Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Lucas 2.1-20 - Não temais

Prédica

25/12/1978

NATAL
 NÃO TEMAIS
 Lucas 2.1-20 (Leitura: Salmo 107.1-16)


Quem foi o primeiro pregador do evangelho? Foi um anjo. Quem foram os primeiros ouvintes do evangelho? Foram pastores de ovelhas e de cabras, gente simples, possivelmente analfabetos. E qual foi o conteúdo da primeira pregação? — Esta pergunta é especialmente importante, porque poderia ser que esta primeira prédica seja um modelo para qualquer pregação cristã; que qualquer pregador, hoje, possa e deva tirar desta pregação do anjo a medida para sua própria pregação. — Ouçamos, então, o que o anjo anuncia: — «Não temais: eis que vos trago boa nova de grande alegria que será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura.» 

Você está notando a diferença entre a pregação do anjo e os fatos que Lucas vai contando no começo do capítulo? Lucas diz simplesmente o que aconteceu, o que olhos humanos são capazes de ver; O imperador Augusto publica uma lei que obriga todos os cidadãos do império a alistar-se em sua localidade de origem. É o grande recenseamento, o grande balanço que o poderoso imperador vai fazendo em seu império. Um casal da Galileia, José e Maria, obedecendo àquela lei de recenseamento, vai à sua cidade de origem, Belém, situada no sul, na Judéia. É caminhada de uma semana, no mínimo. Maria está grávida, no último mês; mas não é possível adiar a viagem. A lei é severa, as autoridades não brincam. E assim nasce a criança, na cidade mesmo para onde eles foram, em Belém da Judeia. Nasce numa situação muito precária: O hotéis estão cheios; o casal precisa procurar um abrigo qualquer; provavelmente se alojaram num rancho abandonado ou numa estrebaria — e assim o menino recém-nascido é colocado em uma manjedoura, um cocho, do qual normalmente se alimentam jumentos e cabritos. — O que Lucas vai contando, ainda não é pregação. São os fatos, sim; mas fatos que aconteceram entre muitos outros fatos. Sem pregação, sem revelação, alguém que ficasse sabendo destes fatos poderia perguntar com certa razão: «E daí?» 

É o anjo de Deus que vai pregando sobre estes fatos. Ele não vai simplesmente contando o que aconteceu, não conta uma mera novidade, não informa simplesmente. Ele traz uma mensagem. É este seu serviço, sua função. Anjo significa mensageiro. Uma mensagem é diferente de uma simples história contada. A história pode nos interessar, pode até nos comover; mas a mensagem nos desperta a fé, a esperança, a alegria. A mensagem é para nós: Ela modifica a nossa vida, põe-nos em movimento. A mensagem é a luz de Deus que ilumina aquilo que aconteceu — é a própria palavra de Deus, endereçada a nós. — Que coisa maravilhosa: O primeiro pregador não foi um teólogo, um pastor, um sacerdote humano. Um homem certamente teria embrulhado aquela história com suas idéias, com aquilo que ele pensava. O anjo diz somente o que Deus pensa. Assim, sua pregação é breve, mas ela tem poder. 

O primeiro ponto da prédica do anjo; «Não temais!» — Este pregador, por certo, não chove no molhado. Ele sabe que há temor, aí mesmo, no escuro da noite, no escuro dos corações humanos. Não é o simples medo de alguma coisa desconhecida, de uma aparição sobrenatural. É o medo de criaturas extraviadas, de criaturas apartadas de seu Criador. É o medo dos filhos de Adão o qual se escondeu entre as árvores do jardim, porque tinha pecado contra Deus. O homem, por natureza, tem medo de Deus. Tem medo e tem raiva. Por seus próprios meios ele não seria capaz de vencer aquele medo, aquela raiva, que são frutos de sua má consciência, de sua desobediência aos mandamentos de Deus. E agora a mensagem de Deus atravessa aquele cipoal de culpa, de temor, de desconfiança, anunciando: «Não temais.» Isto é um recado com endereço certo, e é uma ordem. E é mais: É uma oferta é a porta aberta da casa do Pai, é a mão estendida de Deus, é Sua palavra que oferece reconciliação e paz. É sinal de que Deus está aí, esperando por seus filhos, pronto para perdoar e para aceitar. — Julgo que cada pregação cristã — hoje e em todos os tempos — deva ter este caráter: Deve convidar, atrair, dizer que o homem não é para ter medo, que ele pode chegar perto, confiante e sem temor seja quem for, e seja o que for que ele tenha feito. Assim, eu digo isto mesmo a você, caro leitor, caro ouvinte. Você crê isto, você aceita este recado do anjo? Porque é isto mesmo que ele quer dizer a você e que eu vou passando adiante: Não tenha medo de Deus! Ouça! 

«Eis que vos trago boa nova de grande alegria, que será para todo o povo: É que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.» Ai vem a informação. Sem ela não dá. Não há mensagem sem informação. Pregação não é somente um convite para sermos alegres, confiantes, crentes. «É que hoje vos nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Encontrareis a criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura.» E estes fatos vão servir de sinal! Quer dizer que aconteceu um fato muito concreto. Nasceu um menino. Ele nasceu hoje, logo ali, perto de vocês, envolto em faixas e deitado numa manjedoura. E a mensagem: Este menino é o Salvador, é Cristo, o Senhor. E este Salvador nasceu para vocês. É para valer mesmo vocês aí, homens, mulheres, jovens, velhos: É para vocês que ele veio. Vocês precisam de Salvador, não precisam? Então, ele está aí, ao alcance de vocês. A boa nova é para vocês — e mais, ela é para todo o povo! Ninguém fica excluído. Deus já fez o seu recenseamento -- muito antes de Augusto, o imperador. Ele quer todos. Não é aquele imperador romano que é o verdadeiro senhor de vocês. O verdadeiro Senhor é aquele menino, aí. Este Senhor não vai tiranizar vocês, não vai pôr nenhuma carga sobre os seus ombros. Ele não vai explorar vocês. Ele vai salvar vocês — e todos os que ouvirem e aceitarem a mensagem. 

