Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

João 6.35,41-51

Auxílio Homilético

12/08/2018

 

Prédica: João 6.35,41-51
Leituras: 1 Reis 19.4-8 e Efésios 4.25-5.2
Autoria: Jorge Batista Dietrich de Oliveira
Data Litúrgica: 12º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 12/08/2018
Proclamar Libertação - Volume: XLII

O pão da vida

1. Introdução

Os textos previstos para este domingo nos falam de pão. O primeiro fala do pão que alimenta e sustenta o profeta Elias na sua caminhada. O evangelho traz o pão como metáfora para o testemunho e a revelação de Jesus. O texto de Efésios apresenta qual deve ser a conduta de quem se alimenta desse pão.

Em 1 Reis 19.4-8 Elias se confrontara com o rei Acabe e a rainha Jezabel, matando no monte Carmelo os profetas de Baal (18.20-40). Por causa disso, a rainha decreta a sua morte (19.1-2). Ele sente-se dominado pelo medo, foge para o deserto e deseja morrer. Deus reanima e alimenta o profeta que, com a força daquele alimento, caminha quarenta dias e quarenta noites até o monte onde o Senhor se revelou a Moisés (Êx 3) e onde a aliança foi concluída (Êx 19). Assim, Elias une sua obra com a de Moisés e simboliza o próprio povo de Deus, que fora liberto da escravidão do Egito e fora alimentado com o maná durante a peregrinação pelo deserto até chegar à terra prometida.

Em João 6.35,41-51 se apresenta o debate entre Jesus e alguns judeus sobre o sentido da multiplicação dos pães. Jesus revela sua identidade aos judeus, que não conseguem crer que ele é o filho enviado por Deus. Então, ele faz uso da metáfora do pão para colocar-se dentro da narrativa judaica, ao comparar-se com o maná. Assim, Jesus se oferece como o verdadeiro pão do céu que Deus mandou para dar vida ao mundo.

Em Efésios 4.25-5.2, o apóstolo Paulo apresenta vários conselhos práticos a respeito da vida cristã. Nosso texto deve ser entendido como uma exortação e um convite a viver de acordo com a nova vida proposta por Jesus. Quem se deixa alcançar por um Deus tão próximo, que interveio gratuitamente na história de seu povo, dando força, coragem e sustento para a caminhada em meio a situações de morte (1ª leitura), um Deus tão humano que se revela como o pão que desce do céu e se oferece como o pão da vida, que sacia a fome do mundo (evangelho), cria laços de fraternidade, de respeito e de comunhão na comunidade de Jesus que caminha, como o povo de Deus no deserto, para o dia da redenção.

2. Exegese

A perícope em questão situa-se na seção que tem como tema a autorrevelação de Cristo (5.1-10.21). O capítulo seis narra dois grandes milagres – a  multiplicação dos pães e dos peixes (v. 1-15) e Jesus andando sobre as águas (v. 16-21) – e os conecta para formar a introdução a um diálogo cristológico muito importante, em que Jesus se revela como o pão da vida (v. 22-59). Esse diálogo, em seguida, ocasiona uma crise de fé entre os discípulos e termina com a confissão de Pedro que Jesus é o enviado de Deus que tem as palavras da vida eterna (v. 60-71).

Os v. 41-51 aprofundam a afirmação de Jesus que está condensada no v. 35. Pode-se subdividir a perícope em dois complexos: v. 41-47, cuja temática concentra-se no murmurar dos judeus; os v. 48-51, que retomam a imagem do pão da vida. v. 35: Aqui aparece a primeira das sete afirmações feitas por Jesus sobre si mesmo (Eu sou), que recordam as palavras com as quais Deus se revelou a Moisés (Êx 4.14). Esse versículo é a chave hermenêutica de todo o capítulo seis, pois nele Jesus revela-se como o pão da vida. Além dele ter vida em si mesmo,  ode também transmiti-la aos outros. Mas é preciso ir a ele, que equivale a crer nele. Aqueles que vêm terão a fome saciada. O milagre da multiplicação dos pães no início do capítulo demonstra claramente que Jesus é o pão que sacia a fome do corpo também. O pão da vida é alimento físico e alimento espiritual, que dá salvação, ao mesmo tempo em que sacia a fome.

