Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Lucas 1.67-79 - Deus visita o seu povo

Prédica

10/12/1978

ADVENTO
DEUS VISITA O SEU POVO
Lucas 1.67-79 (Leitura: Salmo 27)


Francamente, prezado irmão, prezada irmã — você sabe alguma coisa de Zacarias? Saberia identificá-lo, distingui-lo de outras personagens bíblicas? Não nos referimos ao profeta do Antigo Testamento, também chamado de Zacarias, mas falamos do Zacarias do Novo Testamento, do sacerdote, marido de Isabel, pai de João Batista. Talvez você tenha uma lembrança vaga daquele homem «justo perante Deus» que, ao servir a Deus no templo, à hora que se queimava o incenso, teve uma visão, na qual lhe foi anunciado que seria pai de um menino. Um menino, destinado a ser profeta, que na virtude e no espírito de Elias converteria muitos dos filhos de Israel ao seu Senhor e Deus. Lembra-se da reação de Zacarias — como não quis crer nas palavras do anjo e como ficou mudo até o dia em que lhe nasceu um filho, ao qual, contrariando a opinião de toda a sua parentagem, deu o nome de João? Cremos que você terá alguma reminiscência vaga desta personagem bíblica. Julgamos, porém, que Zacarias, o pai de João Batista, merece algo mais do que uma vaga lembrança. Valerá a pena ocuparmo-nos com este homem que foi um dos primeiros a reconhecer que os tempos estavam cumpridos e que a chegada do Messias estava próxima. 

O primeiro capítulo de Lucas nos traz o assim chamado «cântico de Zacarias», do qual escolhemos o primeiro e o último versículos — para encostarmos neles o ouvido e escutarmos o que têm a dizer a nós. Estes versículos contêm, a nosso ver, uma forma concentrada do evangelho de Jesus Cristo. Contêm um resumo da vida e da obra de Jesus, como não poderá haver outro melhor. Queremos, portanto, escutar de corações abertos aquela mensagem de Zacarias. O tempo de Advento é uma época muito apropriada para ouvirmos uma das testemunhas de Deus que, antes do nascimento de Jesus, estavam esperando pela vinda do Salvador do povo de Deus. 

«Bendito seja o Deus de Israel, que visitou e remiu o seu povo.» Esta é a primeira parte da mensagem de Zacarias. É uma mensagem em forma de hino de louvor. Será que compreendemos o alcance destas palavras? Dizem com grande clareza que em Jesus Cristo, quem se revelou, foi o próprio Deus, que «este negócio começou nos céus», como diria Lutero. Se aceitarmos esta mensagem, então será o fim de todas as idéias que vêem em Jesus apenas um homem bom, um homem nobre, de elevados ideais, um mestre — mas não o Deus revelado homem, o Deus que visitou e remiu o seu povo. Se este negócio — a saber o evangelho — não tivesse começado, de fato, no céu, então poderíamos fechar nossas igrejas, poderíamos vender nossas Bíblias como papel velho. Não haveria interesse algum por um evangelho que fosse apenas o produto de um mestre humano, que não passasse de sonho de um homem bom. Sonhos humanos, a terra já os conheceu desde que a humanidade existe. Sonhadores não nos poderão ajudar, pois os sonhos se desfazem perante a realidade cruel, como uma bolha de água de sabão se desfaz no ar. Devemos ser gratos a Zacarias, por não deixar dúvidas neste ponto: O evangelho partiu de Deus — não dos homens. Não foram os homens que se redimiram a si mesmos, não foram eles que procuraram a Deus. Foi Deus quem os procurou e redimiu. 

