Comentário sobre o hino - HPD nº 02 Todo o mundo louve a Deus
Este é um dos hinos para época de Advento, a época que tem por tema esperar, aguardar, preparar-se para a vinda do Senhor. A primeira parte (estr.1-3) constata que, com a vinda de Jesus, se cumpriram as profecias do AT. A segunda parte (estr. 4-6) é uma oração, na qual pedimos que o Salvador venha também a nós. E a terceira parte (estr. 7) dirige nossos pensamentos para a segunda vinda de Jesus.
O autor da letra deste hino é um homem talentoso da escola de poetas da Silésia: Heinrich Held, Filho de Valentin Held. Heinrich nasceu aos 21 de julho de 1620 em Guhrau, na Silésia Superior. Freqüentou as escolas em Guhrau e Glogau. Seus pais mudaram em 1628 para Fraustadt, e Heinrich entrou em 1637 no ginásio em Thorn. Depois ele estudou durante dois anos na Universidade de Königsberg e trabalhou como professor particular na Prússia Oriental. Em 1642 foi estudar em Frankfurt/Oder. Após algum tempo em Königsberg ele fez (1647) residência em Rostock e Greifswald. Ele se tornou um licenciado de Direito. Fez viagens que o levaram aos Paises Baixos, Inglaterra e França, e depois trabalhou como advogado em Guhrau. Por causa de agitações na Polônia ele mudou para Stettin. Em 1657 tornou-se secretário municipal em Altdamm, próximo de Stettin, e em 1658 tesoureiro e conselheiro. Por motivos de saúde abalada desistiu dos cargos em 1659 e abandonou a cidade sitiada. Faleceu: 16 de agosto de 1659, Stettin. (há 350 anos).
As seis primeiras estrofes do hino foram escritos por Heinrich Held em 1643. A 7ª estrofe, de autor desconhecido, foi acrescentada mais tarde. A primeira publicação deste hino aconteceu em 1658 em Frankfurt an der Oder na Neu erfundene geistliche Waserquelle durch Johann Niedling (Recém descoberta Fonte de Água Espiritual por Johann Niedling). E em 1659 apareceu no Praxis Pietatis Melica de Johann Crüger. Desde então se tornou um favorito geral em muitos países, e isso merecidamente, pois é um de nossos melhores hinos de Advento e de Natal.
A melodia usada em nosso hinário HPD é do século 12, e foi adaptada por Martim Lutero em 1524 para um outro hino de Advento Nun komm der Heiden Heiland. Outra melodia, muito usada para este hino, foi encontrada em Frankfurt/Main em 1659, foi publicada por Freylinghausen no hinário editado em Halle 1704, e adaptada em 1744 por Johann Georg Stötzel.
Reflexão.
A 1ª estrofe nos anima inicialmente a render louvores a Deus.
Note: Quem é convidado a louvar? - Todo o mundo! O louvor não deve ser elevado só por um indivíduo especialista em teologia, e nem por um grupinho pequeno de profissionais em música e canto, mas, sim, por todo o mundo, isto é: todas as pessoas indistintamente em todas as nações (Salmo 117,1; Romanos 15,11).
E por que motivo Deus merece todo o louvor e gratidão? – Ele é um Deus que a promessa cumpre aos seus. Este é o tema principal deste hino. O evangelista Mateus ressalta esse assunto várias vezes no seu Evangelho. P. ex. Mat.1,22: Tudo isto aconteceu, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta. Ou Mat.2,15.17.23; Mat.4,14. Já que Deus cumpre suas promessas podemos confiar nele e contar com ele todos os dias de nossa vida, e mesmo na hora da nossa morte.
E qual foi a promessa que Deus fez e cumpriu? Ele não nos prometeu uma vida sem sofrimentos ou livre de problemas. Ele não prometeu de livrar-nos de todas as doenças ou dar fim às guerras. Mas a maior promessa que ele fez e cumpriu foi enviou ao pecador o seu Filho, o Redentor. O nascimento de Jesus Cristo é, pois, o motivo alegre que nos leva a louvar a Deus.
