Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Mateus 28.1-10 - Domingo da Páscoa - 09/04/2023

Auxílio Homilético

09/04/2023

 

Prédica: Mateus 28.1-10
Leituras: Isaías 25.6-9* e Colossenses 3.1-4
Autoria: Ana Isa dos Reis Costella, Irineu Costella
Data Litúrgica: Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 09/04/2023
Proclamar Libertação - Volume: XLVII

 

Amor: a grande força salvadora!

1. Introdução

“Jesus está vivo! Ele ressuscitou!” Esse anúncio da Páscoa atravessa os continentes e traz alegria e esperança, coragem e ânimo às pessoas cristãs que ouvem essa mensagem.

Se essa mensagem nos enche de vida nova ainda hoje, talvez possamos imaginar o que foi para aquelas pessoas que testemunharam a morte de Jesus. Não conseguimos entender e precisar o impacto que a morte, a execução de Jesus causou sobre seus seguidores e suas seguidoras. Mas podemos imaginar que foi mais do que medo e insegurança. A execução de Jesus trouxe desespero, crise, aniquilação de sonhos, dúvidas, uma dor de injustiça (causada a alguém tão amado) e perigo. Foi o anúncio “Jesus está vivo”, foi o encontro com o Ressuscitado que transformou o total caos e desolação. Aquelas pessoas desconcertadas, desoladas e desesperadas foram arrancadas de sua fuga, de seus medos, de sua covardia, de suas dúvidas e transformadas em pessoas que proclamaram que aquele homem injustiçado e morto dias antes está vivo, que a morte não pôde com Jesus.

A Páscoa é o evento fundante da fé cristã, expressão da força salvadora do amor de Deus, que ressuscita Jesus. A Páscoa aprofunda a radicalidade do amor. É imperativo resgatar a profundidade da Páscoa. Se a ressurreição não tivesse acontecido, a morte teria a última palavra. Para as pessoas seguidoras de Jesus, a ressurreição significou a grande alegria de descobrir que Deus não abandonou Jesus. Com a ressurreição, Deus confirmou a mensagem e a vida de Jesus e lhe fez justiça. Hoje, diante da morte, confessamos a força da ressurreição, alento, consolo e esperança para as pessoas. Crer na ressurreição é bálsamo diante da dor e do luto provocados pela morte.

A reencarnação tenta apresentar-se como consolo às pessoas diante da morte. Mas que consolo há quando a morte não é vencida? Perguntadas sobre o que cremos, há quem não saiba diferenciar ressurreição, reencarnação ou imortalidade da alma, facilmente, acreditando nas duas últimas. A Páscoa nos desafia a falar de forma compreensível que cremos na ressurreição. As primeiras pessoas cristãs se valeram de diversos modelos para explicar a loucura da cruz e a vitória na ressurreição. Elas tiveram que lidar com perguntas árduas sobre a morte e ressurreição de Jesus e tentaram encontrar respostas que testemunhassem sua fé. A ressurreição as obrigou a aprofundar a vida e morte de Jesus à luz do amor.

Encontramos excelentes recursos preparados por colegas em: PL VI (Silvio Meincke, p. 167s), PL 24 (Guilherme Lieven, p. 139s), PL 35 (Gottfried Brakemeier, p. 176s) e PL 41 (Leonídio Gaede, p. 147s).

2. Exegese

2.1 – Observações gerais

A perícope está inserida no bloco Paixão, morte e ressurreição de Jesus, que abarca os capítulos 26.1 a 28.20. O trecho conclusivo compõe-se de duas partes: a) narra os fatos em torno do sepulcro: mulheres que se deslocam ao túmulo, terremoto com a aparição do anjo às mulheres e desmaio dos guardas (v. 1-8), aparição de Jesus às mulheres (v. 9-10) e trama das autoridades judaicas para explicar ao povo o sepulcro vazio (v. 11-15); b) narra a aparição de Jesus (e a missão confiada) aos apóstolos na Galileia (v. 16-20).