Nós, homens do século 20, tão acostumados a admirarmos a ação humana, talvez entenderíamos melhor, se Zacarias tivesse calado a boca a respeito de sua visão se tivesse reunido os amigos para lhes falar mais ou menos da seguinte maneira: «Irmãos, vocês sabem da situação triste em que se encontra nosso povo. Nós precisamos tomar uma iniciativa. Precisamos fazer uma campanha — uma campanha missionária sem precedentes. Vocês nem sabem o que um punhado de homens decididos é capaz de fazer! Se Deus enxergar nossa coragem e nossa boa vontade, certamente nos vai ajudar, quem sabe, nos vai mandar até o Messias.» Zacarias não falou assim. O seu canto é um hino de louvor a Deus, não aos homens. «Deus visitou e redimiu o seu povo.» Isto não deixa margem para ambições humanas. Dá a glória a Deus — só a ele. Os homens são os salvos — não os salvadores. 

Pois vamos encostar o ouvido aqui. Há mensagem, há boa nova para nós nestas palavras. Pois a nossa miséria espiritual — ela não tem sua raiz principal no fato de não deixarmos Deus ser o Redentor, o Salvador, o Senhor? Cantamos: «Por tua mão me guia» — mas bem no íntimo não contamos com a mão de um Deus Senhor, pois preferimos ser nossos próprios senhores, preferimos guiar a nós mesmos. Deus, assim, vai sendo rebaixado para uma espécie de tapa-furos, um Deus que tudo justifica o que fazemos, um Deus que não tem nenhuma vontade santa, já que nunca interfere com a nossa vontade. Claro que este Deus não é o Criador do mundo, o Todo-Poderoso, não é o Pai de Jesus Cristo, mas é um deus com «d» minúsculo, um ídolo, feito à nossa imagem, que nunca nos contraria, pois fomos nós mesmos que o criamos. É um deus cómodo, pois ele nunca deixa de dizer «sim» a tudo que fazemos, Mas tal deus não tem poder de salvar. Parece duro, submetermos nossa vontade ao Deus verdadeiro, dizermos como Jesus: «Faça-se como tu queres, não como eu quero.» A difícil tornarmo-nos pequenos (o que somos) e deixarmos Deus ser grande (o que ele é). É difícil admitir: Eu estou no fim. Agora é tua vez, Senhor. Mas quem encostou bem o ouvido mesmo, descobrirá que a palavra de Zacarias contém evangelho: Bem que eu esteja no fim: Deus me visitou e me remiu. Eu não fui esquecido por Deus. Ele me ama. 

Depois de falar de João Batista, que precederá o Senhor para lhe preparar o caminho, Zacarias, ao final de seu cântico de louvor, volta a falar da visita de Deus: «O sol nascente das alturas nos visitará para alumiar os que estão assentados nas trevas da sombra da morte.» Nós nos lembramos do testemunho que Jesus deu de si mesmo, dizendo: «Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.» Vamos mais uma vez encostar nosso ouvido: A finalidade da visita de Deus é alumiar os que estão nas trevas. Isso é, ele não veio pedir luz onde não há luz. Veio para trazer luz. E já que Deus é Deus, quando diz: Haja luz há luz. Veja aqui tem evangelho, aqui tem boa mensagem. Jesus não veio para amaldiçoar a escuridão. Não veio para anunciar que os culpados e os desesperados receberão o seu justo castigo. Ele veio para salvar, para iluminar este mundo de Deus, que não foi criado para permanecer nas trevas. 

