ainda serão publicados:
http://www.luteranos.com.br/conteudo/a-historia-do-centro-social-heliodor-hesse-de-1980-a-2020
*Meados da década de sessenta até o final dos anos oitenta: https://youtu.be/JS1sJCDNH9Q
*De 1980 a 2020: https://youtu.be/XgKSZY77hBU