Narrativa natalina na perspectiva do Boi e do Burro
Autoria desconhecida
Adaptação de Scheila dos Santos Dreher
Ambiente: Estrebaria (com estrutura bem simples de madeira e cobertura de folhas de coqueiro, por exemplo) e céu estrelado (forrar o fundo atrás da estrebaria com TNT azul escuro e estrelas de papel laminado); enfeites natalinos, no ambiente em geral; lonas sobre o gramado, para as crianças sentarem.
Providenciar:
• Caixa de som, dois microfones e aparelho para CD.
• Uma vestimenta de BURRO e uma vestimenta de BOI para a encenação (macacão marrom e máscara); roupas (adaptadas com TNT ou lençóis) para os demais figurantes do presépio.
• Dois banquinhos bem rústicos ou tocos de árvore; coxo (bem rústico), palha..., lampião antigo...
(Surgem o Boi e o Burro, dançando conforme a música, muito alegremente, e examinando o ambiente. Eles se encontram em pé, ou seja, sob duas patas! Ao término da música, eles ficam de frente para o público, lado a lado.)
BOI: Muuuu...
BURRO: Hiiiio, Hiiio (Ambos se olham e competem entre si com o som que produzem, espichando as cabeças pra frente!)
BOI: Burro! Oh, Burro! Você está notando qualquer coisa diferente hoje, por aqui?
BURRO: (O Burro olha ao redor, examina, cheira, pensa...) É! Estou mesmo percebendo que há algo diferente por aqui hoje sim. Parece que há um cheiro diferente no ar, você não sente?!
BOI: (O Boi olha para o céu estrelado – o fundo atrás da estrebaria!) Também senti. E você percebeu que o céu nunca esteve tão estrelado? Parece até que as estrelas estão pertinho da gente!
BURRO: É verdade, amigo Boi. Está tudo muito diferente mesmo! Isso é muito estranho! (O Burro muda de tom e continua sua fala com expressão assustada.) Oh, Boi, será que o mundo vai acabar? (Coloca as mãos na cabeça, faz o sinal da cruz...!)
BOI: Deixa disso, Burro... Isso não... (O Boi tranqüiliza o amigo.) Venha, cá, venha, Burro, relaxa! Vamos provar deste pasto fresco! Venha! (O Boi aponta para o pasto próximo à estrebaria e conduz o Burro até lá.)
(Música. Entra a ESTRELA, lentamente, dançando ao som da música. A ESTRELA – personagem - segura uma grande estrela de papel. O Boi e o Burro vão seguindo, admirados, a estrela com o olhar.)
BURRO E BOI: Oh!!!! (Exclamam ambos em conjunto, teatralmente, muito admirados com a presença da ESTRELA.)
BURRO: Olha, Boi. A estrela parou! (A ESTRELA fixa a estrela de papelão bem em cima do estábulo, em lugar anteriormente preparado para tal, e sai de cena.)
BOI: Sim, a estrela parou...
BOI E BURRO: ...bem em cima do nosso estábulo.
(Ambos se olham...!)
BOI: Tudo ficou tão quieto, de repente. Ui! Cheguei até a me arrepiar! (O Boi faz sinal de silêncio para as crianças. Depois, diz bem alto!) Burro, oh Burro!
(O Burro se espanta e pula alto!)
BURRO: Ai! Que susto! O que foi, Boi?
BOI: (O Boi aproxima-se do Burro e fala perto do seu ouvido, como se fosse contar um segredo.) Escuta, eu estou meio desconfiado...
BURRO: De quê, Boi? Você está desconfiado de quê? (Dá um pulo pra trás!) Ah, não. Desta vez não fui eu que peguei seu punhado de sal. Nem me venha com essa Burro! Vai ver que foi o Marreco que aprontou contigo!
BOI: Não, Burro. Não é nada disso! Eu estou desconfiado que alguma coisa muito importante está para acontecer por aqui. Alguma coisa tão importante que vai mudar o mundo!
BURRO: (O Burro fala desconfiado.) Você acha mesmo, Boi?
BOI: (O Boi fala com convicção.) Acho!
BURRO: Mas alguma coisa tipo o quê?
BOI: (O Burro fala misteriosamente.) Estou desconfiado de que ELE, o menino Jesus, vai nascer aqui! Ouvi dizer que por estes dias está para se cumprir a profecia do profeta Isaías que anuncia o nascimento do Filho de Deus!
BURRO: (O Burro fica escandalizado.) Não diga isso, amigo Boi. Uma estrebaria tão suja como a nossa, tão pobre e simples, tão... (faz cara de nojo) tão éka... não é um lugar digno para o nascimento do Filho de Deus! (Chama o Boi para perto de si, com o dedo indicador.) Venha cá! Você não está sendo um pouco pretensioso, não, amigo?! Imagina, só! O Filho de Deus nascer numa estrebaria como a nossa! Essa não!
BOI: Então me diga: Por que a Estrela parou bem em cima do nosso estábulo? Isso não é normal...!
BURRO: Ela deve ter se enganado, ué!
BOI: Mas e este cheiro adocicado por toda a parte, heim?!. (O Boi cheira o ar...) Sente, vai... (O Burro também cheira o ar...) Burro, acho bom nós arrumarmos as coisas por aqui... (O Boi pega uma vassoura, no canto do estábulo, e começa a varrer... O Burro olha, com as mãos na cintura, ainda desconfiado...) Vamos fazer uma limpezinha por aqui, caso aconteça mesmo mais alguma coisa, né?
BURRO: ( O Burro se decide.) É mesmo! Você pode ter razão. Espera! Eu te ajudo a arrumar e a limpar um pouco o nosso estábulo. (O Burro pega um pano e começa a limpar tudo, inclusive, a própria cara e o rabo do Boi.)
