Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Tod@s verão a salvação de Deus e a necessária mudança cultural

05/12/2015

Lucas 3.1-6:
Tod@s verão a salvação de Deus e a necessária mudança cultural

Nós cantamos junto com o hino 308 de HPD2, tempo de preparação, que o Advento é tempo de abertura, de esperança. Tempo de mudança de abrir caminhos, de estar disposto a ajudar o irmão e uma irmã encher de esperança, tempo de avaliação, de unir caminhos, de aplainar colinas, tempo certo pra pedir perdão e tempo de perdoar.

João Batista foi o precursor de Jesus. Foi filho de um pai “mudo” (povo em silêncio) que renunciou aos privilégios do sacerdócio no templo e sua mãe foi uma mulher estéril. A palavra de Deus chega até João Batista estando ele longe do poder, no meio das bases populares. E desde essa família e desse lugar desértico, a palavra de Deus sopra e se dirige aos instalados, às pessoas acomodadas em sua forma de viver. E João é um profeta radical. Seu chamado ao arrependimento não foi bem aceito pelas pessoas que não queriam mudanças. Por isso, o mataram.  Quem se beneficia com uma situação, não quer mudanças. O rei Herodes e toda a sua corte não queriam mudanças. Exigir mudança de vida dos poderosos daquela época, custou a cabeça do profeta.

Também hoje, a questão profética não é muito simpática para a maioria dos pastor@s e igrejas. As pessoas não querem ouvir admoestações, mas querem que Deus abençoe os seus planos de prosperidade econômica. Colocar o dedo nas feridas da humanidade, não atrai as pessoas.

As imagens dessa semana que passou nos falam de algumas dessas feridas. Os Estados Unidos são um dos poucos países do mundo onde o porte de arma legal está previsto na Constituição. E mais uma vez ouvimos de um massacre como o desta quarta-feira em San Bernardino — o pior desde o de Sandy Hook, em 2012 —, com 14 mortos e 17 feridos. Com 321 milhões de habitantes, as autoridades americanas calculam que haja cerca de 270 milhões de armas de uso privado entre a população. Todos os dias 92 pessoas morrem, em média, por armas de fogo. O jornal The Washington Post publicou um artigo nessa semana dizendo que nos últimos 3 anos houve um tiroteio por semana nos Estados Unidos. No entanto, nenhuma ação consegue mudar a legislação para que se regulamente melhor o uso de armas. Mudança nesse tema é algo impossível.

Mas não devemos apenas falar de Estados Unidos. Também aqui no Brasil, o mapa da violência é um dos mais sangrentos do mundo. Só no ano passado o Brasil registrou 154 assassinatos por dia. Somos o 7 pais mais violento do mundo, ficando atrás de El Salvador, da Guatemala, de Trinidad e Tobago, da Colômbia, Venezuela e de Guadalupe.

Nesse jogo de estatísticas para ver quem mata mais e quem mata menos, as notícias sobre violência acabam por justificar o uso de mais violência. Contra a violência prega-se a necessidade de mais armas e de mais repressão. Forma-se assim uma cultura de violência reciproca, que vai acabar desintegrando a sociedade humana. Mahatma Gandhi já advertia, que nesse jogo do olho por olho, no final, vamos acabar todos cegos.
Nesse mecanismo de violência sobre violência, não existe salvação. A repetição da violência somente promove o império da morte. E será que tem outro jeito?

A humanidade não se salva com violência sobre violência, mas pelo Espírito de Deus, diriam os profetas. E o Espírito de Deus chama as pessoas para que comecem a cultivar uma nova cultura de vida, de liberdade, de comunhão com base no amor recíproco que promova o sentido mais profundo da humanização.

Isso quer dizer que a salvação para o problema da violência não está em procurar somente um bode expiatório para cada situação, como se a violência fosse um caso isolado nas nossas sociedades. Precisamos falar sobre o pecado social, sobre o desequilíbrio na organização social, política, econômica. A violência não termina com mais repressão, mas com oportunidades de vida digna para as pessoas. Por isso, a violência deve ser combatida com educação, com promoção da paz e da tolerância com quem é diferente.

Nessa semana completamos um mês da maior tragédia ambiental do Brasil, com o rompimento da represa de desejos da mineradora Samarco em Mariana (MG). Milhares de pessoas perderam a sua subsistência ao longo dos 800km por onde a lama passou. Chegando ao mar, a lama provocou uma mancha de mais de 80km pela costa do Espirito Santo e da Bahia. Em Mariana, além de chorar os 15 mortos e os 11 desaparecid@s, centenas de pessoas em Mariana perderam o rumo de suas vidas, porque a lama levou e sepultou tudo o que eles tinham. Não existe mais um lugar para voltar. Para mais de 300 familias, a lama destruiu, cobriu e secou, seputando tudo o que les tinham.

Durante essa semana também ouvimos que em Paris, @s Ministr@s do meio ambiente de quase todo o mundo estão reunidos para falar sobre as mudanças climáticas. O objetivo é chegar a um acordo mundial que freie o aquecimento global. No entanto, o clima no mundo não vai melhorar se os países mais ricos não reduzirem seus níveis de consumo. O planeta Terra não aguentará se todos países tiverem os níveis de consumo de Estados Unidos e Europa. Por isso, o planeta Terra necessita uma convenção mundial para falar sobre crise e consumo. Caso contrario, estaremos enxugando gelo. (...enquanto ainda houver gelo para enxugar)

Nesse contexto ouvimos a mensagem de João Batista chamando ao arrependimento e a mudança. A nova mensagem é que Deus quer vida, não violência e morte, seja física ou ambiental, mas vida abundante para tod@s.

No entanto, as mudanças sempre são lentas. Elas não acontecem imediatamente. Primeiro é necessário que as mudanças ocorram no interior de cada pessoa. Cada pessoa deve se conscientizar de seu papel particular na transformação do mundo. Cada um de nós deve ser a mudança que ele deseja para o mundo. Se queremos que o mundo tenha mais paz, devemos começar por nós mesmos, a cultivar atitudes de paz. Mudança de atitudes requer persistência. Mudar uma cultura de violência, de descaso e destruição do meio ambiente requer um processo pedagógico de repetição de atitudes e promoção da paz, da tolerância e do cuidado com a Criação de Deus. Desta maneira a vontade de Deus vai se realizando de geração em geração.

O diálogo com base  no Deus da Vida e do Amor pregado por Jesus, facilitaria a resolução de conflitos e promoveria o respeito pela vida, de cada vida humana. Sempre que se prega a necessidade do uso das armas para resolver disputas, proclamamos a derrota da fé, da razão e da humanidade.

Os profetas e profetisas não apareciam em todo momento. Eles surgiam na Bíblia quando a sociedade estava desiquilibrada, quando havia muita diferença entre as pessoas, entre ricos e pobres. Nesses momentos surgiam os profetas para dizer que algo está errado nessa sociedade. Justiça, para os profetas, era a necessidade de um equilíbrio entre os ricos e os pobres. Para isso, era necessário uma mudança, uma avaliação, um arrependimento e uma reparação.

Ainda precisamos hoje desses desafios proféticos que chamam a humanidade e a todos nós ao arrependimento e mudança. Como igreja, temos um papel importante na mudança da cultura de violência e de destruição ambiental por uma cultura de paz e de respeito à Criação. Advento é tempo de falar de falar de esperança, de promessas que ainda vão se cumprir, de sonhos que ainda vão se concretizar. Advento é tempo de lembrar que Deus necessita da colaboração do seu povo, do qual cada um de nós faz parte.
Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 6
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 36157

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