A ressurreição é narrada nos quatro evangelhos, com notáveis diferenças. Mas todos confessam a mesma coisa: nem mesmo a morte pôde com Jesus, o Crucificado está vivo, Deus ressuscitou Jesus. Nenhum evangelista narra diretamente a ressurreição, o momento exato em que Jesus ressuscitou e como aconteceu, mas todos são unânimes na constatação das mulheres, do sepulcro vazio, da aparição de anjos e da aparição do próprio Jesus que a ressurreição é realidade.

2.2 – Olhando os versículos

V. 1: Sábado: Mateus não deixa claro o horário em que as mulheres foram ao túmulo. Contudo, a narrativa paralela de Marcos não deixa dúvidas de que foi ao despontar do sol do primeiro dia da semana, domingo.

Intenção das mulheres: Mateus omite a declaração que aparece em Marcos quanto à intenção das mulheres de ungirem o corpo de Jesus. É certo que elas sabiam onde Jesus havia sido enterrado, mesmo tendo olhado de longe, pelo que sugerem vários autores. Jesus não teve um enterro com as honras fúnebres, tudo foi muito rápido, pois era necessário acabar antes que a noite chegasse, quando começaria o solene sábado da Páscoa. Penso nas mulheres discípulas que nada puderam fazer pelo seu Mestre, nem para evitar sua morte, nem para realizar o último gesto de carinho e atenção por meio dos cuidados fúnebres. O tempo de pandemia escancarou a dor de não poder prestar o último adeus, de não poder escolher a roupa, de não ter tempo para velar e chorar a morte. Parece-me que, para essas mulheres, não houve tempo o suficiente para a despedida, faltou fazer algo, estão cheias de uma sensação de incompletude, dor e abandono e, quem sabe, de um quê ao qual não se consegue descrever com palavras, mas que mexe com as entranhas quando a morte atinge quem amamos.

Nomes das mulheres: Quanto às mulheres testemunhas da mensagem da ressurreição, os quatro evangelhos apresentam nomes diferentes, talvez – como sugerem alguns estudiosos – “para enfatizar mais uma pessoa do que outra” (Champlin, 1986, p. 646). Mateus traz Maria Madalena e a outra Maria como testemunhas da ressurreição de Jesus.

Ēlthen: é um verbo aoristo ativo na 3ª pessoa do plural, do verbo erchomai = vir ou ir. O aoristo descreve uma ação sem limitação de tempo. A maioria das traduções aposta em: foram ver o túmulo. Quão interessante seria a tradução vieram ver o túmulo, colocando a ênfase em Jesus, ainda que morto e sepultado: eis uma perspectiva que abraça o protagonismo do Ressuscitado. Ou seja, leríamos a partir do túmulo, cujo ventre guardou Jesus.

V. 2: Terremoto: Assim como na morte de Jesus, Mateus aponta para um sinal de teofania: a transcendência irrompe na imanência. Parece que a intenção de Mateus é que o terremoto anunciaria a ressurreição de Jesus assim como um terremoto anunciara sua morte.

Anjo: Mateus apresenta um anjo e o coloca assentado sobre a pedra que fechava o sepulcro. A Bíblia apresenta os anjos como portadores de uma mensagem de Deus às pessoas. O texto de Mateus parece sugerir que o anjo removeu a pedra naquele momento do terremoto (provocado pela descida do anjo). Mateus nada menciona sobre a preocupação das mulheres sobre quem removeria a pedra da entrada do sepulcro.

V. 3: O aspecto do anjo: Sua descrição traz elementos da tradição apocalíptica veterotestamentária para apresentar manifestações divinas. Com a descrição, o autor sugere que o anjo tenha vindo de um ambiente celestial.

V. 4: A menção aos guardas é própria de Mateus e harmoniza com a narração anterior sobre a ordem do Sinédrio para haver guardas no sepulcro e com a narração posterior sobre a corrupção dos guardas no relato do ocorrido. Os guardas foram totalmente surpreendidos com o ocorrido, pois como poderiam cogitar acontecer algo extraordinário vigiando um cadáver? Os guardas seriam soldados romanos, acostumados a batalhas, e já deveriam ter visto muitos acontecimentos incomuns e espantosos. Mas a morte traz sempre consigo o drama da vida humana e a total nulidade do ser humano diante dela. Ao trazer esse relato, Mateus parece enfatizar o tremor dos guardas diante da manifestação do “sagrado” e a vitória do Ressuscitado sobre os inimigos derrotados.

