Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Dia da Reforma - Efésios 2.8

Prédica

31/10/1970

DIA DA REFORMA

Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus. - (Efésios 2.8)

Tudo o que aconteceu na vida e obra de Lutero, antes e depois daquele 31 de outubro, está ligado a uma única pergunta: 

Como é que Deus salva o homem? 

As poucas palavras da Epistola aos Efésios dão resposta, curta e completa: pela graça sois salvos... 

Quer dizer: Deus nos salva sem cooperação humana, sem mediação eclesiástica ou sacerdotal. Nenhum homem e nenhuma Igreja podem realizar a salvação — nem tampouco intrometer-se nela. Isso não vem de vós! 

Se existe uma possibilidade de salvação, essa possibilidade pertence a Deus, é dom de Deus. E a salvação pela graça, assim como é entendida por todo o Novo Testamento, representa uma dádiva, um presente sem condições. Se algum homem pudesse preencher as condições salvação, se alguma Igreja pudesse preparar a salvação — o todo não seria mais um presente. Seria uma negociata. 

Mas quando se trata de salvação, justamente não existe nem pode existir cooperação entre o homem e seu Deus. Por que, afinal? 

Porque Deus tem misericórdia de alguém quando e onde ele quiser — visto que é o Senhor soberano e livre. Porque Deus não depende da colaboração de sua criatura — do contrário não seria o Criador, seria um ídolo. 

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No entanto — seria bom que não nos enganássemos a nós mesmos. Sejamos honestos para reconhecer que a mensagem da salvação pela graça representa um duro golpe contra todos nós. O fato é que a salvação só pela graça contraria profundamente a natureza humana. Cada um de nós quer ser dono de seu destino. Cada um de nós quer construir a sua própria felicidade. Nós queremos escolher o que comemos, vestimos, nós queremos escolher a profissão, o cônjuge, as amizades. Isso não está errado. É justo que cada um use sua liberdade de escolha, no campo das responsabilidades humanas. 

Agora — quando se trata de nossa vida ou de nossa morte, deixamos de ser donos de nós mesmos. Quem decide a respeito de nossa salvação é só Deus.
A graça é, portanto, a realidade mais radical, exclusiva e total que existe. E isso nos deixa chocados, irritados. Gostaríamos de continuar praticando ou não praticando uma religião, gostaríamos de acreditar ou deixar de acreditar (de acordo com as conveniências), gostaríamos de cultivar nossa espiritualidade (de acordo com nossas necessidades). E, de repente, descobrimos que a salvação de Deus nada tem a ver com tudo isso. De repente o Evangelho nos fala da salvação como um presente imerecido. 

E então fica claro que ninguém mais pode exibir orgulho espiritual. Ninguém mais pode exigir alguma coisa de seu Deus. Ninguém mais pode considerar--se superior em relação aos outros. 

Nosso amor, nossa conversão, nossa santificação, ate mesmo nossa fé — tudo isso, de repente, aparece como fruto da graça, como resultado da obra salvadora de Deus. 

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Isso é que nos revolta e escandaliza, no Evangelho da Salvação. Isso é o que nos deixa inconformados: que nem mesmo nosso amor, nem mesmo nossa fé sejam realização nossa, mérito nosso! 

Pela graça sois salvos — isso significa o fim de nossa liberdade, o fim de nossa garantia. E nós sabemos que coisa apavorante podem ser as palavras: sem garantia; risco total! 

Pois é: e para a salvação de nossa vida não existe seguro de vida! 

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Toda a Reforma empreendida por Lutar° nada mais quis do que deixar bem claro essa radicalidade do Evangelho. Por isso, foi e continua sendo tão contestada a promessa e a exigência do Evangelho. E não são poucos os que saem à procura de outras possibilidades mais seguras: Dizem assim: 

1) Só quem alcançou a vitória completa sobre o pecado, tem a graça. 

2) Só quando o Espírito habita, em nós, através do novo nascimento, temos a graça. 

3) Só quando nos purificamos através de sucessivas encarnações, praticando a caridade, é que alcançamos a salvação. 

4) Só quem guarda o sábado... 

5) Só quem aceita uma série de declarações infalíveis... --- e assim por diante. 

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Por que todo esse desvio? A decisão sobre salvação transferida de Deus para o esforço humano. A graça torna-se dependente do comportamento humano. Com isso, acaba-se a insegurança e o medo? Acabou??? 

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Essa a fraqueza da Igreja Luterana. Nós não queremos á ditadura espiritual sobre os homens. Porque a graça de Deus nos basta. Mas o Evangelho também não é imposição — é convite! Nossa única convicção é a confiança que depositamos no poder de Deus. (Exemplo de Lutero: o mendigo herdeiro da fortuna). 

(Juiz de Fora - Igreja Central - 31-10-70)

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Dia da Reforma
Área: História / Nível: 500 Anos Jubileu
Natureza do Domingo: Dia da Reforma

Testamento: Novo / Livro: Efésios / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 8
Título da publicação: Esperança - Centro Ecumênico de Informações / Editora: Tempo e Presença Editora Ltda. / Ano: 1974 / Volume: Suplemento Número 7
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 22297

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Ninguém deve fazer tudo o que tem direito a fazer. Cada qual deve olhar para o que é útil e o que é benéfico para o seu irmão, para a sua irmã.
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