Baseado no livreto de Bill Crowder, intitulado “Janelas do Natal”, publicado pela Publicações RBC.
1 – Introdução
A vida gira em torno de perspectivas e as nossas próprias percepções podem ser esclarecidas e enriquecidas, quando olhamos para os seus acontecimentos, através de inúmeras “janelas”. Quanto mais familiar algo nos pareça, mais valiosas estas “janelas” se tornam. Um novo olhar, um ângulo diferente, pode revolucionar a nossa apreciação da verdade, que pode correr o risco de tornar-se antiquada e gasta.
Na história do Natal, esse novo olhar pode ser encontrado na conhecida passagem bíblica de Lucas 1 e 2 . Nestes dois capítulos descobrimos seis perspectivas diferentes dos eventos do nascimento de Jesus Cristo. Podemos compartilhar estas perspectivas a partir das percepções daqueles que lá se encontravam e que nos permitem ver e sentir o que eles viram e sentiram através das janelas imaginárias e também aprender com as suas reações a estes maravilhosos e poderosos acontecimentos.
Eis as janelas do Natal:
a) A Janela da Exaltação - Os anjos
b) A Janela da Adoração - Os Pastores
c) A Janela do Milagre - Maria
d) A Janela da Obediência - José
e) A Janela do Contentamento - Simeão
f) A Janela da Testemunha - Ana
2 – A Janela da Exaltação - Os Anjos
Quem são os anjos? A própria palavra anjo vem do termo grego angelos, que é definido como “o mensageiro, representante, aquele que é enviado, um mensageiro de Deus”. É nessa função, exatamente, que muitas vezes eles são vistos atuando nas páginas da Bíblia.
Como os anjos fazem parte da história do Natal? Através dos anúncios.
• O anúncio nº 1 foi feito pelo anjo Gabriel ao idoso sacerdote Zacarias. A ele foi anunciado o nascimento de um filho, a saber, João Batista. O anúncio se realizou, e João Batista chegou para “preparar o caminho do Senhor”.
• O anúncio nº 2 foi feito seis meses depois. O mesmo anjo Gabriel veio à aldeia de Nazaré trazendo uma mensagem da parte de Deus para uma jovem chamada Maria.
• O anúncio nº 3 foi feito pelo mesmo anjo ao futuro marido de Maria, José.
• O anúncio nº 4 está descrito em Lc 2.9-14 e descreve a aparição de uma multidão de anjos da milícia celestial (v.13) aos pastores de Belém.
Por que os anjos respondem com exaltação? Levar mensagens não é a única função dos anjos. Na verdade, a principal função deles é louvar e adorar no céu. Na sua aparição aos pastores de Belém os anjos anunciam jubilando: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem” Lc 2.13-14. A multidão celestial não consegue mais permanecer silenciosa diante do anúncio da chegada do Filho de Deus, em forma humana. Eles levantam suas vozes em exaltação a Deus por sua glória, por seu Filho e pelo plano de resgatar o perdido, o cansado, e uma descendência confusa de homens e mulheres que, como ovelhas ariscas, vivem longe de seu pastor.
A janela da Exaltação aberta pelos anjos celestiais nos convida a nos maravilharmos com a salvação.
3 – A Janela da Adoração - Os Pastores
Quem são os pastores? Homens simples de vidas simples. Um único versículo descreve com detalhes a vida e a atividade dos pastores: “Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite” Lc 2.8.
• A região adjacente a Belém é associada ao pastoreio de ovelhas, desde os tempos de Davi e seu pai Jessé.
• A noite era dividida em 4 vigílias, nas quais os pastores se revezavam para “vigiar” o rebanho de predadores e assaltantes.
• Pastores eram considerados imundos para as cerimônias, pois lidavam com suor, fezes, doenças, vermes, sangue, etc.
• Por esta razão eram espiritualmente banidos. Parece tão triste que justamente aqueles que eram responsáveis por criar as ovelhas destinadas aos sacrifícios que eram realizados no templo de Jerusalém, eram os excluídos do templo.
“E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor: O anjo, porém, lhes disse: Não temais” Lc 2.9).
De que maneira você iniciaria uma reflexão sobre algo assim? É grandioso demais para ser compreendido. A graça de Deus (que provocou a Exaltação dos anjos) dignou-se a revelar-se primeiramente aos “imundos” pastores. Do ponto de vista humano é espantoso que Deus se identifique com pobres pastores, mas do ponto de vista divino esta relação é clara. Deus descreve a si mesmo como um pastor que procura as suas ovelhas para cuidar delas (Ez 34.11).
Como os pastores fazem parte da Adoração na história do Natal? Através da humilde adoração em um lugar inesperado (estábulo).
• Alguém escolheria um estábulo como primeira opção para adorar a Deus? Onde você gosta de adorar? Uma Catedral, uma simples capela?
