Preparai o caminho do Senhor. Eis que o Senhor Deus virá com poder. (Isaías 40.3,10)
Parece que todos os caminhos levam ao Natal. As compras – muitas compras – são apregoadas como garantia de um feliz Natal; o gasto do que resta do 13º salário assegura um caminho de alegria; um mundo de prestações, a começar em algum mês do próximo ano, é a glória para este Natal, mesmo que se comprometa o ano que vem; e para quem está bem melhor de finanças, quem sabe o caminho do Natal seja no mar, em um cruzeiro deslumbrante, que – a se crer na propaganda – já é um bom pedaço do céu. Cada um pode enumerar outros tantos caminhos que supostamente levam a um Natal feliz e bom.
Com tantos caminhos prontos e tentadores, o convite contido no lema do terceiro domingo de Advento vem pela contramão. Ou será ele apenas um caminho a mais no emaranhado de caminhos que temos diante de nós? Não, ele é diferente, começando pelo fato de que ainda precisa ser feito. Ele também não é um caminho para nós irmos ao encontro do Natal, mas para que o Natal venha a nós na figura daquele que é a origem e o conteúdo de Natal, a criança de Belém. Enquanto os outros caminhos sugerem que Natal só é Natal se estivermos com as mãos cheias de presentes, comida e festança – quem sabe também de dívidas –, no caminho que somos convidados a preparar estamos de mãos vazias, pois a rigor ele não é um caminho nosso e nem para nós. Ele é o caminho de Deus e para Deus. Por ele “o Senhor Deus virá com poder” para encher as nossas mãos vazias. Mas antes que nos deslumbremos porque teremos as mãos cheias de poder, é bom deixar claro que o poder de Deus é uma espécie de poder às avessas, é o poder na fraqueza, na humildade, no amor, na solidariedade. Estes são os presentes que Deus nos deseja dar, e eles têm uma característica muito especial: os presentes que Deus dá não podem ser retidos, mas precisam ser presenteados aos outros: amor, humildade, solidariedade só se concretizam na relação com os outros. É verdade: Aos olhos do mundo, aos olhos do poder do mundo tudo isso é uma fraqueza. Basta ver como se vem lidando com o poder em nossos círculos políticos, onde ele é usado para aniquilar o outro, mentir, enganar, garantir privilégios.
O caminho que somos convidados a preparar cruza todos os caminhos que prometem levar ao Natal feliz, à vida feliz e em abundância, e à medida que “o Senhor Deus” o caminha, ele desmarcara todas as falsas promessas, todo o egoísmo que nos norteia tanto, para mostrar o caminho da vida plena no poder da fraqueza, cujas marcas são a humildade, o amor, a solidariedade.
É claro que fica uma pergunta entalada: Será que tudo o que se faz pelo Natal já é ruim? Nem sempre. Vai depender de como e para que o fazemos. O critério é muito simples: Os presentes que compramos e damos são sinal de amor, afeto, querência ou são resultado de pressão, às vezes até de chantagem ou, então, servem apenas para a ostentação? As festas que festejamos têm lugar cativo para “o Senhor Deus” com o seu espírito de amor e comunhão? O caminho que preparamos cruza também as nossas vidas, as nossas festas, os nossos presentes? Seria uma perda de preparássemos caminhos pelos quais o “senhor Deus” seguramente não vem!
Harald Malschitzky, P.em
São Leopoldo - RS