v. 41-42: Os judeus são os representantes do Sinédrio. Eles começaram a criticar Jesus por ter dito ser o pão que desceu do céu. Para os líderes religiosos, o fato deles conhecerem os pais de Jesus era a prova de que ele não viera do céu. Para eles, não havia nada de sobrenatural na origem de Jesus. A palavra grega utilizada para “murmurar” é a mesma utilizada na Septuaginta, em Êxodo 16. Jesus faz uma comparação entre o murmúrio dos judeus e o de seus pais, o que reforça a comparação entre o pão e o maná.

v. 43-44: Devido a essas murmurações, Jesus prossegue explicando que “vir a ele” ou “crer nele” é resultado da ação de Deus, que é a fonte derradeira, que o enviara ao mundo e que agora traz cada um que vem a ele. A fé não é obra humana, mas criação de Deus. Assim também afi rma Martim Lutero: “Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele”.

v. 45-46: Quando Jesus cita os profetas dizendo E serão todos ensinados por Deus, faz alusão a uma visão do Antigo Testamento do Reino messiânico onde todo o povo seria ensinado diretamente por Deus (Is 54.13; Jr 31.31-34). Jesus destaca a importância de não apenas ouvir, mas aprender. Pois o conhecimento imediato de Deus só pode vir por meio de alguém que tenha visto o Pai. Essa é a proclamação principal do evangelho (1.18).

v. 47-48: As verdades apresentadas anteriormente são novamente enfatizadas. A fórmula solene “em verdade, em verdade” identifica uma revelação divina às descobertas seguintes, esclarecidas nessa altura do diálogo. Jesus deixa claro que todo aquele que crê no Filho tem a vida eterna aqui e agora, sem precisar esperar pelo último dia. Jesus concede a visão de Deus que ele mesmo tem de maneira direta e constante; e com a visão de Deus vem a vida eterna.

v. 49-51: Jesus não é só o pão vivo em contraste com o alimento perecível. Ele é o pão que dá vida, que liberta do poder da morte os que o recebem. Isso nem o maná podia fazer por aqueles que o comiam. O maná foi um pão físico e temporal. O povo o comia e se sustentava por um dia. Mas era necessário que conseguissem mais pão todos os dias, e esse pão não poderia impedi-los de morrer.

Jesus garante que a ressurreição depende da adesão a ele e ao seu projeto, pois a nova lei que Deus oferece à humanidade é a pessoa de Jesus. O verdadeiro pão celestial, que é o próprio Filho de Deus, concede vida espiritual àqueles que comem dele, isto é, que se apropriam dele pela fé. A carne de Jesus, sua verdadeira existência corpórea, seria dada pela vida do mundo. Isso apontava para a cruz. Comer a carne de Jesus e beber seu sangue eram sinônimos de assimilação da pessoa de Jesus na sua totalidade: aceitá-lo como dom do Pai e doar-se como dom de vida para a humanidade. Jesus tornou-se o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. 1.29). Aceitá-lo em sua humanidade é passar da morte à vida, pois a salvação que Cristo oferece não é somente espiritual, mas acolhe todas as dimensões da vida humana.

3. Meditação

Que o pão faz parte do dia a dia do brasileiro todo mundo sabe. Geralmente, o café da manhã não começa sem ele. Certamente, antes de vir ao culto cada um comeu pão no café da manhã. No domingo reservado para homenagearmos os pais e a todas aquelas pessoas que exercem a função paterna, o tema proposto é sobre o pão: “o pão da vida”. Creio ser oportuno estabelecer uma relação entre o pão, alimento tão necessário para a vida, e o papel paterno de prover o pão, não esquecendo que em muitos lares são as mulheres que desempenham essa tarefa.

Os pais obtêm o pão com o seu trabalho e, assim, alimentam seus filhos e suas filhas. Essa é a lógica de toda a criação e também dever dos pais, segundo nossa legislação. É tarefa dos pais prover tudo aquilo que é necessário para a sobrevivência e o crescimento saudável de seus filhos em todas as dimensões da vida. Por isso pai e mãe são, de certa forma, o pão da vida para os filhos, que necessitam e continuamente alimentam-se deles.

