Jesus Cristo a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. (Filipenses 2.8)
A palavra obediência, no latim oboedire, significa escutar com atenção. A quem eu ainda escuto com atenção? Escutar com atenção é, na verdade, uma arte difícil. Há uma dificuldade enorme de ouvir atentamente a outra pessoa. Rubem Alves, no seu texto A Escutatória, diz que todo mundo quer aprender a falar, mas ninguém quer aprender a escutar! É difícil escutar o que uma pessoa diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ela diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que a pessoa diz não fosse digno de consideração e precisasse ser complementado por aquilo que temos a dizer -- que é, lógico, muito melhor.
Na comunidade dos filipenses as pessoas também não conseguiam mais escutar uma a outra. O Apóstolo Paulo, com o hino Cristológico, no qual nosso versículo está inserido, procura orientar a pequena comunidade dos Filipenses, diante dos conflitos e rivalidades que ameaçavam a unidade, a escutar e imitar a Cristo, que foi obediente ao Pai.
Nos momentos mais tensos de sua vida Jesus se recolheu para orar. Se recolheu para escutar o Pai. E ao escutar, se manteve fiel ao projeto do
Reino, isto é, venceu na cruz as nossas dores e sofrimentos, nossos pecados, nossas quaresmas. Mostrou que a vitória da vida sobre o sofrimento, a dor e a morte é fruto da escuta, da obediência a vontade do Pai.
Muitos de nossos males e dores também poderiam ser evitados se escutássemos atentamente o ensinamento de Cristo. No escutar da sua palavra é que o seu amor, a sua paz, a sua justiça, a sua misericórdia e o seu perdão se tornam concretos e reais em nossas vidas e em nossas relações. No escutar da sua palavra é que as quaresmas da vida vão sendo vencidas. No escutar da sua palavra é que nossos corações se tornam solidários com os que sofrem.
Desejo que nesse tempo de Quaresma possamos tirar tempo para escutar a vontade de Deus revelada em Jesus Cristo. Esta escuta cria diálogo, união e comunhão. Esta escuta permite lapidar nossas diferenças e andar de mãos dadas com os fragilizados, adoentados e necessitados de nossos tempos. Amém.
Pr. Ernani