V. 5: O que foi motivo de terror para os guardas serviu de mensagem de esperança e poder para as mulheres. O anjo dirige-se às mulheres e inicia com a fórmula característica não temais, típica das mensagens de salvação. O anjo fala às mulheres, afirmando saber quem elas estão procurando e identifica Jesus como o Crucificado.

V. 6: Ressurgiu: É o anjo quem anuncia a mensagem que tirou as mulheres da perplexidade e, certamente, surpresa e susto com tudo o que presenciaram: Jesus ressuscitou. As mulheres, conforme relata Mateus, são testemunhas da remoção da pedra, mas não da ressurreição em si. A mensagem da ressurreição de Jesus sustenta a igreja até hoje, que celebra todo domingo como uma Páscoa semanal, justamente por causa dessa mensagem anunciada na aurora do primeiro dia da semana.

Como ele havia dito: Quantas vezes Jesus falou sobre sua morte e ressurreição. Na maioria das vezes, fugimos de assuntos que envolvem a morte, pois apontam a finitude da vida e nossa fragilidade e nulidade. Podemos imaginar como agora essa menção as transporta para aqueles dias em que estavam na companhia de Jesus e quando essas palavras foram mal entendidas ou nada compreendidas. Agora, essa menção evoca tão sagradas e carinhosas memórias, cheias de significação.

Vinde ver onde ele jazia: A fala sobre o sepulcro vazio deve ter iniciado por volta do ano 70, pois as primeiras confissões e hinos litúrgicos nada mencionam sobre o assunto. Mais tarde, esse lugar se torna sagrado. É onde Jesus esteve morto. Mas, agora, está vazio. Mateus não menciona os panos de linho que foram deixados no sepulcro e que, até hoje, suscitam estudos, debates e teorias intituladas “o santo sudário”. O túmulo vazio nunca foi refutado por nenhuma das polêmicas surgidas acerca da ressurreição. Daria para dizer que é unânime o reconhecimento de que o túmulo estava vazio. Contudo, a mensagem do anjo Jesus ressuscitou é mais importante do que o sepulcro vazio e é essa mensagem que está no fundamento da fé cristã.

V. 7: Ide depressa e dizei: O anjo volta a arrancar as mulheres do inédito, da perplexidade, do que mais parece sonho que realidade. Ao enviá-las, o anjo as incumbe de uma tarefa. Elas foram as primeiras a receber a mensagem revolucionária e a elas foi confiada a grande tarefa missionária de levar adiante a boa nova, primeiramente aos discípulos. A mensagem que elas deveriam proclamar é a ressurreição de Jesus: anúncio do mais inédito, a maior mensagem já proferida pela boca de alguém.

O que tinha a dizer: O anjo conclui sua tarefa. Essa expressão repete uma fórmula provavelmente conhecida no Antigo Testamento com que Deus garantia as comunicações proféticas e divinas.

V. 8: Mateus relata que as mulheres partiram rapidamente. E como esperar? A mensagem é maravilhosa demais para esperar ser anunciada. Ela enche as mulheres de tal forma que transborda delas. Não é possível deixar essa mensagem trancada dentro de si mesma. Ela precisa ser repartida. As mulheres assumem, de imediato, a missão a elas confiada. Enquanto escrevo, imagino essas mulheres! Eu me imagino com elas para tentar entender o misto de sensações, sentimentos, pensamentos e emoções que tomou parte delas. Mateus relata que elas estavam cheias de temor e grande alegria. Jesus, aquele com quem tinham convivido, de quem tinham aprendido, com quem tinham criado vínculos, que viram ser morto da forma como foi morto, por quem nada puderam fazer a não ser chorar e enlutar-se, ele tinha ressuscitado! Vieram ao sepulcro cheias de dor e lamento, com aquele gosto de morte que remexe as entranhas da gente, suspende o ar, retira o chão debaixo dos pés. E agora iam com a mensagem mais transformadora, da qual eram portadoras, que as enchia de vida nova, de entusiasmo, de brilho, de gratidão, urgência para a partilha.

