Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Marcos 5.21-43

Auxílio Homilético

01/07/2018

Marcia Blasi
Marli Brun
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Prédica: Marcos 5.21-43
Leituras: Lamentações 3.22-33 e 2 Coríntios 8.7-15
Autoria: Marcia Blasi e Marli Brun
Data Litúrgica: 6º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 01/07/2018
Proclamar Libertação - Volume: XLII

1. Introdução

As necessidades humanas, individuais e coletivas variam conforme o tempo, o lugar, o contexto, o gênero, a classe social, a raça, a etnia, as condições físicas e psicológicas, entre outras. O texto do evangelho (Mc 5.21-43) fala da necessidade de cura e restauração da vida de uma menina, filha de Jairo, e de uma mulher que sofria de hemorragia. O texto de Lamentações 3.21-33 (PL 25, p. 226-230; PL 39, p. 212-217) apresenta o clamor do povo que, em 587 a.C, viu Jerusalém sendo destruída e a elite político-religiosa sendo levada para a Babilônia. A dor do povo de Jerusalém e Judá era tão grande que o caminho encontrado foi o de confessar a culpa, queixar-se, resistir com resiliência, silenciar e confiar que a misericórdia de Deus se renova a cada manhã. A fraqueza e a impotência naquela situação de guerra eram tantas que dar a face ao que o fere (Lm 3.30) era um jeito de permanecer com vida. Em 2 Coríntios 8.7-15 (ver PL XIX, XIII, XV, 33) a comunidade de Corinto é desafiada pelo apóstolo Paulo a se deixar “tocar” pelo testemunho de Cristo.

Os textos previstos para o 6º Domingo após Pentecostes nos fazem olhar para as causas das guerras (injustiças, violências, mortes, preconceitos, discriminações, opressões) e, a partir da graça de Deus, nos fazem olhar para as necessidades humanas, indicando caminhos de cura, restauração e fortalecimento da vida pessoal e comunitária.

2. Observações exegéticas

O texto de Marcos 5.21-43 contém a narrativa da cura da filha de Jairo e da mulher que sofria de hemorragia. Em Proclamar Libertação 33 estão disponíveis observações exegéticas referentes ao texto de Marcos 5.21-24,35-43, escritas pela teóloga Ana Isa dos Reis. Outras análises estão disponíveis no PL 28, 39, 22 e XII. Enfocaremos aqui a análise de Marcos 5.25-34.

O evangelista Marcos narra diferentes eventos salvíficos protagonizados por Jesus. As ações de Jesus provocam seu deslocamento (ora está num lugar, ora noutro) e geram reações de aproximação e de perseguição. Por curar enfermidades, muitas pessoas, de diferentes lugares, seguem-no: pessoas da Galileia, Judeia, Jerusalém, Idumeia, do lado leste do rio Jordão e da região de Tiro e Sidom, como podemos ver em Marcos 3.7-8. Por contrariar a lei vigente, em situações como a da cura do homem com a mão deficiente, realizada em dia de sábado, na sinagoga, Jesus se torna alvo de perseguição violenta: Logo depois os fariseus saíram dali e, junto com as pessoas do partido de Herodes, começaram a fazer planos para matá-lo (Mc 3.6). No início do capítulo 5, conforme o evangelista Marcos, Jesus está na região de Gerasa, no lado leste do lago da Galileia (5.1). Nesse lugar, aconteceu a cura de um homem que estava com “espírito mau” (Mc 5.1-20). As pessoas que testemunharam o acontecimento pediram insistentemente que Jesus saísse da terra delas (Mc 5.17), possivelmente para a proteção da vida dele. O “sair” está associado contextualmente ao risco que Jesus corria de ser morto, entre outros motivos, devido à cura realizada em dia de sábado (Mc 3.1-6). Ao iniciar a narrativa da cura da filha de Jairo e da mulher com hemorragia, Jesus novamente está no lado oeste do lago da Galileia (Mc 5.21-43). A narrativa dessas curas termina com o pedido de Jesus de que não fosse espalhada a notícia da cura da menina (Mc 5.43).