A grande diferença entre o evangelho e as religiões humanas é justamente esta: As religiões humanas são moralistas — isto é, elas condenam o mal, amaldiçoam as trevas. Mas Jesus acendeu uma luz. Não uma luz qualquer: Ele mesmo é a luz. E já que luz e escuridão não podem existir juntas, as trevas, na presença de Jesus, simplesmente perdem a vez. Muitos cristãos ainda não compreenderam este fato jubiloso: Jesus não veio para exigir justiça de nós. Ele veio para trazer justiça. Todo o evangelho fé, perdão, amor, vida regenerada e agraciada tudo não passa de dádiva. A primeira lição na escola de Jesus é aprendermos aquilo: Tornarmo-nos bem passivos perante Deus, estendermos as mãos vazias e implorarmos: «Dá, Deus, dá!» — Só quem foi totalmente passivo perante Deus, poderá ser ativo, poderá trabalhar em sua vinha, em sua seara. Só quem reconheceu que ele, por si, está sentado «nas trevas da sombra da morte», está preparado para receber a luz do Cristo de Deus e para, depois, passar adiante esta luz. E ele nunca vai esquecer que a luz não é dele, mas de Deus. Ficará livre de orgulho, do pecado de Lúcifer, do anjo que quis, ele mesmo, ser luz e que acabou sendo o senhor das trevas. Aquele que, depois de experimentar a escuridão e o poder da luz de Cristo, estiver vivendo no caminho da obediência, seguirá o seu trilho, humilde e grato, até que o seu Senhor cumpra sua promessa final e lhe dê a herança dos santos, na luz. Na glória celestial, as trevas pertencerão definitivamente ao passado, e nada mais obscurecerá a face de Deus, que brilhará eternamente, inundando de luz bem-aventurada todos aqueles que por Jesus foram arrancados das trevas e da sombra da morte. 

«A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.» Dirigir: Alguém que dirige, vai pela frente. Vai abrindo caminho. Vai vencendo os obstáculos contrários à paz. Jesus Cristo é o príncipe da paz. Os profetas já o chamaram assim. Príncipe, isto é o primeiro. O que abriu caminho. Onde há Cristo, há paz. Quando Jesus nasceu, os anjos anunciaram: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem.» O Senhor ressurgido costumava saudar os discípulos com as palavras: «Paz seja convosco.» Desde o nascimento até a ressurreição, a vida de Jesus transcorre sob este sinal: Paz. Ele diz aos seus: «Dou-vos a minha paz, a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.» (João 14) Em verdade a paz de Jesus é uma paz diferente daquela que o mundo dá. Jesus não oferece uma vida calma, sem conflitos nem problemas. Diz-nos com clareza que no mundo teremos tribulação; mas afirma que em meio à luta e à tribulação teremos paz. Em meio à tempestade saberemos que Jesus está no barco e que as suas mãos estendidas dominam o vento e as ondas. E o que poderemos desejar mais? O que nos adiantaria uma vida calma e sossegada, uma vida sem problemas e lutas, se nos faltasse a paz de Cristo, a paz de Deus, que supera todo o entendimento? Esta paz de Deus não é nenhuma paz de cemitério. Também não é paz de «sombra e água fresca». É paz no sentido total que inclui felicidade real, justiça, verdade, amor. Viver na paz de Deus é viver em sua graça, é ter comunhão com ele. 

Nossa mensagem nos diz que Deus quer dirigir nossos passos no caminho da paz. O caminho da paz é o caminho de Jesus Cristo. Ele é o caminho. Os primeiros cristãos foram chamados «os que são do caminho». Paz, então, não é um lugar onde se pára. É um caminho pelo qual se anda. Um caminho que conduz pelo mundo irrequieto e conturbado, nervoso, atiçado por ambições, atiçado por instintos, tiranizado por desejos. Os discípulos de Jesus vão por este mundo como mensageiros da paz de seu Senhor. Eles não falam da paz como de algo longínquo e afastado, mas eles levam paz em sua companhia. Nós não sabemos o que os próximos tempos nos reservam em matéria de guerras, revoluções, terrorismo, criminalidade e em outras expressões de falta de paz. Poderá bem ser que a grande tribulação de que Jesus falou venha a ser uma realidade concreta em nossa geração. Louvado seja Deus, por nos ter visitado, por nos ter colocado no caminho de sua paz!

Oremos: Senhor, graças te damos por nos teres procurado, por teres iluminado a nossa escuridão. Graças te damos pelo evangelho de Jesus. Que possamos ser filhos da paz que neste mundo conturbado dão testemunho de teu poder e de teu amor. Amém.

Veja:
Lindolfo Weingärtner
Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS

 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Domingo: Advento

Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 67 / Versículo Final: 79
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19589

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