O pão é uma metáfora muito forte, pois nos convida a pensar na situação de milhões de pessoas que passam fome em todo o mundo. Por outro lado, lembramos que a humanidade também tem fome de um outro tipo de pão, que vai mais longe do que o estômago. O pão que toca o coração e que transforma a vida. Sabemos que o pão é indispensável para a saúde do corpo, mas não é a vida em si. Deus é a vida. Sua palavra criou o mundo e sua palavra o mantém. Também nós somos criaturas de Deus e nossa vida é mantida pelo que provém das suas mãos. Quem se descobre sabedor disso nunca pensará que o pão é mais importante que a vida.

Por isso Jesus, no evangelho deste domingo do Dia dos Pais, contrapõe dois tipos de alimento: um que não conduz à vida defi nitiva (o maná do deserto), apesar de comê-lo, os antepassados morreram sem entrar na posse da terra prometida; o outro conduz à vida que dura para sempre. Quem comer deste pão viverá eternamente. É na pessoa de Jesus enquanto pão, na sua carne para a vida do mundo, que se revela o amor de Deus. Jesus tornou-se o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. 1.29). Por isso aceitá-lo em sua humanidade é passar da morte à vida.

Comer do pão da vida é revestir-se da força de Cristo para enfrentar os dilemas da existência. É buscar disposição para seguir em frente, ainda que o caminho pareça difícil e longo. É encontrar coragem e criatividade para trilhar novos caminhos.

O pai que se alimenta do pão da vida ofertado por Jesus, reparte esse pão com seus filhos, promovendo no seu lar um ambiente de amor, respeito e convívio saudável. Ensina seus filhos a lutar, não por fartura de pão, mas por um mundo onde todos tenham acesso ao pão de cada dia. E mais, onde todos tenham o verdadeiro pão que sacia a fome de vida.

Que neste Dia dos Pais sejamos todos exemplos para nossos filhos. Que através da nossa vida de fé, nossos filhos e filhas possam desfrutar do pão da vida. Um feliz e abençoado Dia dos Pais a todos!

4. Imagens para a prédica

“Certa vez, um médico faleceu um pouco antes de completar 90 anos de idade. Com tristeza e dor no coração, seus três filhos o acompanharam até a sepultura. Passada uma semana, encontraram uma série de preciosidades, muito bem guardadas pelo pai, num pequeno armário. Entre outras coisas, havia um pedaço de pão – sim, um pedaço de pão seco e duro. Os filhos olharam aquele pão cheio de rachaduras, duro como pedra. Como é que esse pão se encontrava entre as preciosidades do pai? Ninguém sabia responder. Perguntaram então à velha empregada, que por muitos anos cuidara da casa do pai. Ela deu a resposta. Nos tempos depois da guerra, havia pouca comida. O pai adoecera. Necessitava de alimento que o fortalecesse. Certo dia, um velho amigo o visitou e lhe deu aquele pedaço de pão. O velho médico doente, porém, recusou-se a comê-lo. Mandou que fosse levado para a vizinha, cujo filho também estava doente. Eu já estou velho, disse ele, mas aquela criança ainda está no começo da vida. A vizinha agradeceu, mas logo mandou o pão para um viúvo idoso que encontrara refúgio num cantinho do sótão. Só que o pão também não ficou ali. O idoso viúvo levou o pedaço de pão até sua filha, que morava com duas crianças num porão não longe dali. Essa, porém, viu a possibilidade de prestar um favor ao velho médico doente, como sinal de gratidão por ter tratado de suas crianças sem nunca cobrar nada. O médico ficou profundamente emocionado e disse: ‘Enquanto permanecer vivo entre nós o amor que reparte seu último pedaço de pão, não temo pelo nosso futuro. Este pão saciou a fome de muitas pessoas, sem que ninguém tivesse comido dele um pedacinho sequer. Vamos guardá-lo bem; e quando o desânimo quiser se abater sobre nós, olhemos para ele!’.”
(Autoria desconhecida)

5. Subsídios litúrgicos

Hinos sugeridos: HPD 1, 197; HPD 2, 356, 402, 404, 405, 424, 459.

Acolhida: Filho meu, guarda o mandamento do teu pai e não deixes a instrução da tua mãe (Pv 6.2). Com esse provérbio, saudamos vocês neste culto. Bom dia a todos e todas! Sejam bem-vindos e bem-vindas neste domingo especial, reservado para homenagearmos e lembrarmos nossos pais e tudo que eles significam para nós.