A notícia da chegada de Jesus atraía uma multidão de pessoas. Jairo, uma autoridade leiga da sinagoga, prostrou-se diante de Jesus, clamando com insistência para que fosse até sua casa impor as mãos sobre sua filha, salvando-a da morte. Jesus coloca-se a caminho. A multidão o segue. Supostamente, por ser Jairo uma liderança da congregação, sabia do conflito com as autoridades religiosas. Mesmo assim, enquanto a mãe ficou cuidando da menina, ele foi buscar ajuda para salvar a filha.

Durante o deslocamento de Jesus até a casa de Jairo, uma mulher com hemorragia rompe as fronteiras da lei (Lv 15.19ss), tocando em Jesus, o Messias. Essa lei religiosa, oriunda possivelmente do período pós-exílico, dizia que a hemorragia tornava seu corpo impuro. Consequentemente, tudo o que ela tocava tornava-se impuro também. Por isso, ao tocar em Jesus, ela rompe as fronteiras da lei, construindo uma nova relação com o sagrado. Na época de Jesus, prevalecia o entendimento de que a chamada “impureza das mulheres” as incapacitava para o acesso ao âmbito sagrado (Neuenfeld, 2001, p. 124), pois contaminava o “lugar onde Deus habita” (Neuenfeld, 2001, p. 52). Para evitar catástrofes, como a narrada no livro de Lamentações, buscava-se seguir rigorosamente um conjunto de leis, defi nida por um corpo sacerdotal masculino. A mulher que sofria de hemorragia, com sua fé, revela que é a vida que define uma nova relação com o sagrado. A hemorragia causa “anemia, desproteinização, astenia, podendo, inclusive, causar morte” (Queiroz, 2013, p. 35). Apesar da fraqueza física, ela buscou, sem sucesso, ajuda na medicina (Mc 5.26). Ao saber que Jesus estava na região, ela pensou: Se eu apenas tocar na capa dele, ficarei curada (Mc 5.28).

Com fé, temor e tremor, ela toca no manto de Jesus. Ao tocar, a relação com o sagrado é reestabelecida. Seu silêncio em relação ao ocorrido dura apenas o tempo entre o toque e a reação de Jesus, perguntando pela protagonista da ação. Sua resposta à autoidentificação é imediata. Com tremor e temor ela prostra-se aos pés do Messias (Mc 5.33). Em resposta Jesus testemunha que foi a fé que a salvou. Diz que pode ir em paz, pois está curada do seu mal (Mc 5.34). A mulher, cujo nome não é identificado pelo evangelista Marcos, buscou a cura e encontrou também a salvação. Agora ela poderia voltar inclusive a frequentar a sinagoga e o templo, embora de forma limitada. Na época, as normas de expressão de fé limitavam o acesso das mulheres. No templo e nas sinagogas, as mulheres não podiam ocupar os mesmos espaços que os homens, falar nas cerimônias religiosas e realizar a leitura dos textos sagrados.

Os sinais do Reino, testemunhados por Jesus, rompem com essa forma de relação com o sagrado. Em Jesus não são os códigos que comandam a vida, e sim a vida que comanda os códigos. Ao chegar à casa de Jairo, Jesus estende a mão para a menina, quebrando também a lei que impedia o contato com o corpo de alguém que tinha falecido. Assim, restaura a vida em sua integralidade. Apesar da ordem dominante excluir as pessoas doentes, elas permanecem na confiança de que a misericórdia e o amor de Deus são mais fortes do que qualquer forma de exclusão. Esse sentimento fez a mulher com hemorragia ir ao encontro de Jesus. E, embora Jairo fosse funcionário da sinagoga, não hesita em buscar a ajuda de Jesus, mesmo sabendo da perseguição que este sofria pelas autoridades da época.

3. Meditação

O texto narra o encontro de Jesus com duas mulheres. Uma já não tão jovem, outra na adolescência. Ambas estão interconectadas por serem mulheres e por precisarem de auxílio. A idade da mais jovem era exatamente o tempo de doença da mais velha.

