João 12.12-16
Prezada Comunidade
O Domingo de Ramos abre, por assim dizer, a Semana da Páscoa. E com a Semana da Páscoa acompanhamos o sofrimento de Jesus. Em todas as igrejas cristãs de todo o mundo, a partir desse domingo acontecem celebrações que culminam na Páscoa. No centro delas estará o que Deus fez por meio de Jesus para resgatar a humanidade. Mais do que em outra época do ano, o que se destaca nos cultos dessa semana é a celebração da Santa Ceia como expressão da presença do Deus Triúno no meio de seu povo.
Aqui em Belo Horizonte, as duas comunidades aqui do bairro da Serra (a Igreja Católica São João Evangelista e a nossa igreja luterana) temos previsto as seguintes atividades:
- quarta feira – dia 28 – Apresentação do Coral da UFMG Ars Nova na Igreja Católica às 20h.
- quinta-feira – dia 29 – Culto com Lava-pés na Igreja Católica às 19h
- Sexta-feira santa – dia 30 – Procissão pelo bairro e depois culto na igreja luterana às 10h da manhã
- sábado – dia 31 – Concerto de Páscoa com o organista Louis Hollerbach às 16h.
- sábado – dia 31 – Acampa-dentro do Culto Infantil na Igreja da Paz (as crianças se preparam para a participação no culto de Páscoa)
- domingo – dia 01 – Culto Ecumênico de Páscoa as 6h e em seguida o Café de Páscoa. Para as pessoas que não puderem vir tão cedo, haverá culto também às 10h da manhã.
Mas voltando ao texto bíblico ouvimos que Jesus entrou em Jerusalém cinco dias antes da Páscoa. Páscoa era a primeira das três festas principais no calendário litúrgico judaico e ela durava uma semana. A festa iniciava com o sacrifício do cordeiro pascal e a partir do segundo dia, ela também era chamada de festa dos pães ázimos (asmos) e estendia-se por sete dias. Durante esses dias, era “alta temporada” em Jerusalém. A cidade, que tinha uma população fixa estimada entre 35.000 e 50.000 habitantes, recebia durante a festa em torno de 180.000 pessoas ou mais.
De acordo com a tradição que se preservou no Antigo Testamento, essa festa remonta ao principal evento da história primitiva de Israel – a libertação e saída do Egito (Êx 12). O motivo principal da festa estava em rememorar (ou reviver) da libertação da escravidão egípcia e do domínio estrangeiro. Ao longo da história, essa Festa da Páscoa despertou nos judeus uma esperança nacionalista: a vinda de um Messias para libertar Israel do domínio estrangeiro.
Portanto, o povo que sai ao encontro de Jesus deposita nele toda a sua esperança messiânica, o que inclui a superação do poder estrangeiro. E o povo pensava que Jesus seria um líder militar. Na antiguidade, de um modo geral, ramos de palmeiras simbolizavam a vitória e eram usados receber os vitoriosos de guerra. A expressão “(ir) a seu encontro” – na língua grega hypantesis (v.13) – reforça a ideia da recepção do rei. De fato, a multidão vai ao encontro de Jesus para recebê-lo como messias. “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é Rei de Israel” (v. 13b)
Jesus responde à expectativa messiânica do povo também com um gesto simbólico: monta num jumentinho. Nisso se cumprem as Escrituras (Zc 9.9).
Jesus aceita a aclamação do povo. Ele entra em Jerusalém de fato, aceitando a aclamação de que ele é o “Rei de Israel”. Mas, ao mesmo tempo, Jesus frustra as expectativas do povo, porque ele não vem com a espada na mão, não é déspota arbitrário que deve ser temido, mas é o príncipe da paz (veja Is 2.2-4; 9.1ss, especialmente o v. 6; 11.1ss; 65.17ss; Jr 23.5-6). O governo de Jesus não é uma intervenção militar; por isso sua forma de governar seu povo em nada é semelhante aos regimes dos poderosos deste mundo. Jesus não vem para tomar o poder político ou militar.
O fato de Jesus ter reagido “positivamente” à aclamação das pessoas que saíam a seu encontro montado num jumentinho (Jo 12.14) confirma que ele é um rei que os ouvidos abertos para o clamor do povo. No entanto, Jesus também frustrou as expectativas do povo, por que ele é um rei nacionalista, militar. É perigosa a frase isolada que diz: Os seres humanos podem nos decepcionar, Jesus nunca. Dependendo das nossas “esperanças” Jesus não só só pode, mas precisa nos decepcionar ou desiludir, para que não vivamos nem morramos no engano (veja também Mc 10.35ss, especialmente os v. 38-40).
Jesus propõem uma outra coisa: um movimento popular, uma mobilização geral de todas as pessoas em favor de atitudes como a misericórdia, a compaixão, o amor, o perdão, a gratidão, a não condenação de quem é diferente. O povo que Jesus quer formar não tem princípios nacionalistas, sexistas ou até racistas. Jesus não apoia esse tipo de propostas. Jesus não quer um governo militar!
Jesus enfatiza que as transformações na vida devem começar com novas atitudes, onde o bem-estar de todas as pessoas – e não somente o meu próprio – deve estar acima de tudo. Jesus propõem uma sociedade onde todos possam viver com suas necessidades atendidas e seus direitos respeitados. É dessa maneira que começa o reino de Deus entre nós. Para melhorar esse mundo – Jesus aposta no bom exemplo de seus seguidores, Jesus aposta em cada um de nós.
Também hoje queremos e precisamos de um “futuro melhor”, novo. À medida que almejamos isso, constatamos que o “novo porvir” sempre escapa de nossas mãos por uma série de razões. Quantas esperanças depositadas nas capacidades humanas, próprias e alheias, frustraram na época de Jesus e frustram hoje, também no interior das comunidades cristãs. Sai governo entra governo, termina uma legislatura começa outra, sai uma liderança entra outra, e o novo porvir tarda. Surge a pergunta: O que nos resta?
Talvez o que nos resta é a lição que Jesus quis ensinar no primeiro domingo de ramos e até hoje não aprendemos. Não são os outros que devem trabalhar para que haja mais justiça, mais liberdade e mais segurança nesse mundo. Não são os outros. A responsabilidade por um mundo melhor é de cada um de nós. Se cada pessoa cristã colocar a bondade, a misericórdia, o perdão, a justiça, a paz, a harmonia, a solidariedade como princípios de sua própria vida, então poderemos transformar esse mundo. Por isso, Jesus nos diz: Pouco é necessário ou mesmo uma só coisa te basta. Agora que conheces a vontade de Deus, vai e pratica essa vontade de Deus.
Mas essa semana da paixão vai nos lembrar também que no tempo de Jesus – mesmo sem internet, sem facebook, sem whatsapp ou fake News – as pessoas mudaram de entusiasmo muito rapidamente. Em menos de uma semana a aprovação – a alegria, o Hosana - se transformou em gritos de condenação. Os gritos de Hosana (Salva-nos!) se transformaram em gritos de Crucifica-o!
Como é possível que o ser humano se transforme tão rapidamente para o mal? Como é possível que os valores de Jesus sejam tão facilmente esquecidos por nós? Como é possível que confiemos tão rapidamente em qualquer desconhecido que nos envia mensagens agressivas pelas mídias sociais, e de um momento ao outro também fazemos coro com o Crucifica-o? O que aconteceu? Dos mesmos corações de onde nasceu a acolhida calorosa, de um momento ao outro vem também a rejeição mais violenta?
Que essa semana santa seja para nós um tempo de meditação, de avaliação de nossas atitudes e pensamentos e de reaproximação com Deus. Amém.