Luteranos precisam fazer sua luz brilhar mais intensamente, diz Altmann
Os quinhentos lugares providenciados pela organização do culto de ação de graças pelos 180 anos da primeira comunidade evangélico-luterana do Brasil, realizado no salão do Country Club de Nova Friburgo (RJ), foram insuficientes para abrigar todas as pessoas que participaram da celebração. A maioria era de membros da comunidade local e de integrantes das caravanas de outras localidades que vieram se integrar às comemorações da data. No início da celebração, realizada na manhã do domingo 2 de maio, mais de dez pastores e pastoras da IECLB entraram no salão ao som do Coral de Trombones da Comunidade de Teófilo Otoni (MG). Entre eles estavam o pastor presidente da IECLB, Walter Altmann, o pastor sinodal do Sínodo Sudeste, Rolf Schünemann, e o pastor vice sinodal, Mozart Noronha de Melo.
O pároco de Nova Friburgo, pastor Armindo Müller, abriu o culto lembrando que o começo da história dos imigrantes alemães que deram origem à IECLB foi marcada pela tragédia. Ainda na viagem, o navio que trazia o grupo de cerca de 300 pessoas ao Brasil foi atacado por piratas e enfrentou tempestades. Alguns dos imigrantes morreram no caminho, entre eles a esposa do pastor Friedrich Sauerbronn, que no dia anterior havia dado à luz o filho do casal. Logo na chegada em terras brasileiras, Sauerbronn enfrentou nova tragédia: a criança recém-nascida também morreu, e o seu enterro foi o primeiro ofício religioso da história dos luteranos no País. Durante o culto, o pastor Müller exibiu documentos originais de 1824, que se julgava perdidos mas que foram recuperados e preservados. Eles mostram registros dos primórdios da Comunidade.
Nova história
A pregação ficou a cargo do pastor presidente da IECLB, Walter Altmann, que se baseou no texto de Mateus 5, 13-16, em que Jesus afirma que os cristãos são o sal da terra e a luz do mundo. Para Altmann, às vezes se tenta encobrir com mitos ou com uma aura romântica a história dos imigrantes, o que pode ocultar sua identidade mais profunda e apagar episódios não tão agradáveis de ser lembrados - por exemplo, o fato de que nas primeiras levas de alemães enviados ao Brasil estavam prisioneiros de Hamburgo, dos quais a cidade queria se ver livre. Entretanto, é dessa experiência que nasce com vigor uma comunidade de fé e serviço que constrói uma nova história, afirmou. Apesar de tudo, eles construíram um futuro e deram sua contribuição para a história de seu estado e de seu país.
O pastor presidente disse que toda celebração ocorre sempre em gratidão, mas também em contrição e arrependimento. Talvez devamos reconhecer que, como IECLB, muitas e muitas vezes não permitimos que nossa luz brilhasse mais intensamente fora de nosso lar. Ainda devemos crescer na plena consciência de sermos igreja no Brasil, como nosso nome atesta, defendeu. Somos comissionados a ser comunidades de serviço e presença missionária e solidária ali onde vivemos. Nosso país e sociedade precisam dessa luz.
Para Altmann, somos fiéis à fé legada por nossos antepassados quando colocamos nossa fé à disposição de qualquer pessoa, indistintamente, em nosso país. Deus nos permita, nestes 180 anos, crer na promessa divina de que, sim, já somos sal da terra e luz do mundo, concluiu. (Leia a prédica na íntegra.)
Desafios
Representantes de muitas Comunidades do Sínodo Sudeste e de outras confissões cristãs expressaram seus cumprimentos à Comunidade de Nova Friburgo e entregaram lembranças e presentes. Entre eles, Arno Hoffmann, de Belo Horizonte, lembrou que os luteranos precisam continuar a escrever a sua história também no presente e no futuro. O presidente da Diretoria Sinodal, Hermann Evelbauer, do Rio de Janeiro, chamou a atenção para o fato de que o Sínodo Sudeste possui o desafio de concentrar realidades bastante heterogêneas e de abrigar as três maiores metrópoles do Brasil. O padre Jocimar, da Paróquia de São Francisco, em Nova Friburgo, afirmou que há 180 anos católicos e evangélicos viviam praticamente separados, porém hoje reconhecem que fazem parte de um só rebanho com um só pastor e estão juntos a serviço da Igreja de Cristo.
O pastor Rolf Schünemann agradeceu o empenho da Comunidade local para receber e acomodar tantos visitantes e pediu uma salva de palmas para os anfitriões. O culto foi encerrado com a bênção proferida pelo pastor Walter Altmann, que exortou a que todos retornassem para seus locais de origem revigorados para dar continuidade à sua missão.
por Paulo Hebmüller - jornalista