Se, no caso da jovem, é o pai quem intercede e procura ajuda, no caso da mais velha é ela mesma quem toma a atitude e “rouba” um milagre. Assim como a mulher percebeu as mudanças em seu corpo, Jesus também reconheceu que algo havia acontecido, mesmo não tendo desempenhado nenhum papel consciente na cura. Ele sentiu que havia saído poder de si, mas não sabia muito bem para quem e nem para quê. Jesus não estava disposto a permitir que a saída de seu “poder” ocorresse sem reconhecimento. O “roubo” de um milagre de cura era inadequado. Ela não teve opção de simplesmente ir embora. Ela poderia ter fugido com sua “cura roubada”, mas isso não teria sido a cura total, pois ela precisava de cura para além da física. Ela precisava de cura social e comunitária.

Depois da pergunta e do olhar insistente, a reação de Jesus foi inesperada. Ao invés de acusar a mulher, ele afirmou a fé dela. E ela foi em paz. Jesus também seguiu seu caminho. Ele foi salvar a vida da jovem. Mas desta vez Jesus cuidou para não haver uma exposição pública da sua ação nem da situação da menina. A vida de Jesus, suas ações de cuidado, seu amor pela vida de todas as pessoas garantiu cura que atravessa fronteiras e barreiras étnicas (cf. 5.1-20), de gênero (ver 5.21-43), de idade. Jesus escolheu não deixar as pessoas nas condições em que as encontrava.

4. Imagens para a prédica

O texto de Marcos apresenta pessoas que tiveram a coragem de buscar ajuda num momento de dificuldade. A vida de duas mulheres está em risco. A mulher com hemorragia por 12 anos e a jovem de 12 anos, com a morte declarada.

É importante lembrar na hora de preparação da prédica que há situações em que as pessoas têm muita fé, elas se jogam aos “pés” de Jesus e, mesmo assim, suas doenças não são curadas ou as pessoas amadas não voltam à vida. Fazer uma ligação simplista entre fé e cura não ajuda.

Convide a comunidade a refletir sobre a coragem de pedir ajuda e sobre a valorização da vida de todas as pessoas. Vivemos em um tempo em que pedir ajuda passou a ser sinal de fraqueza ou incompetência. Na verdade, pedir ajuda é um ato de extrema coragem e confi ança. Pedir ajuda e receber uma resposta empática ajuda a curar muitas dores e males.

Resgate histórias na própria comunidade onde pequenos gestos de cuidado significaram vida. Tome cuidado para não fazer um “nós” pessoas boas e “elas” pessoas que precisam de ajuda. Todas e todos nós já recebemos o cuidado de alguém e todas e todos nós vamos precisar de cuidado ao longo da vida. Isso é normal e saudável. O que é anormal é não receber cuidado em tempos de dor, fragilidade e solidão.

O amor de Deus não escolhe pessoas, mas nossas atitudes e discursos impedem pessoas de experimentarem esse amor. Desafie a comunidade a responder ao chamado de Jesus sendo igreja diaconal e inclusiva.

5. Subsídios litúrgicos

Litania de acolhida:
L: Quando olhamos para o lado e vemos outras pessoas,
C: nós fazemos parte do milagre de Deus!
L: Quando olhamos para o lado e respondemos ao clamor das pessoas em sofrimento,
C: nós fazemos parte do milagre de Deus!
L: Quando olhamos para nós mesmas e nós mesmos com amor,
C: nós fazemos parte do milagre de Deus!
L: Nós fazemos parte dos milagres de Deus que acontecem na simplicidade da
vida a todo instante e em todos os lugares. Dá-nos, Deus, coragem para perceber a tua ação no mundo e responder ao teu chamado.

Bibliografia

NEUENFELDT, Elaine Gleci. Sangue, fluxos e poderes – ditos e entreditos em torno da menstruação e do parto no Levítico 12.1-8 e 15.19-30. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2001.
QUEIROZ, Lauro José Coelho. A cura da mulher hemorrágica: um diálogo entre a teologia e a medicina a partir de uma leitura de Lucas 8.43-48. São Leopoldo: EST/PPG, 2013. 84 p.


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Autor(a): Marcia Blasi e Marli Brun
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 6º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 21 / Versículo Final: 43
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2017 / Volume: 42
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50188

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