Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Domingo de Ramos!

Por que Jesus foi para Jerusalém?

14/04/2019

 

Lucas 19.28-40

Prezada Comunidade e estimados rádio- ouvintes da RádioWeb Luteranos UAI:

Jesus prosseguia a sua viagem para Jerusalém. E nesse domingo de Ramos celebramos a entrada de Jesus em Jerusalém. Mas por que Jesus foi para lá? O que ele queria fazer em Jerusalém? 

A cidade de Jerusalém tinha uns 40 mil habitantes no tempo de Jesus. Mas nos dias festivos – como a Páscoa – a cidade atraía mais de 200 mil peregrinos.

Nesses dias festivos vinha gente de todas as partes. Os romeiros que possuíam melhores condições financeiras se hospedavam na cidade, mas os peregrinos mais pobres acomodavam-se nas aldeias das imediações, como Betfagé(casa do figos) e Betânia(casa do pobre), que ficavam a 3 e 6 km de Jerusalém. Esse foi o caso de Jesus e seus discípulos, que estavam hospedados em Betânia, na casa de Marta, Maria e Lázaro. Foi dali que Jesus enviou dois discípulos para buscar um jumentinho, com a recomendação de que se alguém perguntasse por quê estavam levando o jumentinho, os discípulos deveriam simplesmente dizer: Porque o Mestre (Senhor) precisa dele. Naquele tempo oficiais podiam requisitar animais para seu serviço.

Assim, Jesus entra em Jerusalém, montado no jumentinho, acompanhado de um grupo de camponeses. Provavelmente eram peregrinos pobres que também se haviam acomodado nas aldeias vizinhas. 

O pastor metodista Luiz Carlos Ramos escreve dizendo que do outro lado da cidade de Jerusalém, vinha outro cortejo. Tratava-se de Pôncio Pilatos, o governador romano, que também subia para Jerusalém para supervisionar e garantir a ordem durante as festividades pascais. De um lado da cidade, um desfile militar, conduzido por Pôncio Pilatos e do outro lado um grupo de camponeses, seguindo a Jesus e gente gritando: “Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas”.

Essa frase tinha implicação política. Se Pilatos ouvir que Jesus está sendo aclamado como rei, certamente vai mandar o exército reprimir, prender e dispersar os seguidores de Jesus. Por isso um grupo de fariseus, ao que tudo indica simpatizantes de Jesus, pede a Jesus que ele mandasse as pessoas ficarem quietas. Mas Jesus não se intimida e diz: Se eles se calarem, as pedras clamarão (v.40).

Mas o que está por trás dessa entrada de Jesus em Jerusalém?

No ano de 2012, o escritor judeu chamado Amoz Oz publicou um livro chamado Judas, onde ele sustenta, que foi o discípulo Judas que articulou essa entrada de Jesus em Jerusalém. Judas armou um plano para fazer com que Jesus se transformasse no grande líder tanto entre os esfarrapados das aldeias da Galileia como em Jerusalém, entre os intelectuais e poderosos. O plano do discípulo Judas era que Jesus entrasse como o rei humilde, anunciado pelos profetas Zacarias e Isaías e depois tomasse o poder como Messias, o enviado de Deus.

De acordo com a tradição que se preservou no Antigo Testamento, a Festa da Páscoa lembrava o principal evento da história de Israel – a libertação e saída do Egito (Êx 12). O motivo principal da festa estava em rememorar (ou reviver) a libertação da escravidão egípcia e do domínio estrangeiro. Ao longo da história, essa Festa da Páscoa despertou nos judeus uma esperança nacionalista: a vinda de um Messias para libertar Israel do domínio estrangeiro. Judas monta um plano para transformar Jesus nesse líder político e militar tão esperado, que era o Messias.

E o plano começa com a entrada de Jesus em Jerusalém. Para isso, Judas pede que Jesus tornasse visíveis as palavras do profeta Zacarias 9.9:
Eis que o seu rei vem até você, justo, salvador e humilde, montado em jumento. Esse rei humilde vai destruir os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém. Os arcos de guerra serão destruídos. Ele anunciará paz as nações, o seu domínio se estenderá de mar a mar e desde o rio Eufrates. 

Também o profeta Isaías escreveu assim: Ele julgará entre as nações e corrigirá muitos povos. Estes transformarão as suas espadas em lâminas de arado e as suas lanças em foices. Nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra (Is 2.4)

Judas pensava que Jesus – para tomar o poder – não podia ser somente com 12 pessoas. Era preciso aumentar muito o número de seguidores e - para isso - ele deveria chegar ao coração do poder, que estava em Jerusalém. Lá, diante de uma multidão de pessoas Jesus deveria realizar um grande milagre – algo espetacular - e assim revelar-se como enviado de Deus. E o grande milagre que impressionaria a qualquer pessoa – era ver a Jesus escapando da morte.

