Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Logomarca genial

Artigo

31/03/2006


Muito eficiente foi a história da humanidade, e continua sendo, em produzir instrumentos de torturas e de morte suficientes para eliminar delinqüentes subversivos indesejados e agitadores políticos. Os museus e as salas de exposição, quando relembram os tempos passados, assim como os arsenais fechados a sete chaves nos tempos modernos, refletem a violência e o poder destrutivo gerado por mentes perversas, contrárias ao convívio ordenado e fraterno. A imagem das armas e dos instrumentos de guerra para matar, eliminar e para destruir serve de logomarca da luta por influência e poder e sinaliza a história da violência. Num mundo dominado pelo Império Romano, a cruz, entre outros instrumentos de morte, fazia parte desta história de brutalidade e ao mesmo tempo sinais de resistência.

Existem muitas cruzes. Podem ser decorativas, douradas e ironicamente brilhosas. No Brasil, à beira das rodovias, observamos muitas cruzes. São símbolos da imprudência e da pressa, falam do desrespeito às normas básicas das leis de trânsito. São cruzes que denunciam a omissão do poder público por falta de conservação das estradas. Chamam atenção as cruzes toscas e pretas, às vezes, melhoradas e enfeitadas com flores de plástico. Todas elas denunciam o reinado da violência gerando sofrimento, morte e tristeza.

Um fotógrafo famoso a serviço de marcas conhecidas no mundo da moda afirmou que o cristianismo produziu a logomarca mais genial até então criada e divulgada na sociedade humana: a cruz! Disse ele que não é a exposição da nudez de pessoas famosas, modelos sensuais nas passarelas vendendo serviços para grifes renomadas no mundo, a razão de salvação da humanidade. Lembrou o fotógrafo que a redenção humana ocorreu por intermédio de um homem ultrajado e despido, pendurado na cruz, executado num instrumento de tortura e de morte bem conhecido no Império Romano. Cristo, o crucificado, inaugurou um novo reino isento de superlativos de comandos. Seu poder consiste na força reconciliadora do sofrimento e no amor que se doa. Vivenciamos, neste dia, a Sexta-feira da Paixão. A tradição cristã fez deste dia um oásis do silêncio e da contemplação. As comunidades, no entanto, não se reúnem somente para contemplar o Cristo, o Homem-Deus exposto em sua nudez na cruz. Estando morto, foi levado envolto em panos de linho até a sepultura. A cristandade focaliza a cruz e dá o testemunho do Cristo crucificado, porque a cruz transformou-se em sinal maior de redenção dos seres humanos.

A desgraça que se abate sobre o ser humano, sua limitação e toda expressão de sua humanidade tornam-se visíveis no episódio da cruz. Ao mesmo tempo, esta aponta à misericórdia e ao amor de Deus.

Na Sexta-feira Santa, o sangue do verdadeiro Filho de Deus não foi derramado como sinal da vingança de Deus contra a humanidade que vive na esfera do pecado. O sangue de Cristo correu sendo oferta do perdão de Deus, em favor da reconciliação da humanidade. Por causa do pecado dos seres humanos, a cruz se tornou uma necessidade. Não é Deus quem carece de reconciliação - esta é nossa necessidade. Se Cristo morreu por nós, então morreu por nossa causa.

A culpa da morte de Jesus Cristo não se resume à manifestação do poder militar comandado a partir da cidade de Roma. Também não é possível despejar a culpa da morte do Príncipe da Paz sobre as costas dos inimigos de Cristo, os judeus. De modo semelhante, as causas da execução do Filho de Deus não se explicam em razão da inveja dos fariseus e dos saduceus, pessoas poderosas, membros das elites religiosas e econômicas, no tempo de Cristo. Se Jesus morreu por nós, conforme 1º Coríntios 15. 3, então o mundo moderno continua sendo solidário com os torturadores e com os assassinos de Jesus.

Sempre que a vontade de Deus continua sendo ferida. A humanidade de hoje assume cumplicidade e se torna co-responsável com aquelas pessoas que há dois mil anos provocaram a morte do Messias de Deus.

A história de Jesus não enfeita nossos sofrimentos e nem a angústia humana, assim como também não encobre a violência e a injustiça. Jesus não faz concessões especiais a seu público ouvinte. Quem quer ser meu discípulo, tome a sua cruz e siga-me. Sua história focaliza o reino de Deus e testemunha que a felicidade verdadeira ocorre na dimensão da esperança motivada pela Páscoa, a grande festa da vitória da vida. Esta é a oferta daquele homem crucificado e seminu, a serviço não de grifes especiais ou de gente poderosa, mas instrumento de salvação, um presente gratuito de Deus.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal A Notícia - 31/03/2006


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