Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Jesus dá à luz a sua comunidade - João 19.16-30

Autoria P. Me. Alexander Busch Jo 19.16-30 -Sexta-feira da Paixão

30/03/2018

Aos pés da Cruz em que Jesus está pregado e sofrendo encontram-se diferentes personagens: os soldados, os outros dois homens, crucificados, a multidão de curiosos, alguns dos seguidores de Jesus, entre eles a mãe de Jesus, a irmã dela, Maria, mulher de Clopas, Maria Madalena e o discípulo amado, João, quem escreveu este evangelho. Uma pequena comunidade reunida em torno do corpo agonizante de Jesus. A morte se lhe aproxima.
 

As forças físicas ainda lhe permitem dizer algumas palavras, “este é o seu filho . . . esta é a sua mãe”. Nesta hora final pode nos soar até mesmo irônico ouvir de Jesus algo sobre vínculos familiares, “filho, mãe”. A cruz caminha na direção contrária. A vida de Jesus está se apagando. Os laços de comunhão estão sendo rompidos com a morte. Jesus está pendurado no madeiro, frágil, vulnerável, derrotado. Sua dignidade como ser humano lhe foi completamente arrancada. Nu, de longe Jesus observa os soldados romanos dividindo entre si as suas roupas. Nu, um letreiro acima da cabeça lhe serve de coroa real, na qual se lê “Jesus de Nazaré, rei dos Judeus”.
 

Cercado em sua maioria por estranhos, os seguidores que lhe eram mais próximos, não estão presentes ao pé da cruz. Até mesmo Pedro, que havia prometido defender Jesus, mesmo que lhe custasse a vida, não estava presente. A cruz havia dispersado a comunidade de Jesus. Os doze discípulos haviam fugido com medo das autoridades e receio pela própria vida. Um pequeno grupo, porém, teve a ousadia e coragem de permanecer aos pés da cruz. Maria, mãe de Jesus e João, o discípulo amado, fazem parte deste pequeno grupo. Mas eles não têm como ajudar Jesus. Como eu disse anteriormente, a cena aos pés da cruz aponta para a destruição de laços familiares, a ruína dos laços de comunhão.

Com a pouca força que lhe resta, Jesus dirige seu olhar para sua mãe, dizendo “este é o seu filho”. Logo após, Jesus dirige a palavra ao discípulo amado, “esta é sua mãe”. Nós sabemos o que Jesus quer dizer com estas palavras. Maria e João também o sabem. Jesus está pedindo ao seu amigo para cuidar de sua mãe na ausência do filho, no luto, e nos dias que se seguirão. Como mulher, como viúva, como mãe cujo filho mais velho havia morrido, João poderia cuidar de Maria, assim como um filho cuida de sua mãe.


“Este é o seu filho . . . esta é a sua mãe”. Imaginem, porém, que num breve instante Maria não compreende o que Jesus está lhe falando da cruz. Imaginem que, por alguns segundos, Maria ouve as palavras de Jesus e pensa que Jesus está se referindo a si mesmo. “Este é o seu filho”, fala Jesus se referindo a ele mesmo pregado na cruz. E ao dizer “esta é sua mãe” Maria, mesmo que por um curto instante, pense que Jesus está falando sobre ele mesmo. 

Tal engano na comunicação é possível. Quantas vezes você e eu não temos experiências parecidas porque palavras muitas vezes carregam ambiguidades, e podem gerar confusões. Talvez, Maria tenha pensado que Jesus está se referindo a si mesmo como mãe, uma mãe pendurada no madeiro da cruz. E logo depois, tal conclusão desaparece como um vento ligeiro que sabe de onde veio e sabe para onde vai. Mas – imaginem comigo – este cenário que estou descrevendo é possível? Maria, num pequeno momento, entende que Jesus está falando que ele é uma mãe, sofrendo dores como dores de parto, nesta cruz. Não podemos ter certeza se Maria de fato assim compreendeu as palavras de Jesus. Eu apenas estou sugerindo que tal ambiguidade nas palavras de Jesus é possível. É nesta possível ambiguidade, existe uma profunda e preciosa verdade. Jesus, na cruz, é como uma mãe sofrendo dores, dores de parto, para dar à luz uma nova comunidade. Sim, na cruz, Deus está realizando uma nova criação através de Jesus. Na cruz, Deus está gerando uma nova comunidade de pessoas, a igreja de Cristo Jesus. Na cruz, Deus concede sua graça e reconciliação, perdoando os pecados das pessoas que confiam no cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! Que privilégio! Que benção poder ser acolhido na comunidade de Cristo Jesus!


A cruz de Jesus dá à luz à igreja, e neste sentido, Jesus é como uma mãe que gera vida, que gera comunidade. Este é o poder de Deus, onde existe morte Deus tem o poder para produzir vida. Onde existe escuridão, a luz de Deus ainda brilha. Nas mãos de Deus, a cruz, instrumento de morte do poder romano, é instrumento de vida que cria comunhão, novos laços de família e comunidade.
E assim como Jesus diz, “este é o seu filho . . . esta é a sua mãe”, na expectativa de que João acolha Maria como um filho acolhe e cuida de sua mãe, Jesus tem esta mesma expectativa entre nós. Aos pés da cruz, ao confessar e confiar em Jesus como Cordeiro de Deus, nós estamos, cada pessoa individualmente, assumindo uma responsabilidade de cuidar um do outro, assim como um filho cuida de uma mãe. Jesus estabelece novos vínculos familiares que estão além dos laços de sangue. Ou melhor dizendo, é o sangue do Cordeiro de Deus que nos une uns com os outros, e agora pela graça de Deus somos irmãos e irmãs, membros de uma mesma família. Que responsabilidade! Que benção, em nome de Jesus, poder cuidar um do outro!


Jesus, ao olhar para sua mãe e seu discípulo amado enxergou novas relações familiares. Será que nós também temos o mesmo olhar de Jesus? Será que muitas vezes não nos esquecemos de que fazemos parte da mesma família, e que ao prejudicar nosso irmão ou irmã estamos machucando a nossa própria família de fé? Ou talvez nós sejamos negligentes, indiferentes na responsabilidade de cuidar do irmão, de zelar pela irmã? Bons e maus exemplos são abundantes, tanto no testemunho bíblico como no testemunho das igrejas de hoje. A cruz de Jesus é o berço da igreja cristã. Olhe em sua volta. Este é teu filho. Esta é tua mãe. Jesus nos acolhe na sua comunhão, e unidos pela fé no Cordeiro de Deus, temos o privilégio e responsabilidade de cuidar um do outro. Amém. 

  


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 19 / Versículo Inicial: 16 / Versículo Final: 30
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 60302

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