A quem Deus enviou o seu Filho como Redentor? – Ao pecador. Pecador? Não gostamos de ser chamados assim. Mas gostando ou não – fato é que o pecado separa de Deus. E, separados de Deus, somos como uma planta sem sol; - ela morre. Mas a boa notícia do Natal vale especialmente aos que vivem na escuridão. Deus amou ao mundo pecador de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3,16).
A 2ª estrofe conta que Deus executou algo milagrosamente. O que foi?
A 3ª estrofe igualmente afirma o que agora apareceu. Quem foi? Isaías 7,14.
Estas duas estrofes reforçam o tema indicado na 1ª estrofe, lembrando que já nos tempos do Antigo Testamento Deus havia anunciado a vinda do Salvador através dos anciões e dos profetas (Zacarias 9,9; Lucas 1,70; Atos 13,23+32; Romanos 1,2+3). Estas estrofes espelham aquilo que o Ressuscitado fez quando falou aos discípulos no caminho a Emaús. Começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras (Lucas 24,27).
Depois da meditação sobre a primeira vinda de Jesus (nas 1ª a 3ª estrofes) o hino passa a usar a forma de oração. Na primeira pessoa do singular eu falo com Jesus.
Como Jesus é chamado no início da 4ª estrofe? - Salvador. E como o autor cumprimenta o Salvador? - Sê bem-vindo! - Que esta seja também a nossa saudação e oração! Pois Jesus não veio só para que se cumpram as promessas dadas ao povo de Israel, mas ele quer ser também o meu Salvador. Quer ajudar a mim pecador. Deixamos de lado a criancinha da manjedoura e nos dirigimos agora ao homem Jesus, ao Salvador, que hoje está presente aqui onde estamos orando. Hoje ele quer entrar em meu coração. Hoje ele quer ser meu Senhor e Salvador.
Por isso posso cantar. O que eu canto? – Canto glórias, assim como os anjos na noite de Natal nos campos de Belém (Lucas 2,14) ou assim como todos os remidos na eternidade o farão (Apocalipse 5,13; 7,12; 19,7). - Como canto? – Canto com fervor, isto é: com grande dedicação, ímpeto, ardor.
Em seguida o autor acrescenta ainda alguns pedidos, que igualmente podem ser os nossos. O que suplico no final da 4ª estrofe? - Grava no meu coração teu caminho justo e bom! Este pedido tem sua base bíblica em Isaías 40,3; Mateus 3,3. Também podemos pensar em Miquéias 6,8: Que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia e Andes humildemente com o teu Deus?
Na 5ª estrofe o pedido da vinda do Senhor a mim é repetido com mais insistência, com um duplo Vem... vem. E como Jesus é chamado na 5ª estrofe? – Rei da glória. O que eu prometo a ele no 2º verso da 5ª estrofe? – eu sou teu, de mais ninguém. Com isso me comprometo a segui-lo com fidelidade, permito que ele seja meu Rei, e que ele governe a minha vida. E que pedido eu faço na segunda metade da 5ª estrofe? – Vem, destrói todo o mal em mim.
A 6ª estrofe continua com este pensamento. O que pedimos no início da 6ª estrofe? – A serpente vem matar! Lembramos a história bíblica, como o pecado entrou no mundo, e recordamos a mais antiga promessa de Deus: Porei inimizade entre ti (serpente) e a mulher, entre a sua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. (Gênesis 3,15) – E para que fim pedimos que a serpente seja morta? – Para que haja amor e paz – duas palavras fundamentais na época de Natal. Paz e amor, com estas duas palavras o autor chega ao ponto culminante de sua meditação. Aqui poderia repetir mais uma vez a primeira estrofe. Louvado seja Deus por tão grandes presentes dados a nós!
Mas, um desconhecido sentiu falta de mais um pensamento, e acrescentou isso na 7ª estrofe: Qual é esse pensamento? – Ao voltares, ó Senhor. Como se cumpriu a promessa da primeira vinda de Jesus, assim também se cumprirá a promessa de sua segunda vinda (p.ex. Mateus 24,30). Importante é que sempre estejamos preparados para encontrar-nos com ele. Como deve ser este encontro? – com alegre coração!