• A Exaltação dos anjos conduziu os pastores ao lugar onde Jesus estava para adorará-lo (Lc 2.15-16)
• Após a adoração dos pastores eles “divulgaram o que lhes tinha sido dito a respeito deste menino. Todos os que ouviram se admiraram das coisas referidas pelos pastores” (Lc 2.17-18). Os pastores não foram apenas os primeiros a ouvir sobre o nascimento de Jesus, mas foram também os primeiros a contar a respeito.
• Os pastores sentiram seus corações explodir de admiração pelo que acabaram de vivenciar, e eles compartilharam aquele milagre com outros, contando detalhes da fantástica história – os anjos, a glória e o recém-nascido. Isto é verdadeira adoração!
A janela da Adoração aberta pelos pastores nos convida a nos alegrar com a boa nova, repartindo-a.
4 – A Janela do Milagre - Maria
Que é milagre? O termo milagre deve ser reservado para aquilo que vai além da explanação humana. Milagre fala da onipotência, da onipresença e da onisciência de Deus. Milagre fala do poder criativo de Deus. Milagre tem a ver com a manifestação graciosa de Deus. Posso entender melhor o significado de milagre se fizer esta pergunta: “Por que motivo iria Deus me amar?”. Resposta: Milagre!
Por que Maria? Disse-lhe o anjo: “Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus” Lc 1.30. Isto é Milagre! E este milagre se manifestou de muitas formas:
• O milagre do Privilégio – Maria foi simplesmente escolhida pela graça de Deus. Não precisa merecer!
• O milagre da Gravidez – Quem poderia compreender o processo de gravidez de Maria?
• O milagre do Nascimento – É surpreendente a seqüência de eventos que levaram o casal José e Maria até Belém e de como ali se deu o nascimento de Jesus.
• Natal é um milagre de Deus!
Algo a imitar é a forma serena como Maria se submeteu à experiência do milagre: “Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração” Lc 2.19.
A janela do Milagre aberta por Maria nos convida a contemplarmos a maravilhosa graça de Deus que nos escolheu para a salvação.
5 – A Janela da Obediência - José
O drama de José – Por tradição acredita-se que José era significativamente mais velho do que Maria. Talvez José tivesse esperado um longo tempo para se casar e agora ansiava pela consumação do seu casamento com a jovem Maria. Um fato novo – e extraordinário – interrompera a ordem dos planos de José. O anúncio do anjo a Maria de que ela daria a luz um filho por um método de concepção não natural era algo difícil de explicar para a família e amigos. Certamente tal história pareceria absurda e fantasiosa e José ficaria marcado como um tolo por acreditar em tal bobagem contada por Maria. José se deparou com uma encruzilhada de escolhas – uma escolha entre a auto proteção e a obediência. A humilde obediência de José era humilhante!
A obediência de José – Não foi um ato isolado, mas uma constante em José:
• Obediência às instruções angelicais – Gabriel também se revelou a José orientando-o a não rejeitar Maria.
• Obediência ao governo humano – O cenário do nascimento de Jesus se dá sob o peso político do domínio romano. Foi em meio a uma obrigação civil que José viaja com Maria, grávida de vários meses, para a sua cidade natal (Belém). A obrigação veio de um decreto imperial (Lc 2.1). Os eventos envolvendo o nascimento de Jesus servem como impressionante lembrança de que o governo humano não opera de maneira independente ou no vácuo (Pv 21.1).
• Obediência à Palavra de Deus – Era muito importante para um judeu fiel honrar as exigências da lei quanto ao nascimento de uma criança, especialmente a de um varão primogênito. José não “escondeu” o nascimento de Jesus, não o deixou na marginalidade. Deu ao menino o nome indicado pelo anjo, apresentou-o ao sacerdote no templo conforme a lei de Moisés, ofereceu um sacrifício ao Senhor pelo nascimento de seu primogênito (um par de rolas ou dois pombinhos) – Lc 2.21-24.
• Obediência a um aviso celestial – Após o nascimento de Jesus o rei Herodes pretendeu matá-lo. Alertado pelo anjo do Senhor José retirou-se para o Egito, conforme a explicação angelical, e lá permaneceu até ser autorizado o regresso a Nazaré.
José nos dá uma grande lição de obediência. José escolheu viver em uma obediência humilde (e humilhante) em um mundo que quer sempre desencorajar tais compromissos de longo prazo em favor da gratificação instantânea.
A janela da Obediência aberta por José nos ensina a confiar em Deus, apesar das possíveis circunstâncias desfavoráveis e a viver na esperança a longo prazo.
6 – A Janela do Contentamento - Simeão
Quem era Simeão – “Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele” Lc 2.25. Simeão faz-nos lembrar os raros anciãos da igreja que viveram longos anos de vidas de serviços espirituais e de fidelidade a Deus, sem murmurar e sem perder o encantamento da fé da esperança salvífica. Que lástima vermos hoje tantos “velhos azedos” que trocaram a fé e a esperança pelo resmungo e pela ociosidade frívola. Que falta nos faz “os Simeãos” de Deus!