Dessa forma, Judas organizou as coisas para que seu plano desse certo: Jesus deveria entrar em Jerusalém conforme os textos proféticos, depois deveria ser preso, condenado e crucificado. O grande milagre seria que – depois de crucificado – Jesus descesse milagrosamente da cruz diante dos olhos de todos os presentes.

E as coisas vã acontecendo conforme o plano de Judas. Jesus entra em Jerusalém e é aclamado como “rei”. Em seguida, Jesus vai até o pátio do Templo, onde muitas pessoas pararam para ouvi-lo. Somente as autoridades religiosas não gostavam de Jesus e ficaram tão irritados que começaram a tramar a morte de Jesus. O escritor diz que Jesus percebe que a situação está ficando perigosa e, por isso, pede a Deus em oração: “Pai, se queres, afasta de mim esse cálice de sofrimento”(Lc 22.42), mas depois o próprio discípulo Judas teria tranquilizado a Jesus dizendo que ele ficasse tranquilo, que tudo estava dando certo, que seu plano estava funcionando do jeito que ele havia planejado. Assim Jesus foi preso, condenado e conduzido até o monte Calvário para ser crucificado. Estava chegando o grande momento em que Jesus crucificado deveria descer da cruz. Mas isso não aconteceu.

O autor então diz que Judas se suicidou depois da morte de Jesus não de arrependimento, mas porque ao vê-lo morrer como mais um crucificado, gritando “Deus meu, Deus meu, por quê me abandonaste” (Mc 15.34), nesse momento Judas se deu conta de que seu plano de vitória havia falhado. Para o autor do livro, Judas suicida porque sentia-se mais um fracassado do que um traidor.

É claro que isso tem muito de imaginação e muita fantasia do autor do livro. Os Evangelhos realmente tratam de Judas como um traidor, que vendeu a Jesus como um escravo. Trinta moedas de prata era o preço de um escravo no tempo de Jesus.

Mas, essa história contada no livro de Amos Oz nos faz pensar sobre a manipulação que se faz com Jesus ainda hoje. Nos quer alertar sobre o abuso que se faz com Jesus – que é usado de maneira tão leviana, que Jesus é tratado como um boneco para legitimar os planos religiosos e políticos das pessoas que querem chegar ao poder. Tal qual na história do livro de Amoz Oz - era Judas que queria chegar ao poder - usando para isso a Jesus. 

Portanto, esse domingo de ramos nos quer chamar a atenção sobre o abuso que se faz de Jesus. Assim como Judas, ainda hoje vemos o nome de Jesus sendo usado para fins políticos.

Mas, Jesus não é bobo, ele não se deixa manipular. Jesus não cai na conversa dos que usam o nome de Jesus somente para se afirmar no poder. O que Jesus quer ver dos governantes são atitudes concretas que promovam a tolerância, a justiça e a paz. Com Jesus não tem bajulação. Falar o nome de Jesus e depois alimentar princípios nacionalistas, sexistas, racistas, estimulando ainda mais a violência - isso é uma total contradição.

Como pessoas cristãs nós celebramos nesse domingo de ramos a Jesus como o Rei bendito, como o príncipe da paz que propõem uma sociedade onde todos possam viver com suas necessidades atendidas e seus direitos respeitados. Para melhorar esse mundo – Jesus aposta no bom exemplo de seus seguidores, Jesus aposta em cada um – cada uma - de nós para promover os valores cristãos da bondade, da misericórdia, do perdão, da justiça, da paz, da harmonia, da solidariedade. Quem fala o nome de Jesus deve comprometer-se com esses princípios em sua vida e em sua família. Governos vem e vão embora e até hoje nenhum programa de governo superou os ensinamentos de Jesus. São esses ensinamentos de Jesus que podem transformar o mundo. Por isso, é somente diante de Jesus que devemos estender nossos mantos de gratidão, acenar as palmas do nosso louvor. Ninguém mais merece nossa total confiança. Mas, o que Jesus quer mesmo é que cada pessoa viva a vontade de Deus. E quando ouvirmos pessoas usando muito o nome de Jesus, tenhamos cuidado, pois Jesus não quer somente o nosso louvor, mas ele certamente ainda nos dirá:
- Depois desse momento de louvor, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa te basta. Agora que conheces a vontade de Deus, vai e pratica essa vontade de Deus.
Amém.
 

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