V. 9: Jesus vem ao encontro e diz “alegrem-se”: Jesus é o protagonista, é ele quem vem ao encontro das mulheres. Quantas vezes Jesus veio ao encontro. Agora, faz o mesmo. Só que agora é em um momento totalmente outro. Ele estava morto, as mulheres presenciaram sua morte injusta e terrível na cruz, estiveram lá quando fora sepultado, ainda que de longe. Mas agora ele estava lá, vivo de novo! A mensagem do anjo torna-se concreta e palpável nesse encontro com Jesus. Agora, um Jesus ressuscitado, que já não está mais sob o domínio do tempo e do espaço, mas que continua sendo aquele que vem ao encontro, que transforma vidas. Com sua palavra, Jesus expressa o que se passa dentro delas: alegria. Não qualquer alegria, mas uma alegria contagiante, que faz o coração bater acelerado, que transborda de dentro da gente, que faz sentir o céu no aqui e agora.

Elas, se aproximando, abraçaram-lhe os pés: As mulheres respondem imediatamente. Parece que Jesus estava a uma certa distância delas, o que levou com que se aproximassem. Elas abraçaram seus pés não para se certificar que não fosse um fantasma, mas inundadas de alegria, alívio, gratidão, felicidade: aquele a quem tanto amavam, o Jesus amado, estava ali com elas. Era uma nova chance, uma nova oportunidade, um momento indescritível de felicidade. Se eu tivesse a chance de estar mais um minuto com quem tanto amo e que faleceu, como reagiria? Penso naquelas pessoas que, como eu, tivemos que sepultar pessoas queridas e amadas em caixões lacrados, que não as viram mais depois da ida ao hospital. Mais um minuto, mais um momento: desejos profundos tão humanos e carregados de sentimentos. Essas mulheres tiveram a oportunidade que vale mais do que se consegue imaginar. Elas derramaram todo coração e toda mente e tudo o que eram aos pés de Jesus, a quem amaram, a quem seguiram, por quem arriscaram tudo para cumprir a missão a elas confiada. O encontro com Jesus é realização, plenitude, vida nova, justiça realizada; a morte foi vencida; a força está na ressurreição, no fazer viver, e não no matar.

V. 10: Não temais: Jesus volta a falar com as mulheres. Não tenhais medo são palavras messiânicas. O que elas não precisavam temer? Estavam a seus pés, não estavam com medo de Jesus. Mas certamente ainda há medos. Todas as pessoas têm seus medos. Naquele tempo, assim como hoje, mulheres têm medo. Temos medo em ser desacreditadas: “Isso é conversa de mulher, elas se impressionam demais e inventam coisas, veem coisas que não existem”. Medo de não ser ouvidas: “Mulheres falam demais, não dê ouvidos a elas”. Medo de ser silenciadas. Medo de ser ignoradas. Medo de ser violentadas. Medo de ser perseguidas. Medo de ser mortas. Medo de não conseguir fazer o que desejamos, o que precisamos. Jesus as conhece e sabe de seus medos. Ele se faz solidário, como já fizera antes, e essa sensibilidade, empatia e compaixão, essa postura de cuidado e zelo as encoraja, as fortalece.

Ide... dizer a meus irmãos... me verão na Galileia: Jesus repete a missão que o anjo já lhes dissera. Mas agora é Jesus quem confia a elas a missão de levar a boa nova. Essas mulheres, as primeiras testemunhas da ressurreição, se tornam também as primeiras evangelistas, as primeiras anunciadoras de que Jesus está vivo, que a vida vence a morte, que a justiça aconteceu, que o poder está na força que traz vida e não nas formas diabólicas de morte. As mulheres são chamadas a levar a mensagem aos irmãos, expressão de ternura para se referir às pessoas achegadas a Jesus, pessoas discípulas. Muitas dessas pessoas discípulas, especialmente os doze, haviam abandonado Jesus, mas o Ressuscitado, que já os tinha chamado de amigos, agora os chama de irmãos, estende o perdão que reconecta, restabelece o vínculo. O evangelista Mateus apresenta a Galileia como o lugar para o encontro, onde a missão de Jesus teria começado. Autores (identificados entre parênteses) interpretam o convite para a Galileia de diversas formas: ponto de partida da missão da igreja a todos os povos (Evans), lugar do seguimento evangélico de Jesus (Beasley-Murray), símbolo da vida cristã vivida dia a dia (Léon-Dufour), lugar da parúsia (Lohmeyer, Lightfoot, Marsen).

