O Senhor é Deus; ele é a nossa luz. Com ramos nas mãos, comecem a festa e andem em volta do altar. Sl 118.27
Domingo de Ramos! Que acontecimento é este? Que significado ele tem para o restante da semana Santa? Ao Domingo de Ramos está ligada a entrada de Jesus em Jerusalém como rei. Conta Mt 21.1-17 que enquanto Jesus entra na cidade de Jerusalém as pessoas estendiam suas roupas e ramos verdes como tapete para o seu rei e Salvador.
A compreensão correta deste acontecimento nos encaminha para a compreensão correta da Semana Santa e Páscoa. Caso compreendermos Jesus como um rei triunfante, forte, vitorioso, cheio de glória e que vai destruir todos os poderes da terra pela força, fatalmente nos frustraremos na Sexta-Feira Santa. Um rei triunfante não pode terminar na cruz. Isso é sinal de fraqueza e derrota para os que o condenaram à cruz.
O fato de vir montado num jumento, animal de carga, já aponta para que rei está entrando em Jerusalém. Nosso rei é humilde, sua força está no servir e dar a sua vida para salvar muita gente. Sobre seus ombros ou suas costas carrega o peso de nossos pecados. Diferentemente dos nossos reis e governadores que se deixam servir e tomam o poder como sendo sua conquista pessoal, Jesus revela o seu poder na humildade.
Jesus Cristo recebeu o poder. Ele lhe foi dado e confiado por Deus. A cruz de Cristo é resultado da maldade humana. Estamos todos, mesmo não estando lá, incluídos entre aqueles que gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Estamos mergulhados até o pescoço na responsabilidade pelo que aconteceu, pois continuamos incorrendo nos mesmos pecados dos quais Cristo nos libertou com sua morte na cruz. Só quem se sabe pecador, carente da graça e da libertação de Jesus, compreenderá corretamente o que acontece na Sexta-Feira Santa.
Quem vê um Cristo glorioso no Domingo de Ramos tem dificuldades de encontrar lugar para a cruz e a morte do Salvador na sua caminhada de fé. Entender a cruz com a sabedoria humana nos traz frustração, pois a força e a vitória são sinais de poder para nós. Deus usa outros critérios que demonstram poder e força.
O rei que recebemos no Domingo de Ramos condiciona toda a nossa ação e modo de viver. Ele valoriza o servir e o doar-se em favor do outro. Logo, nenhuma violência e sofrimento encontram em Cristo ou na sua cruz justificativa. Ele superou tudo o que diminui a vida humana e da criação como um todo. Neste “tudo” entende-se sistemas de governos e atitudes pessoais que afrontam o amor e a solidariedade, formas de organizar a sociedade que marginalizam pessoas, sistemas econômicos que precisam do sacrifício de vidas humanas para lucrar e se fortalecer, atitudes que escravizam e menosprezam as pessoas e a criação de Deus.
“Eles queriam um grande rei que fosse forte e dominador, e por isso não creram nele e mataram o Salvador” diz um conhecido hino. Onde pode ser visto este Cristo humilde que entrou em Jerusalém ainda hoje? O mesmo hino responde: onde surdos escutam, cegos enxergam, coxos andam, pessoas têm tempo para ouvir a palavra de Deus e a ele se entregam inteiramente. Jesus mesmo definiu os critérios para encontra-lo conforme Lc 4.18-19: O Senhor me deu o seu Espírito. Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres e me enviou para anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos e anunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o seu povo.
A promoção da vida está por traz de cada ação descrita por Jesus. Voltar-se para Cristo é estar comprometido em colocar sinais de vida em nossa família, comunidade e sociedade. Não qualquer vida, mas vida abundante e completa. A força da vida encontra sua origem na primeira páscoa e precisa desta força para as nossas ações hoje. Não pode haver desânimo nem retrocesso. A última palavra de Deus para a humanidade é a vida plena de sentido e significado. Esta é a tarefa da Comunidade Cristã: promover a Cristo com suas atitudes. Que esta força da vida renasça também em ti. Amém.