Caro leitor, caro ouvinte: Você vai descobrindo aqui o segredo mais importante de uma prédica cristã. Ela aponta para Cristo. Ela tem Cristo por conteúdo. Ela anuncia que ele é o Salvador. Sem esta mensagem, uma prédica poderá ser muito bonita, muito comovente mesmo, Mas será uma prédica vazia. Será um saleiro sem sal, um supermercado sem mercadoria. Numa prédica só se faz luz, no momento em que começa a brilhar aquele, que é a luz do mundo. Ele é o evangelho em pessoa. Sem ele, a prédica não pode ser evangélica, por não conter evangelho. Não pode ser cristã, por não conter Cristo. Assim eu não me quero omitir aqui; quero deixá-lo bem claro; Este menino, nascido em Belém, é o meu Salvador e ele é o Salvador de você, que lê ou escuta estas palavras. Vá e leve o sal. Vá e leve a mercadoria. Não leve outra coisa. Leve só a certeza de que Cristo veio para ser o seu Salvador e que veio para ser o Salvador do mundo. Tudo mais se dará por si — assim como se deu com os pastores. 

Eu disse: Vá e leve! Que disse o anjo aos pastores? Ele disse: Ide e encontrareis. Encontrareis o menino envolto em faixas e deitado em uma manjedoura. Então eu preciso corrigir o que disse; Vá e leve, sim, leve a mensagem, leve a alegria, leve a fé. Mas você não pode levar Cristo assim como se leva uma mercadoria. Você tem que encontrá-lo como Senhor. Tem que crer nele, indo, obedecendo. Veja que os pastores creram. Eles creram com os corações, e creram com os pés. Como creram com os pés? Eles foram apressadamente para o lugar que o anjo lhes tinha indicado. Correram para ver o Cristo que lhes tinha sido anunciado. E este é o terceiro ponto que nenhuma prédica cristã poderá dispensar: Ela põe as pessoas em movimento. Move os corações em primeiro lugar, sim. Mas depois move tudo — as mãos, os pés, a boca, e até a carteira, e a bicicleta e o automóvel também, se for preciso. «Os pastores foram apressadamente e acharam Maria e José, e a criança deitada na manjedoura.» E depois de terem encontrado o Cristo, não ficam por aí, mudos e passivos. Vendo-o, eles divulgam o que lhes tinha sido dito a respeito deste menino. E depois eles voltam, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto. 

Caro leitor, caro ouvinte: Eu não sei, se você está lendo ou escutando esta prédica no dia de Natal, ou num outro dia do ano. Nós estamos tão acostumados a ouvir o capítulo 2 de Lucas no dia de Natal que quase achamos inconveniente ouvirmos esta passagem em outra época. Nada mais errado! O dia de Natal serve para nos mostrar o que vale para cada dia de nossa vida, Assim, se for dia de Natal para você, hoje, então trate de levar esta mensagem para os outros dias do ano. Também para os lugares ditos profanos, lugares que não são considerados santos. Você vê que um rancho de gado e uma manjedoura não são coisas de templo. São coisas da vida profana mesmo. É lá que Cristo se quer manifestar. É lá que ele quer ser nosso Senhor e Salvador. 

Ao início dissemos que o primeiro pregador do evangelho foi um anjo. Queremos finalizar, apontando para outro fato significativo: O primeiro coral evangélico também foi um coral de anjos. E não foi um coral pequeno: «E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem.» — Este coral, com seu louvor a Deus e com sua proclamação de paz entre os homens a quem Deus ama, é tão importante quanto o pregador. O louvor cantado é tão importante como a mensagem falada. Mensagem e louvor vão de mãos dadas — sempre. E veja como aquele louvor dos anjos «pegou» nos pastores, assim como também a pregação do anjo tinha «pegado»: Eles voltam, glorificando e louvando a Deus. Se cantaram, não sabemos. Mas teria sido muito apropriado. No caso, teriam sido o segundo coral evangélico. 

Você não precisa necessariamente participar de um coro de igreja para ser cristão, embora seja uma coisa felicitante se tal coro realmente cantar o louvor de Deus. Você poderá cantar este louvor também na liturgia do culto até com as mesmas palavras dos anjos: Glória a Deus nas alturas e paz na terra. . . Mas o importante é que você viva o evangelho ouvido e que viva o louvor cantado em seu dia-a-dia. Então o brilho de Natal não estará reservado a um pinheirinho iluminado, mas será uma luz que vai clarear os seus dias e as suas noites. 

Oremos: Senhor e Salvador: Nós ouvimos a mensagem de teu humilde nascimento. Quiseste nascer em um lugar profano e pobre para ser o irmão dos humildes. Que aconteça conosco o que aconteceu na vida dos pastores: Que o evangelho nos mova os corações e que nos mova a nós mesmos. Que nos leve junto a ti, nosso Salvador. Que nos faça anunciar a boa nova para aqueles que não a conhecem. Que nos leve a glorificar a Deus, por tudo que nos tem feito. Amém.

Veja:
Lindolfo Weingärtner
Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Domingo: Natal

Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 20
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19590

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