3. Meditação

A Páscoa destrói aquilo que se pensava ser a força mais forte que existia. Acreditava-se que a morte era a maior força, capaz de intimidar e demonstrar com quem estava o poder. E não qualquer poder, mas o poder sobre o viver e o morrer. A partir da Páscoa acontece uma subversão. Deus tira o poder do tirar a vida ao devolver a vida. Revela que a verdadeira força está na ressurreição. Forte é quem traz vida e não morte ou caos, é quem constrói e não quem destrói. A Páscoa muda o foco. Já não é mais matar e, sim, viver, é romper com violência e morte e compactuar com vida digna, perdão e não violência ativa.

Ao ressuscitar Jesus, Deus expressa, mais uma vez, o seu amor. A Páscoa testemunha um Deus que estava com Jesus no sofrimento e na vitória sobre a morte. Deus não quis o sofrimento de Jesus e tampouco estava castigando Jesus. A cruz é sinal da rejeição de pessoas que se opõem ao Reino. Jesus é executado por pessoas que não querem e não acreditam nos valores do Reino de Deus, que compactuam com aquilo que traz benefícios para elas próprias e não vida digna para todas as pessoas. Deus não tira Jesus da morte, mas o salva na morte.

A ressurreição mostrou que Deus estava com o crucificado de maneira real, sem intervir contra seus verdugos, mas assegurando seu triunfo final. Este é o aspecto mais grandioso do amor de Deus: que ele tem poder para aniquilar o mal sem destruir os maus. Faz justiça a Jesus sem destruir os que o crucificaram (PAGOLA, 2010, p. 518).

Não é o sepulcro vazio que atesta a força da Páscoa. Mas a mensagem da ressurreição, o encontro com o Ressuscitado, mais cheio de vida do que nunca. Encontrar-se com Jesus é uma vivência de plenitude e realização, de ânimo e coragem, de ajustar o foco para o que realmente importa, de sentir-se chamado e impulsionado a anunciar a boa nova de Jesus e a viver comprometido com o Reino de Deus, com os valores do Evangelho.

Jesus é quem toma a iniciativa. Ele é quem vem ao encontro, cheio de vida. Jesus surpreende com sua presença viva. Ele se faz presente na vida das pessoas, ultrapassando todas as suas expectativas. O encontro com Jesus é carregado de emoções, sensações, sentimentos, reflexões, impulsos. Ao vir ao encontro, Jesus promove transformação. A dor da morte, a dor de terem abandonado Jesus, a dor de não terem conseguido absolver Jesus, a dor de não terem provado sua inocência, a dor da injustiça: são dores que trazem mais do que apenas tristeza, trazem a dor da culpa, da inutilidade, da injustiça. No encontro com Jesus é possível experimentar o perdão e a justiça. A experiência do encontro com o Ressuscitado é de reconciliação, de reconectar-se com o sagrado, de paz e novo ânimo, de justiça e vida nova. O encontro com Jesus obriga a romper com a incredulidade e perplexidade, leva ao inusitado, à graça.

Páscoa é recuperar o mais importante: Jesus vive e está conosco. O encontro com Jesus é decisivo. É nesse encontro protagonizado por Jesus que acontece a transformação. As mulheres foram as primeiras a reencontrar-se com seu Salvador, aquele que defendeu sua dignidade e as acolheu em sua companhia, aquele que conversava sobre teologia, vida e fé com elas, aquele que se deixava cuidar por elas. Elas tiveram a alegria de experimentar de novo a proximidade amorosa e terna com Jesus. No encontro com Jesus, elas assumem o protagonismo de evangelistas, missionárias, testemunhas. Se já tinham provado transformação na primeira vez que tinham encontrado Jesus em sua vida, agora experimentam a grande transformação ao encontrá-lo como o Ressuscitado, capazes de abraçar a missão de levar adiante o Evangelho e de viver conectadas com o Reino.