Confissão de pecados: Neste Dia dos Pais, apresentemo-nos perante Deus, nosso Pai maior, com nossas falhas e com nossas fraquezas, mas com o coração aberto para a ação transformadora de Deus.

Oremos: Deus eterno, tu que amas a todos como um pai e uma mãe responsáveis amam a sua família, aceita o que trazemos à tua presença neste Dia dos Pais aquilo que nos angustia. Muitas vezes, como pais, não somos exemplo para nossos filhos. Como filhos, não obedecemos à tua Palavra. Deus compassivo e justo: ouve e aceita nosso pedido de perdão, que clamamos em nome de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Anúncio da graça: Quando somos sinceros e confessamos os nossos pecados, ouvimos a seguinte promessa da palavra de Deus (Sl 103.13): Como um pai se compadece de seu filho, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem. Por isso, como ministro chamado e ordenado (ministra chamada e ordenada) pela igreja de Jesus Cristo, declaro a vocês o perdão de seus pecados, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (+). Amém.

Oração de intercessão: Querido Deus e Pai, agradecemos-te por mais este dia de vida que nos concedes, por esta maravilhosa oportunidade de nos congregarmos em torno da tua Palavra. Agradecemos-te pelos pais, tanto os que vivem conosco quanto os que já partiram. Agradecemos-te por esta comunidade e por cada irmão e irmã presente neste culto.

Prece 1: Eterno e misericordioso Deus, queremos também clamar pelas situações
de guerra, onde pais perdem a vida e filhos ficam órfãos. Clamamos também por todos os pais e mães que choram a perda de seus filhos. Por isso te pedimos:

♫ /: Ouve nossa oração e atende a nossa súplica :/

Prece 2: Pedimos-te por aqueles que sofrem por enfermidades, lembramos (citar nomes). Consola e restaura a saúde de todos, ajude para que encontrem ânimo e sejam perse verantes na oração. Por isso te pedimos:

♫ /: Ouve nossa oração e atende a nossa súplica :/

Prece 3: Intercedemos por todas as pessoas que exercem a função paterna neste mundo. Ilumina-as com sabedoria e discernimento em todos os dias de suas vidas, para que exerçam sua missão paterna com ternura e dedicação pelos filhos e filhas. Por isso te pedimos:

♫ /: Ouve nossa oração e atende a nossa súplica :/

Prece 4: Clamamos, nosso Deus, por este mundo corrompido e desviado do teu amor e da tua fraternidade, que quebra a unidade familiar separando pais e filhos. Rogamos pela tua paz em nossos lares e no mundo. Por isso te pedimos:

♫ /: Ouve nossa oração e atende a nossa súplica :/

Tudo isso e também aquilo mais que está guardado em nosso coração, colocamos sob o teu olhar, orando em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

Bênção: Neste culto fomos animados e animadas a confiar no Deus que está sempre conosco, que nos protege, nos ampara e nos conduz. E para que possamos retornar às nossas rotinas com essa certeza, Deus nos quer agraciar com a sua bênção.
O Senhor esteja à tua frente, para te mostrar o caminho certo.
O Senhor esteja ao teu lado, para te abraçar e te proteger.
O Senhor esteja atrás de ti, para te salvar da falsidade de pessoas más.
O Senhor esteja abaixo de ti, para te amparar quando caíres.
O Senhor esteja dentro de ti, para te consolar quando estiveres triste.
O Senhor esteja ao redor de ti, para te defender quando outros te atacarem.
O Senhor esteja sobre ti, para te abençoar.
Assim te abençoe o bondoso Deus, Pai, Filho e Espírito Santo (+). Amém.

Bibliografia

BLANK, Josef. O evangelho segundo João. Parte 2. Petrópolis: Vozes, 1991.
BROWN, Raymond Edward. A comunidade do discípulo amado. São Paulo: Paulinas, 1983.
BRUCE, F. F. João. Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1990.


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Autor(a): Jorge Batista Dietrich de Oliveira
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 12º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 35 / Versículo Final: 51
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2017 / Volume: 42
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50194

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A fé é um contínuo e persistente olhar para Cristo.
Martim Lutero
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