Sobre Simeão repousava uma promessa: “Revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor” Lc 2.26. Foi tal esperança que o levou ao templo no dia em que o menino Jesus foi apresentado ao sacerdote.
O coração satisfeito – Movido pelo Espírito Santo Simeão foi ao templo e testemunhou a apresentação do menino Jesus. Esta é uma genuína cena natalina, ainda que tenha ocorrido alguns dias depois do nascimento de Jesus! Simeão reconheceu o Cristo de Deus na forma de um bebê (só os justos e tementes podem reconhecer o salvador – cf. Mt 5.8). Tomou-o em seus braços e louvou a Deus, dizendo: “Agora Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação” Lc 2.29-30. Absoluta satisfação e contentamento é a característica de quem “já viu o salvador”.
Multidão de insatisfeitos – Em contrapartida, vivemos num mundo povoado de pessoas insatisfeitas, que perseguem a felicidade a todo custo, custe o que custar. Mal sabem que o verdadeiro contentamento está no abraço, por fé, ao “Cristo-dádiva” presenteado por Deus ao mundo (no caso de Simeão este abraço foi literal). É grande o número de pessoas frustradas que vagueiam pela terra, nunca prontas para um encontro derradeiro com Deus.
A janela do Contentamento aberta por Simeão nos ensina a dizer: “Basta! Eu não preciso de nada mais! Eu vi o Cristo! Agora, oh Deus, deixe-me partir desta vida em paz!”.
7 – A Janela da Testemunha - Ana
Quem era Ana? – “Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Asser, avançada em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara, e que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações” Lc 2.36-37. Ana, a exemplo de Simeão, é mais um modelo a ser seguido no que diz respeito à “arte de envelhecer”. Ana entra para a história como sendo “A Mulher que se Tornou a Primeira Missionária Cristã”.
Ana teria - segundo algumas opiniões - muitas razões para ser uma pessoa amargurada com a vida e com Deus. Numa época em que a vida para as mulheres, sobretudo as viúvas, era bem difícil, Ana chegou à velhice freqüentando a casa de Deus (diariamente) com uma excelente saúde espiritual. Viúva desde o sétimo ano de casamento; aparentemente deixada sem filhos; passou a ampla maioria dos anos de sua vida nesta condição social. Agora, aos 84 anos, deu provas de que é possível viver e superar uma vida aparentemente sem alegria e significado na sua cultura. Não alimentou rancor nem amargura, mas cultivou as disciplinas da oração e do jejum. Fez jus ao seu nome: Ana no Novo Testamento equivale ao nome Hanna no Antigo Testamento, uma palavra que significa “graça” ou “favor”.
A ocasião do Testemunho – “E chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” Lc 2.38. Preparada por décadas de devoção espiritual, Ana estava exatamente no lugar certo na hora certa. Ana não estava fazendo nada extraordinário “naquela hora”. Era apenas uma continuidade do que ela estava acostumada a fazer há, pelo menos, sessenta anos. Ana não buscou nenhuma ocasião extraordinária ou motivo especial para dar seu testemunho sobre o Cristo encarnado. Ela não precisava de uma ocasião. Sua fidelidade criou a ocasião e ela foi recompensada pela honra de ser a primeira mulher a testemunhar acerca do nascimento de Jesus. Oh, lamentável que tantos, por sofrer muito menos, gemem: “Eu estou cansado. A vida não foi gentil para mim.Eu faço isto há anos. Eu acho que vou parar por aqui e descansar. Deixarei para outros o que eu vinha fazendo até aqui, afinal, já fiz a minha parte”.
A Mensagem de Testemunho – Ana ganhou um novo motivo para continuar vivendo alegremente na presença do Senhor: “e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Israel” Lc 2.38. A mensagem de Ana foi de esperança, alegria e liberdade. Após décadas aguardando a vinda do Rei Redentor, ela agora vivia em um mundo onde este Cristo havia finalmente chegado. Então ela deu graças a Deus e saiu para contar a qualquer um que quisesse ouvir, que a liberdade, o perdão e a redenção, agora estavam disponíveis, pois Cristo viera. Esta é a mensagem que os missionários, desde então, divulgam aos cantos mais remotos da terra.
A janela da Testemunha aberta por Ana nos convida a buscarmos uma íntima comunhão espiritual com Deus que nos catapulte para a missão.
8 – A nossa Janela do Natal
Homens, mulheres e anjos que testemunharam os eventos da natividade de Cristo nos deixam como herança reações que, de forma alguma, são reações temporárias, casuais, mas permanentes. O grande desafio que estas personagens nos fazem é que todas as celebrações de Natal deveriam incluir traços ou elos de todas as reações exibidas por eles – exaltação, milagre, adoração, obediência, contentamento e testemunho. Se nossas reações forem iguais a estas, evitaremos o natal glamoroso do mercado que torna invisível a criança de Belém e faremos lembrar a beleza de Cristo que é o verdadeiro Natal.
P. Edson R. Scherdien