4. Imagens para a prédica

Como traduzir a força da ressurreição, a transformação que a Páscoa promove? Se pensarmos a partir das mulheres, eis algumas perguntas que podem suscitar boas ideias e imagens:

a) Vir ao túmulo: quais são as dores que carregamos? Quais são os sinais de morte no local/território onde vivemos?

b) Os guardas tremeram: que poderes ou que formas asseguram/promovem/estimulam a morte, a injustiça, o caos? A Páscoa revela que esses não têm a verdadeira força, além de romper e denunciar essas formas de maldade, propondo um caminho de paz e amor, justiça e vida digna para todas as pessoas.

c) A mensagem do anjo: quais são as boas novas que ouvimos e que renovam a esperança? Em tempos de polarizações e ódios, quais vozes nós ouvimos e que promovem um novo tempo?

d) Jesus vem ao encontro e elas o abraçam: também hoje Jesus vem ao encontro (de tantas formas!), e como respondemos? Nós o reconhecemos? Esse encontro nos transforma? Ou somos nós quem queremos transformar Jesus a partir de nós mesmos? Parece-me, em alguns momentos, através de certas posturas e falas, que tiramos de Jesus o protagonismo e colocamo-nos como os senhores de Jesus, apontando o que ele deveria dizer, cooptando-o a “alguns escolhidos” e colocando-o ao lado do reino deste mundo. O encontro com o Ressuscitado é o encontro com o Crucificado (como o identifica o anjo) e, nesse encontro, já não é mais possível sair como se chegou: o amor revelado na Páscoa é transformador.

e) As mulheres respondem à missão: experimentar a Páscoa em sua radicalidade é assumir a missão de levar a boa nova e de viver comprometido com o Crucificado Ressuscitado.

5. Subsídios litúrgicos

As celebrações do Tríduo Pascal propõem que, no Domingo de Páscoa, os sinais da morte (chicote, coroa de espinhos, o pano preto) sejam rompidos e colocados os sinais da Páscoa (velas, paramentos brancos ou dourados, flores). A pia/fonte batismal pode estar especialmente enfeitada: ela é, ao mesmo tempo, “tumba do passado – velha natureza – e útero materno de onde nasce a vida – vida nova em Cristo” (Tríduo Pascal, p. 75). O Círio Pascal simboliza Cristo, a luz do mundo, que ressuscita vitorioso e dispersa as trevas da morte, nos chamando ao compromisso de ser luz de Cristo.

Oração do dia: Deus de amor, que ressuscitaste Jesus, rompendo com os poderes da morte, nós te agradecemos por nos amares de forma tão profunda e plena. Teu amor, revelado na Páscoa, é força criadora. Compromete-nos com esse amor transformador e ensina-nos a colocar sinais da Páscoa. Que o encontro com Jesus nos encha de tanta alegria, coragem e disposição como foi com as mulheres e, assim como elas, nos anime na missão. Por Jesus Cristo, nosso Salvador, que morreu, mas ressuscitou; que rompe com as formas de mal, protagonizando a força salvadora do amor; que vive e reina contigo e com o Espírito Santo hoje e sempre. Amém.

Bênção da Páscoa: Através do teu poder, Deus, transformaste a cruz de Cristo em árvore da vida. Através do teu poder, Deus, transformas nosso medo em confiança, nossa paralisia, em novo ânimo. Assim nossa vida será uma parábola para a ressurreição da morte para a vida. Abençoa nossa árvore da vida, para que o tronco morto comece a brotar e a florir (Hanna Strack).

Bibliografia

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Milenium, 1986.
LANCELOTTI, Angelo. Comentário ao Evangelho de São Mateus. Petrópolis: Vozes, 1985.
PAGOLA, Antônio. Jesus, aproximação histórica. Petrópolis: Vozes, 2010.

* Conforme O Lecionário Comum Revisado da IECLB, a leitura prevista é Jeremias 31.1-6.

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Autor(a): Ana Isa dos Reis Costella, Irineu Costella
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 28 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 10
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2022 / Volume: 47
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 69467

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A fé não pode aderir ou agarrar-se a qualquer coisa que tem valor nesta vida, mas rompe os seus limites e se agarra ao que se encontra acima e fora desta vida, ao próprio Deus.
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