BURRO: Boi, venha comigo. Vamos buscar um pouco de palha seca e fofa para colocar no coxo.
(Música. Ambos vão até o canto do palco e voltam com a palha. Ao chegar junto ao coxo, um puxa a palha pra um lado, o outro puxa de volta... disputando quem vai colocá-la no lugar.)
BOI: Deixa que eu faço, Burro. Eu quero arrumar a palha no coxo pra servir de cama pro menino, caso ele venha a nascer aqui mesmo, né?!
BURRO: Não, eu faço melhor. Eu sei arrumar bem fofinho!
BOI: Está bem, Burro! Que tal nós dois fazermos isso juntos, heim?
BURRO: Tá certo, amigo Boi! Quatro patas trabalham melhor que duas!
(Música. Os dois terminam de arrumar a palha. Enquanto isso, Maria e José vêm entrando. Maria está grávida, com um barrigão! O casal vem abraçado. José auxilia Maria a caminhar. O casal caminha no palco, bem junto às crianças e, então, se aproxima da estrebaria. Boi e Burro se abraçam, de lado, e olham, admiradíssimos o que está acontecendo diante dos seus olhos. Vão se afastando e ficando mais ao fundo do estábulo, em lugar visível para o público.)
BURRO: Olha só, amigo Boi! Que barrigão essa mulher tem! Vai ver que comeu uma melancia inteira!
BOI: Deixa disso, amigo Burro! Ela está grávida. Essa mulher deve ser a tal Maria... e pelo tamanho da sua barriga, acho que o neném que ela está guardando dentro da sua barriga já está pra nascer, viu?
BURRO: Tem razão, Boi! (O casal se senta lado a lado, em dois tocos de árvore, colocados próximo ao coxo. Os dois animais ficam olhando. O casal ajeita os ombros, em visível sinal de cansaço.) Burro, oh Burro, eles parecem estar tão cansados. Olha só!
BOI: É... Parece que eles fizeram uma longa viagem até aqui. Também, com essa história do censo muita gente viajou até sua cidade Natal. Vai ver que eles são daqui, de Belém!
(Música. Entram alguns anjinhos, de mãos dadas, dançando alegremente. Eles circulam a estrebaria. Maria aproveita o momento em que os anjinhos passam na frente da estrebaria e, de costas, com a ajuda de José, “tira” o neném da sua barriga e o levanta, para o alto, mostrando que o neném nasceu. O enrola num pano e fica com ele no seu colo. José e Maria permanecem sentados, abraçados. O Boi e o Burro olham tudo com muita admiração. Os anjinhos saem de cena, sempre dançando. O Boi e o Burro se aproximam do casal, na ponta dos pés.)
BOI: Olha, amigo Burro! Que maravilha! (Fala, apontando para o neném!)
BURRO: (O Burro puxa o amigo um pouquinho para trás.) Não se aproxima tanto, Boi. Ele pode se assustar. Não é bom que ele veja nossas caras feias...!
BOI: Tem razão, Burro! Ele pode se assustar!
(Maria coloca o menino no coxo. O Boi e o Burro vão para o outro lado do coxo onde estão Maria e José e ficam próximos do menino. Maria e José olham carinhosamente para ambos.)
BURRO: (O Burro fala, emocionado.) Olha, Boi, eles estão olhando...!
BOI: Olhando o quê, Burro?
BURRO: Olhando para nós, ué! Eles viram a gente e nem se assustaram!
BOI: (O Boi olha pra trás e não vê ninguém. Conclui:) É... Acho que estão olhando pra nós dois mesmo!
(Ambos se aproximam ainda mais do coxo onde está o menino.)
BURRO: O menino tem frio. Quem sabe você o aquece com o seu bafo quente, Boi!
BOI: (O Boi experimenta o calor do seu bafo, sobrando sobre a própria pata.) Sim! Boa ideia, Burro!
BURRO: E eu, com o meu rabo, vou espantar as moscas!
BOI: Faça isso, Burro, faça isso!
(Música. Depois de fazer o proposto três ou quatro vezes, com calma, ambos se afastam um pouco do coxo e param bem à frente do estábulo.)
BOI: Nunca imaginei participar deste momento tão importante!
BURRO: E eu, então? Nunca imaginei nós dois, um burro e um boi, sendo testemunhas do nascimento do menino Jesus, o Salvador tão esperado! O mundo nunca mais será o mesmo depois deste acontecimento, pode acreditar, amigo Boi!
BOI: (Fala bem teatral!) Que santo escândalo!
(Música. O Boi e o Burro voltam pra junto do coxo e ficam, um de cada lado deste. Se houver pessoas em número suficiente, entram, neste momento, os pastores e os estudiosos das estrelas. Cada qual encontra seu lugar no estábulo, em pé ou sentado. Todos cumprimentam com reverência a Maria e a José.)
APÓS O TEATRO, @ coordenador(a) da celebração atualiza a cena de natal, destacando (pelo menos) o que segue: Deus surpreendeu a todos quando escolheu um estábulo como lugar de nascimento de seu Filho. Ele nos surpreendeu ao permitir, também, o louvor dos animais! No Natal, nós também podemos surpreender pessoas...! Assim como o Boi ofereceu seu bafo quentinho para esquentar o menino Jesus, assim como o Burro espantou as moscas que rondavam o coxo onde estava o menino Jesus, nós também...
Sugestão: Motivar as pessoas, quando convidadas a participar desta celebração, a trazer consigo alimento, material de higiene ou outro e destiná-lo para uma entidade beneficente da cidade, verificando, anteriormente, qual sua real necessidade. Neste caso, a motivação para a entrega das doações aconteceria neste momento e as doações poderiam ser colocadas junto ao presépio.